boiar

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Enquanto Mason se encontrava num redemoinho de lembranças e sensações pesadas, Emma relembrava as partes delicadas da vida na tentativa de encontrar algum motivo que a fizesse não desistir de tudo.

O dia estava ensolarado, mas era impossível ficar sem um casaco devido ao vento gelado. Emma gostava desses dias porque era a mistura perfeita de calor e frio.

Ela contou isso a Violeta, logo depois de chegar à casa dos pais. Passou o dia todo com ela.  Crianças traziam esperança e ela precisava disso.

Ensinou a sobrinha a jogar damas no piso do banheiro e prometeu que quando estivesse mais quente, elas brincariam de floresta encantada no jardim. Alimentou a tartaruga, Cesar, junto com ela e depois segurou a risada quando a garota pediu para que levassem Cesar para passear. O pior de tudo é que levaram mesmo. A tartaruga parecia alegre com toda sua liberdade.

O dia passou em câmera lenta, na velocidade de Cesar.

Depois de ver Mason entrando no ônibus, foi até a casa de Dillan, buscou Violeta e passou o resto da tarde na casa dos pais com ela.

Lembrou de como era fácil a vida de criança e como era bom quando os tios vinham brincar com ela, assim como ela fazia com a sobrinha naquele momento.

Por mais que por trás dos sorrisos e risadas que Emma deu nesse dia, ela escondesse um vazio gigante, era reconfortante saber que ao menos estava tentando. E que no meio de todo aquele universo sem sentido, ela escolheu a felicidade. Escolheu se permitir a ela. A abraçar com carinho tudo que viesse. Seja bom ou ruim. E é quando a gente se permite desse jeito que a felicidade encontra porta para entrar e se instala em todas as arestas da vida.

— Ela me lembra você — o pai disse a Emma, enquanto observavam Violeta ligando o vídeo-game.

Ela tirou os olhos da menina para olhar o pai. Lhe jogou um sorriso amigo. Sussurrou um obrigada. Continuaram a olhar a criança.

— Acho que é a forma como ela se encanta com o pequeno — ele continuou.

Emma engoliu em seco. Sabia bem onde o pai queria chegar.

— Lembro do dia que você passou horas no jardim, observando a forma como as formigas trabalhavam.

Riram. Emma sentiu os olhos arderem.

— Eu era uma criança curiosa.

— Você era alegre. Ainda é.

Fechou os olhos. Sentia-se tão decepcionada consigo mesma.

— Mas alegria não é suficiente. É, Emma?

O encarou. Não quis esconder o pânico que sentia. Seus olhos transbordavam pedidos de "por favor, eu não quero ter essa conversa".

Mas ela precisava. E ele sabia. Por isso continuou.

— Alegria é mais sobre a forma como tratamos o mundo.

Começou a andar. E, sem saber direito por que, ela o seguiu.

— E a felicidade é sobre como tratamos a nós mesmos.

Estavam no corredor.

— Pai, eu não quero...

— Você é uma garota ótima, Emma. Ainda é a pessoa mais gentil que conheço — interrompeu, delicadamente — É uma excelente médica mesmo sua mãe teimando em dizer que você deveria ser veterinária e eu, filosofa. É uma excelente irmã. Uma excelente filha. Uma excelente tia. E Jimmy diz que é uma excelente amiga.

Ela sorriu minimamente.

— Você é alegre e transmite alegria. Por isso escolheu medicina. Porque quer cuidar das pessoas. E isso é lindo. Poucas pessoas dedicam suas vidas para cuidar das outras.

Uma História Sobre RecomeçosOnde histórias criam vida. Descubra agora