Trentotto

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Me pergunto por que alguém faria isso. Por que tirar e expor essas fotografias?

Depois de ver as imagens, deitada na cama, choro durante horas. Me sinto incapaz de tomar qualquer atitude, seja ela qual for.

Dona Antônia bate na porta e entra pedindo licença. Senta-se ao meu lado, como estou de costas e de olhos fechados, pensa que estou dormindo e, por isso, afaga meus cabelos carinhosamente com o intuito de acordar-me.

— Filha! — Ela me chama e acabo me virando — E esses olhinhos vermelhos, hum? Algum problema?

Amuada, faço que não com a cabeça. Ela sorri gentilmente. Puxa uma parte do cobertor e se deita ao meu lado.

— Estava no tribunal hoje, quando saí, havia diversas ligações perdidas do seu colégio...

— Não quero saber daquela escola hoje, mãe.

— Mas precisamos... O Fábio me ligou alguns minutos depois porque a diretora nos convocou para ir à escola amanhã... Devo me preocupar?

Embora a rigidez seja a palavra que melhor caracteriza a dona Antônia, nesse momento seus atos verdadeiramente maternais se sobressaem, e acabo abraçando-a como talvez nunca tenha feito. Quando sente as lágrimas molharem seu colo, ela me aperta ainda mais e pergunta o que está acontecendo e o que pode fazer para me ajudar. Quando tomo coragem para explicar-lhe, - sim, porque hora ou outra precisarei fazer isso, Bianca entra no quarto afobada e praticamente gritando.

— A Francisca me pediu em casamento. Casamento de verdade, com vestido e tudo... — Quando vê a mim e a dona Antônia na cama, diz um tanto sem graça — Desculpa, eu não... Está tudo bem? — Pergunta quando repara em meu estado.

— Bianca, você pode nos dar licença, por favor? — Dona Antônia se posiciona, já se irritando com a filha. Levanta-se da cama e vai para perto da porta, como se convidando Bianca a se retirar — Minha filha pode ficar fora dessa sua aventurazinha...

— Mãe, para! Se tem uma coisa que a Ana Clara não é, essa coisa é inocente como você pensa!

— O que você quer dizer com isso? — Como a mãe rigorosa que é, dona Antônia cruza os braços e intercala o olhar nas duas filhas. — Alguém vai me explicar?

— A Ana aceitou meu namoro com a Francisca, mãe, só isso. — Bianca responde na defensiva.

— Tudo bem... — Diz ainda desconfiada — Mas, de qualquer forma, Bianca, você pode nos dar licença? Estávamos conversando aqui... — Seu celular toca e ela faz uma cara preocupada quando lê o nome no visor — Uma das advogadas do escritório. Ela só me liga nesse horário quando há algum problema... Assim que eu terminar a ligação, volto para a gente terminar a conversa.

Dona Antônia me dá um beijo na testa e sai. No corredor, posso ouvi-la dizendo a advogada remarcar suas reuniões da manhã pois precisará resolver um problema particular.

Problema particular? — Bianca questiona intrigada.

Explico para ela sobre as fotos e sobre nossos pais precisarem ir ao colégio.

— Seja lá quem fez isso, é muito sem noção. Mas, vem cá, essa Melissa é meio sonsa, não? Se ela sabia que nada ia rolar entre vocês, não tinha motivo para te beijar.

E mais uma vez me ponho a explicar, mas dessa vez falando sobre a manipulação feita por Bárbara.

— Cuidado, está bem? A Francisca, outro dia, me falou que não gostava muito dessa Bárbara. Aliás, a Fran a chamou justamente de manipuladora.

Amar é Preciso | ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora