Acordaram às onze e dezessete, ao som de uma gritaria que acontecia na rua.
Mason adormeceu sentindo o cheiro dos cabelos dela. Seus braços a abraçavam com carinho enquanto suas pernas se emaranhavam com delicadeza uma na outra.
Emma se agarrava a um dos braços do rapaz como se fosse um urso de pelúcia. Sentia seu calor, seu conforto, seu afeto. Era um momento realmente muito bonito de se ver, mas ainda mais bonito de sentir.
— Seus vizinhos sempre gritam assim de manhã? — ele perguntou com a voz rouca de quem acaba de acordar.
— Às vezes. — riram, ainda sem se soltar.
Ela virou o corpo pra ele. Notou que estavam ambos sem roupa, mas não se importou.
Ele a tomou nos braços mais uma vez. Ela sorriu, deitando a cabeça em seu peito.
— Bom dia, invasor de casas — disse, fechando os olhos.
— Bom dia, maluca que deixa qualquer doido entrar.
Uma maluca e um doido.
— Alguém chame o hospício — disseram ao mesmo tempo.
Ele se espantou. Ela, riu.
Mason não estava acostumado a sincronismo. Na verdade, parecia estar sempre em outra sintonia.
Por que com ela tudo era sempre tão diferente?
Ficaram de chamego na cama até a coragem dar as caras e a preguiça ir embora.
Ele foi tomar banho. Ela, decidir o que usaria em sua caça às flores naquela tarde. Decidiu usar um macacão jeans, camiseta branca e All Star preto nos pés. Ainda não estava vestida. Tinha tempo.
— Vou fazer o café — gritou para Mason.
— Emma! — respondeu simplesmente.
Ela, que ia até a cozinha, deu alguns paços para trás e olhou para a porta do banheiro.
— Vem cá — ele chamou.
Ela suspirou, fingindo que aquilo era um fardo, e entrou no banheiro.
Como esperava, ele estava atrás do box. Mason abriu uma fresta da porta de vidro e sorriu com o cabelo caindo no rosto.
— Vem tomar banho.
Ela cruzou os braços, rindo.
— Você não vai sair daí?
— Não.
Ficaram se olhando sem dizer nada por três segundos.
— Okay.
Tirou o pijama que colocara. Ele voltou para dentro d'água. Ela o seguiu.
A beijou quando entrou.
Os banhos de Emma eram momentos muito íntimos para ela. A garota tinha um amor especial em sentir a água caindo sobre si, de olhos fechados, apenas se deixando levar junto às gotas.
Mas ela sabia que aquele banho seria diferente do habitual. E gostou disso.
Ficaram um tempo ali.
Mason estava nas nuvens. Não se sentia tão bem desde que experimentara maconha pela primeira vez, aos dezessete.
Sentia alegria. E ele não era um cara alegre, talvez fosse até triste.
Toda aquela euforia, que ele não sabia de onde vinha, o fazia sentir vivo.
Ele sabia que tinha a ver com ela. E sentia-se grato. Queria agradecê-la mil vezes. Mesmo que daqui há algumas horas, a alegria passasse e ele voltasse a seu cubículo triste. Não seria culpa dela. E, de qualquer forma, ele vivia o momento. O momento estava a ser o seu diferente mais bonito.
— Eu fico me perguntando pra onde você vai de noite. Você sai e eu penso: lá vai ele.
Ele riu. Estavam comendo sobre o balcão dela. Torrada com geleia de morango e suco de maracujá.
— Um dia você vai comigo.
Ela mordeu a torrada, olhando pra ele. Seu silêncio disse que sim.
Ele segurou sua cabeça e a beijou de leve nos lábios.
— Vou ver minha mãe hoje. — ela contou após mastigar a torrada.
Emma estava apoiada no balcão, do outro lado. Estava vestida apenas com suas roupas íntimas, assim como ele.
— É? Visita de domingo?
— Tipo isso. Vou levar flores.
— Você é toda alternativa. Eu gosto.
Ela sorriu, como boba, de orelha a orelha.
— Você é um badboy. Acho que eu gosto também.
— Você adora. Se eu for até aí, você fica sem roupa de novo.
Ela riu, impressionada com a afirmação. Ficou vermelha. Ele estava certo.
— Se corou, é porque tô certo.
Certo de novo.
— Ah, Mason! — exclamou, ainda rindo — O que faço com você?
Ele a olhou de um jeito risonho. Ela entendeu. Riram mais uma vez e se beijaram.
Emma estava plena. Fazia tempo que não vivia algo tão gostoso. E não falava sobre o sexo, o que também fora muito bom.
Mas desde que Louis se foi, Emma nunca mais se sentiu conectada a alguém. Até aquele momento.
Ela sabia que não estava se apaixonando. Não era, paixão, a sensação.
Ela havia se apaixonado duas vezes na vida. Por Bob e por Louis. Bob nunca sequer a correspondeu e caiu no esquecimento. Louis evoluiu de paixão para amor e ali ficou.
Mason era diferente deles. Era apaixonante, de fato, mas não sentia aquilo. Emma ainda achava que jamais sentiria aquilo de novo. Talvez estivesse certa.
De qualquer forma, Mason era como sombra depois de muito tempo caminhando sob o sol quente.
Ele vestiu as mesmas roupas que usava quando chegou. Ela, a roupa que escolhera mais cedo. Despediram-se no elevador com beijos na testa.
Mason foi para casa, ficar um pouco no seu próprio mundo.
Emma foi caminhar por aí, à procura das flores.
Enquanto Mason caminhava em direção a sua casa, se deu conta de que aquele caminho — da casa dela até a dele — já havia sido feito antes muitas vezes. E concluiu que ainda o faria, do mesmo jeito e de trás pra frente, mais vezes. E faria isso porque queria voltar a ver a garota dos olhos da cor de noite.
Pensou nos olhos de todas as garotas que lembrava. Lembrou das piscadas, por vezes delicadas. Lembrou dos olhares. Muitos olhos. Os dela não eram os mais bonitos que já tinha visto. Os mais bonitos eram os de Cassandra. Verdes. Quase amarelos. Tinham manchas marrons que mais pareciam pinceladas de anjo.
Mesmo não sendo o par de olhos mais bonito do universo, ainda eram os olhos da Emma.
Lembrou do olhar que ela o jogou, pouco antes de deitar a cabeça em seu peito.
Mesmo não possuindo a capacidade de ler a mente dela, sabia que aquele também tinha sido um bom momento pra ela. Sentia reciprocidade em seus gestos. Reciprocidade sem medo porque não havia o que temer.
Mason não podia negar que ela estava sendo, sem dúvidas, diferente das demais. E que sentia algo. Não amor. Não paixão. Mas alguma coisa. Não precisava ter nome. Ele queria ver onde aquilo chegaria. Que loucura! Tinha sido só um final de semana.
Ele acordou ao lado dela aquela manhã, depois dela ter lhe presenteado com um sexo maravilhoso. Ele acordou ao lado dela porque dormiu com ela. E isso nunca tinha acontecido antes. Com ninguém.
Chegou em casa. Estava sozinho.
Mas diferente das outras vezes, a solidão havia dado uma trégua. E ele não se sentiu solitário.
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Uma História Sobre Recomeços
RomanceEste livro não é uma história de amor convencional que narra a vida de um casal perfeito composto por pessoas perfeitas em busca de um final feliz (e perfeito). Este livro fala sobre duas pessoas que perderam as esperanças e aceitaram a monotonia de...