chatear

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Mais uma semana se passou. Diferente dos últimos meses, ela durou uma eternidade.

O caminho até sua casa era lento e chato, como antes. As pessoas eram chatas e desinteressantes. Até a secretária do chefe o encurralando no banheiro não teve a mesma graça que teria há semanas atrás.

Engraçado... Ela fazia do mundo dele, um mundo mais interessante. Um mundo que, por natureza é difícil, mas que pode ser bonito e bem vivido. "Existe beleza no difícil" ela disse uma vez.

Sua mente não desligava. O passado estava sempre ali, acenando pra ele de um jeito assustador. E ele evitava olhar pra ele. Desviava do caminho. Tinha medo. No fundo, ainda era a criança assustada que se sentia perdida e abandonada.

E, além disso, a ausência dela incomodava.

"A mãe dela nunca vai ir embora de lá, não?" 

Se sentiu mal por pensar isso, mas era verdade. Só queria vê-la e entender o que estava havendo.

Foi por isso que foi direto ao apartamento dela quando saiu do trabalho naquela terça-feira.

Mesmo que, talvez, tivesse de conhecer a mãe dela, queria conversar. Vê-la, pelo menos. Senti-la. 

Que estranho.

Quando chegou ao saguão de seu prédio, quase entrou no elevador direto, mas queria, antes, se preparar. Foi até Timody e, depois de cumprimentarem um ao outro, perguntou:

— Você sabe me dizer se a mãe da Emma já foi embora?

Se já tivesse ido, perfeito. Se não... É, teria que se preparar para mais um momento estranho com a família dela.

— Bom, ela apareceu aqui há uns quatro dias, mas foi rápido. Parece que ninguém atendeu a porta, então ela foi embora.

Mason tentou disfarçar a decepção, mas era meio evidente. Todo o seu corpo entregava que ele estava confuso.

Agradeceu ao porteiro, ainda meio sem jeito. Olhou para o elevador. Pensou se devia... Lembrou dos olhos dela e quase foi. Mas se ela não atendeu nem a própria mãe, é porque queria ficar sozinha. Não queria atrapalhá-la. Talvez estivesse passando mesmo por um momento difícil. Talvez fosse como ele e optasse por enfrentar sozinha. Respeitaria sua decisão.

Foi embora.

E o caminho da casa dela até a dele nunca foi tão chato. Tudo estava chato. E diferente. Que droga! Era diferente porque ela era diferente e fazia dele diferente. Um diferente bom. Mas agora tava ruim. Porque ela não queria mais olhar pra ele.

E se estivesse chateada? E se ele realmente tivesse feito algo errado? Deu mais um motivo para a garota dos olhos de noite ficar triste?

Será que tinha ciúmes dele? Era mesmo, de fato, como seus amigos disseram? Não. Ele que era estúpido por cogitar acreditar neles.

Emma sempre foi um mistério e era a primeira vez que não dava pistas — ou chances — para que ele pudesse interpretá-la. Charada insolúvel.

Tinha mentido pra ele. Mentido sobre a mãe e mentido quando disse que tava tudo bem.

E se ela, simplesmente, tivesse cansado dele?

Parou de andar por um momento. Lembrou do que Jared disse.

Ela vai embora, garoto. Porque quer mais do que você pode dar.

Emma foi plena com Louis. Viveu uma história de amor enquanto Mason nem sabe se isso existia mesmo. Por que alguém como ela se contentaria com aquele resto de pessoa que ele era? Por que ficaria com alguém tão vazio e incapaz de sentir quando pode viver mundos de sentimento e emoção?

Ele não tem nada a oferecer. Talvez ela só quisesse transar e ter uma conversa boa com alguém. E teve isso. Até cansar. E agora estava indo embora porque queria mais. Como aquele estúpido taxista disse.

Que prepotência achar que ela estava com ciúmes quando, na verdade, é ele que não gosta nenhum pouco da ideia de perdê-la.

— Sai da frente! — uma adolescente gótica e mal educada disse trombando nele, ainda estático.

Voltou a caminhar.

Tinha quase certeza de que não cansaria dela. Era um certeza burra e irreal como aquele que diz ao namorado que estará sempre ali, quando obviamente não estará. Mas era uma certeza presente.

E sei lá... Se ele ao menos tivesse dito que não quer uma vida sem a voz dela como trilha sonora... Talvez ela tivesse ficado.

Que porre! Melhor esquecer tudo isso. Chegar em casa. Tirar a roupa ridícula do trabalho. Vestir as calças que gosta e a camisa que gosta. Ir ao bar. Beber muito e transar com duas garotas ao mesmo tempo.

Nunca precisou de nenhuma garota e não precisava agor...

Virou a esquina para chegar a rua de sua casa. E ela estava ali. Mexendo no celular enquanto o esperava, parada em frente a sua porta.

Ele não pôde evitar. Uma parte sua se alegrou.

Continuou andando. Ela estava com o uniforme do trabalho. Roupa de médica. Saiu correndo de lá, pois tinha pressa. Nem deu tempo de trocar de roupa.

— Em todos esses meses, essa é a primeira vez que vejo a senhorita Alihür com a roupa do trabalho.

Ela colocou o celular no bolso e o abraçou. Com pressa. Sem medo. Enfiou o rosto na camisa dele e se permitiu chorar como não fez naquelas semanas insuportáveis.

Mason nem conseguiu pensar em nada. Nos questionamentos ou lamentos que fazia há minutos atrás...

Só pensou nela e em tudo que devia estar passando com ela naquele tempo. Só a abraçou de volta. Com o cuidado que se tem quando você se importa de verdade. Como se quisesse dizer com os braços em volta dela que iria protegê-la de tudo que aguentasse.

— Eu senti muito sua falta...

Ela disse, secando as lágrimas e olhando pra ele.

— Vai acreditar se eu disser que também senti a sua?

Fez que sim com a cabeça. Riram baixinho e devagar, com suavidade.

— Vamos entrar. Não tem café, suco ou chá, mas eu posso te fazer um miojo...

Deu uma fungada por causa do choro e sorriu sem mostrar os dentes.

— Como eu recusaria esse pedido?

Uma História Sobre RecomeçosOnde histórias criam vida. Descubra agora