Mason não acredita no amor.
Ele não sabe exatamente quando passou a não acreditar nele.
Talvez tenha sido aos quatro anos, quando se deu conta de que estava sendo criado pelos tios e não pelos pais — estes cujo ele mal sabia o nome.
"O que há de errado comigo?"
"Por que meus pais não estão aqui?"
"Eles não quiseram ficar comigo?"
Ou, talvez, tenha sido quando seu melhor amigo do jardim de infância parou de andar com ele só porque os outros garotos o achavam esquisito.
"Por que é que ninguém aguenta ficar perto de mim?!"
"O que existe aqui dentro que faz todos quererem estar em qualquer lugar, menos aqui?"
Quando completou sete anos, sua tia lhe contou o "porquê" de seus pais não estarem com ele.
Mas este ato imprudente só piorou as coisas porque quando se tem sete anos você quer ter dez. Você quer saber de todas as coisas do mundo e não gosta quando te tratam como criança.
Ele lembra bem da voz de Lauren Sanders, sua tia, dizendo que os pais dele não estavam com ele porque estavam trabalhando com o papai Noel.
"Quantos anos ela pensa que eu tenho? Dois?! Por que é que ninguém me leva à sério?!"
Foi o primeiro surto de mal criação de Mason. Ele gritou em alto e bom tom que não era um idiota.
Naquela mesma noite, enquanto tentava dormir, ouviu Gregori Sanders, seu tio, brigando com a mulher.
— Papai Noel, Lauren? Quantos anos pensa que ele tem?
Ele sorriu. Alguém no mundo o entendia.
Foi a primeira vez que o coração de Mason ardeu... Ardeu de um jeito bom. Talvez, o amor existisse.
Quando completou dez anos, ele entendeu o porquê dos garotos da escola não gostarem dele.
Ele sempre usava camisas de dinossauros. E, aparentemente, isso era coisa de nerd, CDF, Geek ou como queiram chamar os garotos que são diferentes.
Foi Miranda, uma garota de uma série acima da sua, que lhe disse onde ele estava errando.
Ele fez cara feia quando ela disse. Não queria acreditar nela.
— Se gostar de dinossauro é coisa de nerd, então eu sou um. E as pessoas são só idiotas de gosto duvidoso!
Mas é claro que um garoto de dez anos diz isso para não ferir a si próprio. No fundo, bem lá no fundo, ele estava se perguntando mais uma vez o que havia de errado com ele.
O resultado disso? Mason parou de usar camisas, moletons ou qualquer outra coisa que houvessem dinossauros.
Mesmo reprimindo uma parte sua, sua infância até que não foi tão ruim depois disso.
Ele fez novos amigos. Os achava imaturos e burros, mas era legal ter com quem andar e ele não iria reclamar deles.
Mason conseguiu sobreviver ao Jardim de Infância e ao Fundamental. Alguns pedaços seus caíram pelo caminho, mas ele ainda conseguia sorrir.
O Colegial tinha tudo para ser a melhor época de sua vida: ele tinha vários amigos, cabelos louros, olhos azuis e era ótimo em esportes.
Entretanto, definitivamente, essa não foi a melhor época para o garoto.
Era a última semana de aula. Mason tinha acabado de ganhar o campeonato de basquete para a sua escola. Estava caminhando até sua casa com paços lentos e soltos. Tinha um encontro marcado para o dia seguinte. E estava usando seu par de tênis preferido. Tudo estava, pela primeira vez, dando certo pra ele.
E foi aí que toda a sua vida mudou, catastroficamente.
Ele cruzou a esquina e viu uma ambulância em frente a sua casa.
Parou de andar por alguns segundos, tentando assimilar o que estava acontecendo.
E depois, como a criança desesperada que ele foi um dia, correu em direção à ambulância.
E enquanto corria, também sabia. Sabia que quando descobrisse o que estava acontecendo nada mais seria como era antes.
Seu tio morreu dormindo enquanto assistia a um jogo de basebol na TV da sala.
Lauren o encontrou de olhos fechados com o controle remoto nas mãos.
Ela sorriu quando o viu. Ele sempre adormecia vendo TV.
— Não foi ao jogo do Mason, Greg... — ela disse dando a volta na poltrona e o abraçando por trás.
Diferente das outras vezes e dos outros abraços, Gregori estava gelado e Lauren não sentiu seu calor.
Foi nesse momento que a vida dela, também, mudou para sempre.
Mason começou a fumar naquelas férias. Ele já bebia de vez em quando com os amigos, mas, depois da morte de Gregori, álcool se tornou como água para ele.
Ele saiu do time de basquete e viu suas notas despencarem sem fazer nada a respeito, afinal, pouco importava.
Mason deixou de fazer coisas que não queria fazer, mas fazia para não ficar sozinho, como, por exemplo, aturar seus amigos idiotas. Ele não via mais aquela obrigação, que todos nós temos, em aturar gente ruim só pra socializar.
Diferente de antes, ele não se importava em estar sozinho. Na verdade, ele se tornou um bom amigo da solidão.
O ensino médio passou em câmera lenta pra ele. Parecia um pesadelo sem fim. Ele não suportava aquelas pessoas, aquele ambiente juvenil que, ao seu contrário, era carregado de vida.
Mason estava amargurado e cansado. E ele só tinha dezoito anos.
Amor? (Risada debochada)
O que é o amor?
Amor é o que faz um homem esfaquear a mulher por ciúmes? Amor é o que te faz gostar demais de alguém só para perdê-lo depois? Ele não sabia amar. Não assim. De nenhum jeito.
O fim do colegial foi recebido por ele como sua grande chance.
Ele finalmente pôde sair daquela cidade que odiava. Finalmente pôde arranjar um emprego qualquer e viver sua vida da forma como queria, sem ter que ouvir Lauren dando "pitaco".
Ele experimentou o gosto da liberdade e jurou que nunca deixaria ninguém tomá-la dele. Nenhuma garota, nenhum trabalho, nenhum momento. Seria Mason por Mason e alguns uísques por conta da casa.
Seis anos se passaram. Seis anos de muita revolta e muita história. Seis anos de mudança.
Mason deixou de transparecer frieza no olhar. Isso era decadente demais e nunca esteve em seus planos ser incrivelmente infeliz.
Ele sorri, ri e dança quando bebe pra mais.
Ele é mais gentil também. Por escolha, não por acreditar que é uma pessoa boa.
Ele gosta de viajar e até mesmo de conhecer gente nova. Gosta de ouvir as histórias que as pessoas têm a contar, mas nunca conta as dele.
É um segredo bonito que tentam desvendar, mas que ninguém consegue porque, convenhamos, por mais óbvio que seja, ele é um bocadinho indecifrável também.
Quer encontrar Mason? Procure-o em qualquer esquina durante a madrugada. Você o verá apoiado na parede com um cigarro na mão e um coração carregado de... Vazio.
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Uma História Sobre Recomeços
RomanceEste livro não é uma história de amor convencional que narra a vida de um casal perfeito composto por pessoas perfeitas em busca de um final feliz (e perfeito). Este livro fala sobre duas pessoas que perderam as esperanças e aceitaram a monotonia de...