fugir

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E no resto daquela semana, evitou Mason. Quando ele mandava mensagem demorava pra responder e dizia que estava ocupada, que o trabalho tava difícil e que a mãe tinha ido passar um tempo com ela e por isso dedicava todo o seu tempo a sua companhia. Que seria "estranho" ele aparecer então era melhor esperarem.

Mason não tinha feito nada de errado. Na verdade, sentiu falta dele naqueles dias. Mas não podia, não se sentia preparada para olhá-lo nos olhos. Não conseguia dividir o mesmo cômodo com alguém que sabia lê-la tão bem e que talvez pudesse enxergar todas as coisas feias que, agora, ela sabia que tinha dentro dela.

No fundo, ela o evitava porque não se sentia mais suficiente pra qualquer coisa, quanto mais pra ele. De um dia pro outro se tornou estranho ficar sem roupa ou beijar alguém. Emma saíra dos trilhos e agora não podia receber ninguém em seus vagões. Queria ficar sozinha. Tão só que ninguém no mundo, além dela mesma, pudesse perceber tudo o que sentia.

Agora era assim que fazia. Escondia seus cacos. Por vergonha, medo, insegurança... Talvez até por preocupação, não quer cortar ninguém com eles.

Mas até o fato de se esconder assim a incomodava. Aquela Emma não faria isso, não agiria assim. Mas já não era essa garota. Era fria, sozinha e indiferente.

E se fosse pra vencer essa fase de merda, que vencesse sozinha como sempre fez — mesmo que não desse certo.

E, além disso... Suspirou, entediada, enquanto cobria o espelho do guarda-roupas com uma toalha. Ela gosta dele. Não quer que esse sentimento burro estrague tudo e tome conta de tudo. Não quer precisar dele. Não apenas por orgulho ou por querer ser independente, mas porque ele não gostava dela desse jeito também. No final, seria bom. Quem sabe tudo aquilo passasse.

Não conseguia nem gostar de si mesma. Como poderia gostar de alguém?

Abriu a janela. Apoiou a cabeça com as mãos e olhou pra ela, ali, parada no céu, escondendo uma de suas partes, sendo minguante mas nunca crescente, como ela.

"E se ele ficar chateado?! "

Se preocupou.

Mas não... Ele provavelmente nem tinha percebido que ela "sumiu". O erro de Emma era acreditar que era especial demais, quando, na verdade, só tinha uma conversa boa e sentava direito.

Talvez ele percebesse, sim, que ela estava diferente. E talvez revirasse os olhos ao ver seu drama. E aí iria embora pois nunca foi do tipo que perde tempo com os dramas das mulheres que fode. De nenhuma mulher ou homem, na verdade. De ninguém, nem dele mesmo. Por que perderia seu tempo com ela?

Droga, Emma! Por que tinha que ser tão insegura e estúpida? E daí que ele não se importa? Há alguns meses atrás você não ligava se as pessoas te queriam por perto então por que tem que ser diferente agora?

Paixão estúpida que vem e cega só pra depois ir embora e levar tudo de você. Paixão é suicídio quando não se está bem consigo mesmo. E Emma morria devagar.

(...)

Mason saiu com Clara para beber cerveja num bar ali por perto. Clara era a ex namorada de um de seus amigos. Se conheceram em Minnesota, na rodoviária, no dia em que ele decidiu tomar rumo para Los Angeles. Ela acabou por se tornar uma boa companhia. Era engraçada e muito diferente dele. Era atleta, jogava futebol de campo e postava fotos no Instagram com legendas do tipo "foco força e fé" enquanto exibia seu corpo atlético e agradecia a deus por suas conquistas.

Mason não acreditava em deus, assim como Emma. Mas Emma acreditava em um monte de outras coisas como em energia, carma e destino. Ele não acreditava mesmo em nada.

Clara lhe contava de seu último jogo e ele realmente tentava prestar atenção porque ela era uma garota legal, apesar das legendas. Mas não conseguia. Era quinta feira e fazia, sei lá, uma semana que Emma estava toda esquisita.

E ele não se preocupava se tinha feito algo errado ou magoado sua garota, mas sim se  estava tudo bem. Porque ela parecia melhor depois daquele dia e agora se escondia de alguma coisa. O que aconteceu? Do que ela se escondia tanto?

E se não tivesse acontecido nada? E se a mãe dela estivesse realmente lá e o trabalho estivesse realmente mais complicado nos últimos dias? Todo esse pressentimento ruim era apenas ele querendo atenção? Que ridículo! Quando foi que passou a precisar de alguém?

— Onde é que tua cabeça tá hoje, cara? — Clara disse passando a mão em frente aos olhos dele, numa tentativa de tirá-lo do transe.

— Garotas, Clara... Garotas! — riram —  Desculpa estar meio avoado. É que, parece que agora eu peguei essa mania ridícula de pensar demais.

— A síndrome de ser humano. Existe alguém que não faça essa merda?

E não é que foi nesse frase que ele pensou antes de dormir?

A síndrome de ser humano é pensar demais. E o assustador disso é que antes ele não o fazia e... Se fazia agora então quer dizer que, só agora, está de fato vivendo e não apenas existindo? Que só agora ele é uma pessoa?

Pegou o celular. Contou tudo pra Emma em algumas mensagens espaçadas e divididas.

Ela respondeu rápido, diferente dos últimos dias. Foi simples e espontânea como de costume. Entrou na vibe dele. Disse que ele sempre foi uma pessoa. Só estava desligado de algumas coisas.

"Emma sendo Emma" ele respondeu. Ela mandou uma risada. "Sinto sua falta, maluca" ele disse em resposta.

E depois refletiu sobre o que disse. Não era mentira. Sentia mesmo.

"Não vive sem mim... ai ai" ela falou em um áudio. E depois respondeu que sentia falta dele também, por mensagem.

Ouvir a voz dela foi suficiente. Iniciou uma ligação. E assim passaram a madrugada falando sobre aquela semana e tudo que tinha acontecido nela — bom, não tudo.

Não conversaram sobre o que, de fato, queriam saber e perguntar, mas uma conversa fútil e corriqueira foi suficiente naquele momento. Já era um alívio escutarem a voz um do outro.

É como ouvir sua música preferida depois de muito tempo. E só tinha passado uma semana.

Uma História Sobre RecomeçosOnde histórias criam vida. Descubra agora