Quatro

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Encontro não marcado

A porta do carro é aberta e uma voz familiar me manda entrar. Mesmo imaginando quem possa ser, olho para o interior do automóvel para me certificar de que meus ouvidos não estavam me enganando. Não, meus ouvidos não me enganaram, é quem imagino. Mas acho estranho o que ela me pede e, um pouco assustada, pergunto:

— O quê? Por quê?

— Eu fiz você ficar me esperando e ainda te liberei muito tarde. — Sim, é a professora Marina e depois de uma pequena pausa, pergunta — Você não quer almoçar comigo? Ou, não sei, talvez um lanche?

Sorriu e entro no carro. Depois de uns dois minutos de um silêncio constrangedor, ela começa a falar:

— Então, você mora aqui por perto?

— Sim. Aos minutos de ônibus.

— Mas o ponto de ônibus já não passou? — Me perguntou um tanto curiosa.

— É que eu resolvi ir a pé.

E assim se resume a nossa conversa no automóvel. Alguns minutos depois, ela para em frente a uma cantina italiana. Ela entrega a chave ao manobrista e vai entrando no estabelecimento na minha frente. Senhorita Marina, além do típico salto preto, está usando um vestido social também preto, estilo tubinho, na altura dos joelhos, que deixa as suas curvas tão bem desenhadas. Ando ao mesmo tempo em que admiro essa linda mulher. Ela para e olha para trás, entendo que deseja que eu a acompanhe. Entramos no local e somos conduzidas a uma mesa, um rapaz nos entrega os cardápios e se afasta.

— Você gosta mesmo da cultura italiana, né? — Falo brincando.

— E você não? — Ela ri.

— Bom, gostar eu gosto, mas não entendo nada da culinária, senhorita — Falo apontando para o cardápio e fazendo careta — O máximo que eu sei é que pizzas são maravilhosas.

— Não se preocupe, com o tempo você aprende, mas por enquanto, eu escolho o que vamos comer. Pode ser? — Faço que sim com a cabeça.

Senhorita Marina faz o pedido e em alguns minutos o garçom chega com dois pratos de Fettuccine com cogumelos e avelãs. Além disso, traz um vinho cujo nome não me lembro. Depois de alguns minutos em silêncio, Marina me serve o vinho.

— Não vá contar a ninguém que estou te dando álcool. — Fala com um sorriso no canto da boca.

— Não vou. — Falo depois de tomar um gole.

— Então?

— É bom.

— E a comida?

— Boa.

— O lugar?

— Bom. E a companhia? — Pergunto olhando-a nos olhos. E depois de alguns segundos ela responde.

— Muito agradável. — Sorri.

Confesso que essa situação está muito estranha. Primeiro, porque a professora que conheci há apenas uma semana e que cuja principal característica é a rigidez e seriedade está almoçando comigo como se fôssemos amigas de longa data. Segundo, porque sinto minhas mãos tremerem a cada sorriso seu e, ao mesmo tempo, uma vontade enorme de tocar a sua perna por debaixo da mesa apenas para descobrir sua reação.

— O que você pretende fazer quando acabar o Ensino Médio? — Pergunta enquanto olha para o prato.

— Letras. — Digo a olhando.

— Que coincidência.

— Português e italiano. — Digo concluindo, mas nesse momento, ela junta as mãos e ri um pouco mais alto que o seu normal — O que foi? — pergunto um tanto envergonhada, com medo de ter falado asneiras.

Amar é Preciso | ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora