dançar

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Emma gostava de morar perto do trabalho porque podia voltar pra casa caminhando.

Podia ver gente, lugares, coisas. Podia pensar. E como era final de tarde e as ruas da avenida eram sempre cheias de gente, seus pensamentos não a dilaceravam por dentro. Não tinha silêncio do lado de fora, dando espaço para o barulho da mente ser ouvido.

Era sexta-feira e lá estava ela de novo, fazendo o mesmo percurso daquela noite. Diferente de antes, era final de tarde e não madrugada.

E por coincidência ou acaso, ela estava indo de encontro a ele mais uma vez. Só que dessa vez ela sabia o que a esperava.

Sorriu, com as mãos já dentro dos bolsos.

A gente nunca sabe quando alguma coisa vai acontecer e acabar com a rotina. Pensava muito nisso quando conheceu Louis: a gente nunca sabe quando, no meio do dia-a-dia, alguém vai aparecer pra mudar tudo.

Não que Mason tivesse transformado muita coisa ruim em coisa boa. Mas a vida estava um bocado mais leve e ela não podia negar. Ter alguém pra conversar depois de trabalhar o dia inteiro era uma das coisas boas da vida e ela sentia falta disso. E só percebeu que sentia falta quando ele chegou. 

Sem falar que Mason era divertido e a fazia rir muito. Era um ótimo amigo. Não perguntava nada que não quisesse realmente saber. Fazia perguntas por se importar e não por curiosidade. Tanto que até aquele momento não demonstrara curiosidade em Louis. Nem sabia que o nome dele era Louis.

Mas claro que ele não era como Jimmy, melhor amigo da Emma. Jimmy era doce, cheio de sentimento, insegurança e muita história. Ele e Emma tinham muita coisa em comum. Desde o interesse em filmes — ele era diretor de cinema e ela uma cinéfila assumida — até o fato de terem os corações partidos pela dor de não terem mais a quem se ama.

Jimmy a fazia esquecer do lado ruim também, mas Mason... Mason a fazia se enxergar colorida outra vez. Eles definitivamente não teriam a amizade que Emma tinha com Jimmy, mas isso devia-se ao fato de que eles não sabiam o que eram ou o que viriam a ser, mas eram, com certeza, algo além da boa e velha amizade.

O timing foi perfeito. Ela estava há metros de distância de seu apartamento quando o viu chegando, andando tranquilo, como se a rua fosse dele.

Parou em frente ao seu prédio e cruzou os braços, esperando o garoto chegar.

Estava tão bonito com o sol sobre ele. Pareceu o Pequeno Príncipe Drogado outra vez.

— Seus olhos estão mais escuros hoje? — perguntou ao chegar.

Segurou a cabeça dela com as mãos e selou seus lábios, rapidamente.

— Talvez os seus estejam mais claros.

Foram em direção à portaria, lado a lado. Emma acenou para Timody e Mason decidiu imitá-la. Se sentiu bem ao fazer isso.

O caminho até o apartamento passou voando. Quando deram conta de si mesmos, estavam deitados no sofá dela, grudados, olhando um ao outro nos olhos, conversando e selando os lábios quando a vontade não sabia esperar.

Uma das pernas dela estava entre as dele e sua mão esquerda o acariciava lentamente na nuca. Ele passava a mão repetidas vezes pela coxa dela, em forma de carinho.

Falavam baixinho. Às vezes falavam de olhos fechados, aproveitando que a luz estava apagada e não tinham a necessidade de manter os olhos abertos.

— Saiu mais cedo do trabalho hoje? Achei que iria ter tempo de lavar a louça antes de você chegar — ela disse observando as veias dos olhos fechados dele.

Uma História Sobre RecomeçosOnde histórias criam vida. Descubra agora