chorar

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Emma fechou a porta e se encostou nela. Ficou parada ali um tempo, olhando sua casa.

O apartamento não era grande.

A porta de entrada dava direto numa sala minúscula que só tinha um sofá, um tapete marrom e quadros na parede no lugar onde costumavam existir televisões nos outros apartamentos iguais àquele.

À esquerda da sala, tinha um balcão que fazia a divisão de sala/cozinha. Não havia uma mesa. Quando queria comer sobre algo plano sentava em um dos banquinhos de madeira que seu pai fizera e jantava no balcão.

A cozinha também não era grande coisa, na verdade era bem pequena. Tinha uma janela na parede da pia que tinha vista para o prédio de trás. Armários vermelhos e uma geladeira cinza. Era pequena e inteligente. Como Emma.

À direita da sala, existiam duas portas. Uma dava ao banheiro e a outra ao quarto dela.

Seu quarto era seu lugar favorito no apartamento. Era o maior cômodo e tinha todas as coisas que ela mais gostava.

As paredes eram da cor verde limão e o chão era de madeira falsa, em tom escuro. Sua cama era de casal — fora uma das poucas coisas que não jogara fora de seu enxoval  com Louis. Tinha uma mesinha de computador onde deixava o notebook e as caixas de som, um guarda-roupas quase da mesma cor da madeira falsa do chão e uma pilha de caixas enfeitadas — lá estavam as coisas de que mais gostava.

Emma se mudara para aquele lugar fazia um ano, devido à proximidade do hospital em que trabalhava. Ela tinha certo carinho pelo lugar, apesar de não ter vivido bons momentos suficientes nele para chamá-lo de lar.

Quando se mudou, sentiu-se só por um tempo (mas quando não se sentia?). Falta dos pais. Falta de Dillan. E falta de César, a tartaruga da família.

Mas foram passando os meses e, mais uma vez, ela se acostumou com a solidão.

Quando apertava demais e ela sentia que aquelas paredes iriam devorá-la, saía para dar uma volta na cidade.

Com o tempo Emma entendeu que ficar muito tempo sem fazer nada era deixar as portas abertas para a tristeza entrar.

Ela passou todos aqueles anos fugindo disso. Às vezes se rende. Não aguenta e chora. Às vezes grita, desesperada.

Foi pensando nisso tudo, ainda encostada na porta, que Emma se deu conta de que desde a morte de Louis, nunca mais havia estado em paz mentalmente.

— Droga.

Estava triste.

Não sabe como ou por que escolheu aquele momento, mas pensou em Louis, de um jeito que não se permitia pensar nos demais dias.

Lembrou do abraço quente e acolhedor. Do som de sua risada. Dos cabelos castanhos encaracolados. Das mãos dele sempre segurando as dela. Dos beijos, tão delicados.

Emma tinha lágrimas nos olhos.

Continuou a lembrar. Lembrou-se desta vez, porém, dela mesma. Do sorriso estampado no rosto. Da paz no coração. Da forma como estava apaixonada. O mundo era tão bonito com Louis. Ela era tão bonita com Louis.

As lágrimas foram aumentando.

Lembrou-se da voz dele. Lembrou-se dele dizendo o primeiro e o último eu te amo. Lembrou do primeiro encontro. Do primeiro beijo. De todas as primeiras vezes.

E das últimas.

Deslizou pela porta até parar no chão.

Lembrou-se de Louis rindo com os amigos, cheio de vida. Lembrou-se da formatura dele. E de todos os jogos de futebol que ele jogava enquanto ela gritava da arquibancada, sem medo de olharem rindo pra ela.

Uma História Sobre RecomeçosOnde histórias criam vida. Descubra agora