E nos dois meses que vieram depois disso ficou tudo bem.
A vida continuou. Simplesmente.
Mason continuou indo ao trabalho como sempre ia. Voltou de metrô pra casa todos os dias do mês. E tomou café da manhã na casa dela em quase cinquenta porcento das vezes em que dormiu com ela. Continuou fumando escondido no banheiro do escritório e continuou não sendo pego. Foi ver seus amigos e seus amigos foram vê-lo. Ficou muito bêbado e vomitou em seu banheiro enquanto Emma trancava a porta porque os vizinhos malucos dele estavam brigando na primeira sexta-feira do mês. Acordou com a maior ressaca dos últimos sete meses no sábado, mas foi mais fácil de lidar porque ela estava de ressaca junto com ele. Assistiu a um filme francês e achou uma droga. Comprou uma flor pra ela, mas não sabia o nome. Disse que lembrou dela na hora em que a viu. Riu quando ela respondeu que lembrava dele toda vez que via uma garrafa de vodca ou uma caixa de cigarros.
Viveu como sempre vivia. Mas diferente de antes.
Porque agora ele percebia coisas que não percebia. E pensava demais antes de dormir. E lembrava dela com mais frequência, quando via uma flor, por exemplo. E ficou difícil contar qualquer história recente sem citar o nome dela. Era sempre "Emma e eu" ou "Emma fez" ou "Emma disse" ou simples um "tinha acabado de sair da casa da Emma quando...". De algum jeito, ela tava sempre ali. E não era ruim. Na verdade, se pudesse escolher uma palavra para descrever o que era, escolheria "perfeito". Porque parecia certo. E era, de fato.
Não chorou mais após aquela noite, mas se pegou pensando na conversa que teve todos os dias que vieram depois daquele. E com certeza essa era a parte ruim porque foi disso que ele fugiu e agora era isso que ele vivia. Tinha plena consciência de que era, apenas, alguém que cresceu quebrando e quebrado permaneceu. Muita coisa faltava. Muita coisa nunca teve.
Mas pelo menos ainda se divertia. E ria mais. Bem mais. Alegria. Ela tinha voltado. E Emma lhe disse que se a alegria voltou as outras coisas também podem voltar.
Emma continuou trabalhando no mesmo hospital que trabalhava. Ia andando e voltava andando. Mas às vezes deixava seu prédio com Mason e às vezes deixava seu prédio sozinha. Continuou observando os prédios toda vez que saía de casa e viu aquela mesma janela solitária de luz acesa novamente. A diferença é que ela e Mason estavam bêbados então entraram no prédio, bateram na porta e esperaram alguém abrir. Mas ninguém abriu. Ela saiu com Jimmy em dois finais de semana e em um deles foi visitar o estúdio em que ele trabalhava. Seus pais também apareceram para uma visita. Ela lhes contou que estava com alguém e eles sorriram dizendo que queriam conhecê-lo. Por dentro, estavam agradecendo aos céus por alguém fazê-la tentar outra vez. E ela também estava. Pensava em como tinha sorte toda vez que ele sorria ou falava ou simplesmente respirava. Okay, ela pensava em como tinha sorte o tempo todo. Dormiu na casa dele algumas vezes e em uma delas estavam tão bêbados que ela passou vinte minutos tentando trancar a porta enquanto ele vomitava, entrava no banho e dizia "não abriram a porta daquele apartamento porque eram fantasmas". No dia seguinte teve sua pior ressaca, mas ele cuidou dela, então foi fácil de suportar. Aparou as pontas do cabelo. E continuou a prender a juba cacheada toda vez que ia limpar a casa. Percebeu que todos os cômodos da casa tinham o cheiro dele e que ele tinha mais roupas na casa dela do que na dele.
Foi quando percebeu essas duas coisas que se deu conta de que ele tinha ficado. E ela também. Era mágico.
Tudo parecia como antes, mas as lembranças doídas do passado estavam mais presentes. E suas culpas pareciam se atirar de todos os prédios por qual passava, caindo em cima de si e esmagando toda a tranquilidade que queria ter.
Mas isso fazia parte do processo e ela sabia disso.
Aprendeu a reconhecer as coisas boas. E a ser grata por elas. Como a alegria que permeava as paredes de seu apartamento e o fato de acompanhar toda a revolução que acontecia com seu Pequeno Príncipe.
Sentia que todos os gestos dele passaram a ser mais gentis e amorosos, mesmo que por vezes o pegasse com o olhar distante de quem tem muita dor enterrada no peito.
Um dia ele lhe deu uma flor. Era uma Orquídea Cattleya. Ele disse que lembrou dela na hora que viu.
Ela soube que estava apaixonada aí, não pela flor, mas por ele.
Simplesmente soube. Na verdade, confirmou suas suspeitas. Às vezes se pegava sendo óbvia. Observava-o dormir por mais tempo e ficava corada quando ele elogiava seu jeito de andar. Dava sempre um jeito de falar com ele e sentia saudade, muita saudade. Quando ele saía era a pior parte do dia mas quando ele chegava... Ah! Era como pisar no céu. Podia ouvi-lo tagarelar por horas e ele continuava sendo fascinante. Escreveu versos pra ele. Mas não os mostrou porque teve medo dele não entender. E medo dele não gostar. Dela e do poema.
Quando foi que voltou a ser uma adolescente?
E droga! Isso era um problema. Mas é um daqueles problemas que a gente apenas deixa acontecer porque a parte boa da situação ainda é bem maior do que o medo de não ser correspondida. Ela não era. E tudo bem porque entendia perfeitamente tudo que tornava Mason o tipo de pessoa que nunca diz eu te amo e que não acredita no amor. Ela conhecia a história dele.
Estava apaixonada. E não esperava. Nunca na vida poderia prever que se apaixonaria outra vez. E quando pensava, era impossível não imaginar um alguém extremamente parecido com Louis. Mason era diferente de qualquer pessoa que conhecia. Nunca se imaginou caidinha por um cara como ele, mas agora precisava se controlar para não despejar tudo aquilo que sentia em cima dele. Porque não queria que ele saísse correndo, assustado.
Eu só queria poder dizer tudo
que você é tudo
que eu nunca te procurei
mas que de certa forma
você é tudo que faltavame deixa cuidar
de você, amor
me deixa falar que
você é o ser mais bonito
e mais docilmente amargo
do planeta Terra
mesmo que isso seja mentira
pois eu não conheço todos os caras
e não tem como saber
ou compararmas pode ter certeza
que se eu conhecesse
cada um deles
eu ainda escolheria você
pois só você é você
e é só você que eu
queroentão deixa
deixa eu botar pra fora
todas as coisas bonitas
que você me faz sentirmas só deixa
se você não for sair correndo
porque eu não quero
ser algo assustador pra vocêeu quero pura
e simplesmente
que você
continue ficandoporque você ficar foi a melhor coisa que me aconteceu em anos.
Ela escreveu enquanto ele lavava a louça. Olhava pra ele para a inspiração surgir e fluir no papel. Deu certo. Mas era errado. Não devia escrever pra ele, devia ser apenas sua melhor amiga que fode com ele porque seria desperdício já que são tão bons nisso. Só isso. Nada mais. Não devia escrever nada. Nem sentir nada. Por que é que sentia? E como é que odiava isso ao mesmo ponto em que era grata? Ele a resetou. A despertou. Descongelou. Trouxe vida e tornou tudo melhor dentro do peito. Só era difícil saber que, em contra partida, ele não sentia nada.
— Ahhhh! — reclamou.
— O que foi? Bloqueio criativo?
"Quem dera!"
— É...
Deitou a cabeça no balcão. Riu de si mesma. Quando foi que voltou a ser adolescente?
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Uma História Sobre Recomeços
RomansEste livro não é uma história de amor convencional que narra a vida de um casal perfeito composto por pessoas perfeitas em busca de um final feliz (e perfeito). Este livro fala sobre duas pessoas que perderam as esperanças e aceitaram a monotonia de...