cicatrizar

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Nostalgia era saber de cor o caminho de volta pra casa.

O ônibus parou. As pessoas começaram a descer e pegar suas malas. Alguns saíam apressados, outros devagar e alguns eufóricos pela alegria de conhecer Minnesota. Independente da velocidade ou intensidade, todos se moviam, exceto Mason, congelado no assento azul.

Pegou o celular no bolso esquerdo da calça e procurou o contato da tia. Ele só precisava apertar o botão e ligar. Só isso. Avisar que em quinze minutos chegava. 

Mas enquanto as vozes de fundo se tornavam insignificantes, ele passou a se questionar se aquilo era mesmo uma boa ideia. Se não era melhor comprar a passagem de volta e fingir que essa viagem nunca tinha acontecido. Se não era melhor continuar se escondendo. Se não era melhor parar de cutucar o vespeiro.

Cancelou a ligação antes mesmo de acontecer.

Era uma criança medrosa. Odiava aquele lugar. Podia sentir a fraqueza e a vulnerabilidade entrando por suas narinas só de respirar aquele ar.

Pegou a mochila e saiu, finalmente. Acendeu um cigarro. Ah... Nicotina.

Soprou a fumaça como se tirasse de si todo aquele medo. Carregado de urgência. O sol esquentando seu corpo. Os olhos azuis presos no horizonte. Tudo ali era muito familiar. Principalmente aquela sensação de pequenez.

Uma garota branca de cabelos escuros fumava em uma das divisas do local. Também olhava para o horizonte, mas quando seus olhos encontraram o rapaz, sorriu e passou a olhar apenas para ele.

Ele não tinha notado a presença dela. Estava sentado na divisa oposta à sua, concentrado em seus batimentos cardíacos.

Mas a garota não disfarçava o olhar. Continuava ali, olhando pra ele de cima a baixo. Não demorou muito para caminhar até ele, oferecer um cigarro, descobrir seu nome e levá-lo para sua casa.

Ela conseguiu o que queria. Ele era lindo, misterioso e ela gostava desse tipo, assim, meio perdido.

Quando acabaram os dois fumaram juntos, sob os lençóis.

— Eu lembro de você. Era da turma da minha irmã no ensino médio.

Ele olhou pra ela, sem expressão. Começou a se vestir.

— O nome dela é Joan. Duvido que você lembre, mas vai saber, né?

Ele não lembrava mesmo.

— Não lembro.

A garota tirou os lençóis do corpo. Colocou o cigarro entre os peitos. Esperou que os olhos dele se voltassem a ela novamente e disse:

— Que tal uma tragada?

Ele sorriu. Ela era bonita. Gostosa. E queria uma segunda vez.

— Tchau, Nick.

Mas ela também não tinha o que ele queria. Mesmo sendo o tipo de garota que ele costumava procurar.

— Obrigado por me trazer até aqui. Tomei coragem pra uma coisa enquanto te ouvia gemer.

Ela riu. Alegre. Ele sorriu, travesso.

— Fico feliz em ajudar. E se precisar de ajuda um outro dia, me procura, tá? Trabalho na rodoviária, tô sempre lá.

— Quem sabe?

Ele. Ele sabia. Não a procuraria. Nunca.

Pegou sua mochila e saiu. Sem olhar para trás. E sem arrependimentos.

Nick acabou sendo mais importante do que ele pensou que seria. E era grato a ela por tê-lo feito perceber algumas coisas.

A casa dela não era tão longe de onde sua tia morava. Lauren não vivia mais na casa que Mason cresceu. Havia se mudado faziam alguns anos. Morava num lugar melhor. E ainda bem. Ainda bem. Porque não estava pronto para voltar àquela casa.

Uma História Sobre RecomeçosOnde histórias criam vida. Descubra agora