voltar

12 1 0
                                    

Mason fez o miojo. Sabor feijão. Porque ela comeu dele na última vez que jantaram por lá.

Lhe assistiu comendo. Não tinha fome. E, na verdade, queria prestar atenção em todos os detalhes que seus olhos podiam perceber.

Queria entender tudo o que acontecia. Naquele momento. Nos minutos em que ela esteve sozinha, do lado de fora, esperando por ele. No dia anterior. E durante aquelas semanas esquisitas.

Emma, ao contrário do garoto, queria fingir que aquele momento não existia. Que ela não existia. Queria não existir. Por isso evitava olhá-lo. Era uma tentativa desesperada de parecer invisível.

Mas só fazia ele notá-la mais.

Odiava o fato do macarrão instantâneo ser daquele sabor. Porque tinham outros sabores na frente mas ele pegou aquele, justamente aquele. Porque ela tinha comido dele na última vez que jantaram na casa dele. E ele lembrou. Odiava o fato dele lembrar porque dava esperança de que talvez ela fosse especial (pra ele). E não era. Era uma falsa esperança. Ele só lembrou do sabor. Só isso. Do sabor. Não dela.

Estava toda de branco. E maquiada. Emma não usava maquiagem.

Talvez quisesse esconder algo.

"Mas o quê?"

Mason pensou, primeiro, no pior. E se alguém a tivesse machucado? Apertou sua própria perna sem perceber. Mataria quem tivesse feito isso. Okay, não mataria. Mas machucaria um pouco. E Emma não gostaria nada porque ela não gosta de violência. Mas mesmo assim ele faria. Porque doeu nele. Doeu tudo. Imaginar alguém tão maior que ela dando um soco pesado em seus olhos... Seus olhos da cor da noite. Machucaria muito. Mesmo odiando meter-se em brigas e agir feito um animal que não sabe conversar.

A olhou agora com uma preocupação gigantesca. Mas depois se acalmou. E pensou que talvez ela apenas não tivesse dormido direito. Ou foi um dia importante no trabalho e ela foi obrigada a se arrumar um pouco melhor. Talvez tenha saído com alguém, em um encontro chique num restaurante de luxo.

E isso fez sentido. Ela estava com outra pessoa. E estava triste porque se sentia culpada. Não queria magoar Mason.

Mas eles, Emma e Mason, não tinham nada... E ela merecia tudo.

Céus... Mason não podia dar tudo a ela.

Odiava ser um Zé ninguém. Um nada que não tem nada a oferecer. E o pouco que tem... Oh! Que patético. O pouco que tem, foi ela que deu.

Emma o olhou, finalmente.

— Eu não sei o que dizer.

Tudo bem, Emma. Ele também não sabia.

— Eu só sei que tá tudo uma droga. E eu sinto tudo e eu queria conseguir explicar pra você mas eu não sei por onde começar.

Mason levantou. Estava sentado na cama. Foi até ela, sentada na única cadeira da casa. Segurou suas mãos e a levantou. Beijou sua testa. Soltou o cabelo dela. Aquele penteado parecia desconfortável. E estava.

— Não precisa explicar nada. — fez carinho em sua nuca — Você não tá bem. Existe um motivo e talvez a gente fale sobre isso depois, mas... Agora. Agora você está aqui e eu espero que aqui ainda seja um lugar seguro pra você.

Quando ele falava assim... E mexia no cabelo dela assim... E olhava assim... Com aquele azul infinito... Ela só queria beijá-lo devagar. Os braços dele eram o lugar mais seguro da galáxia.

Mas, infelizmente, ela se sentia uma droga. E nem o lugar mais seguro do universo era confortável. Como se sentir bem em qualquer lugar quando você não se sente bem dentro da própria pele? Não dá pra sair dela. E não importa. Não importa o lugar. Você tá sempre dentro de algo ruim: dentro de você.

Uma História Sobre RecomeçosOnde histórias criam vida. Descubra agora