sentir

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Mason ligou pra ela quando a festa terminou. Perguntou se Dillan tinha ido embora. Ela disse que sim. Perguntou se estava tudo bem. Ela disse que sim. Mas era mentira. Perguntou se podia ir vê-la. E ela não soube o que dizer. Porque Mason nunca a tinha visto triste de verdade.

E naquele momento, enrolada entre as cobertas, ouvindo a voz dele pelo celular, pensando em toda a discussão com o irmão, ela estava triste.

Triste porque se sentiu julgada e invadida. Triste porque, por mais que fosse convicta de suas ideias, tudo que Dillan disse a fez pensar no assunto. E talvez ela quebrasse a cara no final. Talvez Mason enjoasse dela, não por foder outras garotas, mas porque pessoas cansam de pessoas. E ele, tão desapegado, por que ainda estava na vida dela? Quando cansaria? Quando enjoaria da rotina?

Droga. Se sentia tão estúpida. Tão boba.

Ela nunca se preocupou com isso. Nunca ficou receosa em perdê-lo. Depois de Louis, nunca mais havia criado receio em perder ninguém.

Algumas pessoas vão questionar o modo como você vive. E você vai pensar a respeito. Porque é assustador ver uma outra possibilidade da verdade. É assustador saber que, talvez, você esteja tomando a decisão errada. Mas a gente nunca sabe onde estão as verdades absolutas, não sabemos nem mesmo se elas existem. Só o que você pode fazer é ser honesto consigo mesmo e fazer o que seu coração manda.

Foi isso que Jimmy disse a Emma quando ela entrou em choque por não saber responder Mason, desligou o telefone e ligou para o melhor amigo. 

E foi isso que a fez relembrar do momento que viveu com Mason antes de discutir com o irmão.

Ela e Mason estavam conectados. E aquilo era lindo. E bom de sentir. Tudo bem acabar em algum momento porque até a sua história mais bonita acabou. Ela já era vacinada contra a dor de perder alguém. Ficaria bem se ele fosse embora, mas enquanto não fosse, permitiria a si mesma sentir toda a parte boa.

Sentir os dedos dele no seu rosto. Sentir os beijos delicados no pescoço. E a pele macia. Sentir o couro cabeludo entre seus dedos. Sentir a barriga doer de tanto rir. Sentir o toque leve das mãos dele quando seguram as dela. Sentir os pelos do braço arrepiando quando ele falar perto. Sentir saudade. Sentir o sorriso dele matando a saudade e ocupando a falta que sua ausência fez. Sentir tudo o que tornava a vida menos pior. Tudo que ele trouxe. E só trouxe porque ela nunca fugiu dele.

A maioria das coisas boas da vida acontecem quando você para de pensar demais e apenas vive o que tem pra viver.

Alguém bateu na porta. Jimmy mandou Emma desligar e ir atender. Talvez ele tivesse sentido que seria bom pra ela pra ver um rosto conhecido sem ser o dele na chamada de vídeo.

Assim ela fez.

O rosto molhado. Os olhos inchados. A boca vermelha de tanto pressionar os lábios.

Abriu a porta sem medo de que a visita visse toda sua tristeza.

Torcia pra não ser o irmão. Apenas isso. Não queria vê-lo naquele momento.

Mas era Mason. Ofegante e cansado devido a corrida que fez até o apartamento dela, mas ainda era Mason.

Não deu tempo para se explicar ou para que ela falasse. Apenas entrou e a pegou nos braços.

A abraçou forte, mas com ternura. Beijou seus cabelos uma vez. Fechou os olhos como se assim pudesse se teletransportar com ela pra longe.

Não sabia o que estava acontecendo, mas sabia que ela não ficava em silêncio por três minutos e depois desligava a ligação à toa.

Mais uma vez, estava preocupado.

E Emma, ainda agarrada a ele, começou o que Mason apelidou, tempos depois, de "falatório do desespero":

— Desculpa ficar insegura. A verdade é que eu tento ser uma mulher forte que não sente nada, mas eu sou uma adolescente que sente tudo à flor da pele. E às vezes não dá. Às vezes a insegurança toma conta de mim e a ansiedade fica pior que o Jimmy em seus dias difíceis e...

— Ei...

Segurou o rosto dela em direção ao seu. Passou os dedos sobre as lágrimas.

— Você vai me contar o que te fez pensar nisso tudo?

Ela fez que sim com a cabeça.

— Agora?

Fez que não.

— Quer que eu te abrace mais um pouco?

Fez que sim.

Riram os dois. Baixinho. E depois disso ficou mais fácil de existir.

Ele a pegou no colo. Foi com ela até o quarto. A deitou na cama. E ficaram ali, abraçados até que ela se sentisse confortável para dizer alguma coisa.

E Emma sempre começava com um pedido de desculpas.

— Desculpa chorar na sua frente. Eu realmente não queria que você visse isso. Não quero assustar você com tudo o que eu sinto.

Mason não conseguiu responder de imediato. Tudo por causa da última frase.

"Não quero assustar você com tudo o que eu sinto".

Faz sentido. É claro que faz sentido ela dizer uma coisa dessas. Ainda mais pra ele. Porque é isso que sentimentos fazem com Mason: eles o botam pra correr. Porque foi assim que ele escolheu lidar com as emoções. E Emma sabia disso. Talvez por isso estivesse tão arrependida de ter chorado na frente dele. Porque era como dizer "eu sou uma bomba atômica e vou explodir nas tuas mãos".

Mesmo que não quisesse, mesmo que sem querer... Ela não podia negar que, por mais que a vida tivesse sugado muito dela, ainda era uma pessoa sensível. Uma pessoa que deixou de chorar por filmes, mas que nunca parou de chorar pela vida. Emma tentava muito fugir de sua essência. Porque tem medo dela. Morre de medo. Medo de se afundar demais, outra vez. Medo de parar. Medo de se permitir demais à tristeza, de fazê-la virar rotina de novo.

E, de fato, Mason já fugiu de garotas sensíveis antes. Por medo da bomba atômica que eram, por medo de que explodissem na sua cara. Por medo de machucá-las também. Por medo de assistir suas explosões e, simplesmente, não fazer nada. Porque não sabia o que fazer. A vida nunca lhe ensinou a amar e proteger. A vida sempre lhe disse para correr e desistir quando as coisas ficavam feias.

Mas não agora, não com Emma.

Porque se ela fosse uma bomba atômica, ele seria um químico maluco que adora explosões. Porque era fascinado por todos os elementos químicos e pequenas partículas que a faziam ser o estouro que era. Se ela explodisse, na sua frente, estranhamente, saberia o que fazer. Porque no pouco tempo em que a observou, ela lhe ensinou muito sobre o amor.

— Eu não tenho medo do que você sente.

Estava de costas pra ele, enquanto ele a abraçava por trás.

— Não tem problema em sentir muito, Emma. Eu acho... Quer dizer que você está viva. E às vezes é só disso que você precisa pra continuar andando.

A coisa que mais gostava nela, era o fato de não estar morta por dentro. Como ele estava.

— A coisa que mais gosto em você é o fato de que você consegue sentir tudo.

A virou para ele.

— Olha pra mim.

Olhou.

— Não sei o que aconteceu. Não sei pelo quê você está pensando. Eu nem mesmo sei como dar conselhos. Os acho incrivelmente inúteis, na verdade. Mas eu sei que quero estar com você agora e ouvir a qualquer coisa que você disser. Porque... Bom, é estranho assumir isso. É estranho sentir isso. Mas eu... Bom, eu me importo com você. E eu gosto de você. E você sabe, Emma, isso nunca aconteceu antes.

E Mason não sabia se isso era bom. Se era ruim. Ou se, ao menos, significava alguma coisa — pra ela. Também não sabia dizer se ajudaria em algo. Mas sabia que precisava dizer. Por ele, não por ela. E estava dizendo. Porque, pela primeira vez em anos, Mason tinha alguma coisa no peito e aquilo não parava de crescer.

Uma História Sobre RecomeçosOnde histórias criam vida. Descubra agora