inevitar

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Decidiram caminhar pelo centro. No elevador comentaram sobre o teto espelhado e chegaram a conclusão de que aquilo deveria ficar sobre a cama de um motel retrô e não no elevador. A porta abriu. Ela foi andando na frente. Segurou a mão dele para que o mesmo não ficasse para trás.

Mason gostava quando andavam de mãos dadas. E tinha motivos para gostar.

O primeiro motivo é que ele só havia segurado a mão de duas mulheres em toda a sua vida.

A primeira foi sua tia. Segurava a mão dele porque tinha medo que ele, criança levada, saísse correndo, se perdesse e se machucasse enquanto brincava de viver. Mal sabia ela que, conforme ele soltava suas mãos e passava a andar sozinho, mais perto estava de onde estava agora — se perdendo e se machucando todos os dias enquanto brinca de viver. Ela estava certa em se preocupar.

A segunda foi aquela primeira e última namorada que tivera, Andressa. Ela sempre segurava suas mãos. Às vezes até pedia permissão. Sabia que, de certa forma, ele não gostava do contato. Mas ele sorria e dizia "não precisa pedir, And". No fundo, precisava sim. Andressa estava casada agora. Ficou feliz quando soube que a garota tinha achado alguém que queria o mesmo que ela.

Agora ele segurava as mãos de Emma. Com naturalidade. Assim como foi da primeira vez.

Emma sorri pra ele enquanto andam. Ele continua pensando na primeira vez que os dedos dela se encontraram entre os dele. E o sorriso que ela lhe jogou só deixou a memória mais gostosa de ser relembrada:

Estavam esperando o metrô. Lembra bem porque Emma disse que gosta dos bondes de San Francisco mas que não se comparava ao amor que tinha pelos metrôs de New York. Mason perguntou se ela já havia estado lá. Ela contou que uma vez foi com o irmão. Que queria morar lá. Ele contou de suas viagens. Emma sorriu e disse que NY era a cara dele.

Foi aí que o metrô chegou. Mason relaxou o braço. Ela fez o mesmo. As costas de suas mãos se encostaram. Então em um movimento rápido ele segurou a mão dela, que se agarrou a dele com calma. Embarcaram. Ele disse que ela não alcançaria as barras para ficar em pé, se apoiando. Ela revirou os olhos e riu. Alcançava, sim. Mas decidiu continuar segurando a mão dele.

Saíram do metrô, mas as mãos não se soltaram.

Nessa mesma noite, depois de transarem, deram as mãos mais uma vez. Ela estava deitada em cima dele e observou com atenção o contraste de suas peles.

— Você parece delicado.

Soltou sua mão. Passou os dedos pelos pequenos e louros pelos do braço dele.

— Parece delicado até eu olhar teus olhos.

Juntou suas mãos outra vez.

— Parece frágil como um boneco de porcelana mas só quando tira toda essa armadura que tenta vestir.

Mason colocou a mão no queixo dela. Poderia ficar ouvindo todas as suas constatações eternamente.

— Mas nós dois sabemos que essa armadura pesada não faz parte de você.

O olhou.

— Você fica bem mais bonito despido.

Sorriram. E aquele momento jurou, por si só, durar para sempre. Agora mesmo, ele acontecia pela centésima vez nos pensamentos de Mason.

Ela o leu de uma forma que nunca ninguém nem havia tentado ler, pois sabiam que não conseguiriam.

O segundo motivo para gostar de ter as mãos junto às dela, é que era demais todas as sensações que o toque proporcionava.

Podia sentir quando ela se assustava, pois apertava a mão dele um pouco mais forte sem perceber. Podia sentir quando ela estava pensativa, pois se distraía e afrouxava os dedos. Podia sentir quando ela pensava nele, pois dava um jeito de acariciá-lo com o dedão. Essa última sabia que ela fazia propositalmente.

Os olhos de Emma diziam muito, mas as mãos conversavam bem também.

— Ei, cabeça de vento!

Olhou pra ela. A empurrou de leve com o corpo.

— No que está pensando? Parece que está em outro planeta.

Mason soltou a mão de Emma. E a olhou de um jeito indecifrável.

Ela semicerrou os olhos. E se fez dúvida.

Às vezes Mason fazia isso. Estava junto e do nada se afastava. Ela entendia. Pensava que talvez ele se acostumasse com a proximidade e quando se dava conta dela, fugia um pouco. Só pra não perder o costume. Mas não por proteção. Isso não. Não tinha como Mason ter medo dela. Medo de sentir algo por ela. Tinha? Começou a ficar assustada. Não queria perdê-lo. Não assim. Não por sentir coisas boas. Não por viver algo bonito. A gente só devia ir embora quando dói. E não doía... Doía?

— Em você — ele respondeu, finalmente, a pergunta feita.

Estava tudo bem. Ele não iria embora. Iria? Precisava confirmar.

— Não quer fugir? — perguntou como se fosse nada.

Mas, estranhamente, era tudo.

— Você vai comigo?

Ela sorriu.

— A qualquer lugar...

Entrelaçou os braços ao redor do pescoço dele. Se beijaram. Alegres. Estava tudo bem. Na verdade fazia tempo que não ficava tão bem assim.

E naquele beijo Emma pensou sobre todas as vezes que não deram certo. Sobre todos os caras que ela não conseguiu amar.

Alguns só queriam sexo. E ela deu isso a eles. Era fácil. Era só dar (literalmente).

Mas outros queriam ser amados. E ela nunca conseguiu dar-lhes tal sentimento. Porque era difícil. Porque Emma aprendeu que se é difícil de sentir algo bonito por alguém, ela não deve tentar. Então desistia. Toda vez. Porque sabia que não amaria e estava certa. A gente nunca ama quando tenta amar.

Talvez ela tivesse, como dizia sua mãe, se privado de tudo. Talvez ela nunca tivesse se permitido. Por medo, por descaso, por burrice... De qualquer forma, ninguém parecia interessante o suficiente.

Louis era tão fácil de amar. Não por ser o cara mais interessante do mundo — de fato não devia ser — mas por ser ele. Ela nunca tentou amá-lo. Só aconteceu. Foi inevitável.

Mas o inevitável nunca mais tinha aparecido.

Até Mason chegar.

Não que fosse sentir o que sentiu com Louis. Afinal, são pessoas e histórias diferentes. Nem ela é mais a mesma pessoa. Imagine só... Sentir a mesma coisa. Impossível.

Não queria sentir a mesma coisa. Queria sentir exatamente o que sentia. Aquele sentimento sem nome.

Não sabia se era amor, paixão ou um "gosto muito". Mas sabia e tinha certeza: era inevitável.

Uma História Sobre RecomeçosOnde histórias criam vida. Descubra agora