Dodici

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2 semanas depois – O sarau

Às vezes a vida nos conduz por caminhos nunca imaginados. Estes caminhos nos apresentam pessoas e até mesmo situações às quais não poderíamos sequer supor que algum dia seríamos apresentados. Há algumas semanas encontro-me exatamente dessa maneira. A sensação dessa descoberta, se é que assim pode ser chamada, deixa-me em um estado de contentamento puro. A pessoa nunca imaginada é Marina. A situação é esta em que estou sujeita neste momento: o coração por um triz de saltar pela boca. Quem diria que eu estaria tão exposta sentimentalmente. Para mim, essa senhora traiçoeira chamada vida trouxe Marina, no entanto, ela não veio só, há um pacote no qual outras pessoas e circunstâncias um tanto delicadas veem juntas. Dentre as pessoas, seu marido. Dentre as circunstâncias, ver a dona das madeixas ruivas tão feliz ao seu lado.

Quando me comprometi com esse coral meu intuito era me tornar mais próxima de Marina e isso, de certa forma, aconteceu. Tanto é que decidi que usaria esse evento como meio de mostrar-lhe o que sinto. Todavia, vê-la tão feliz com seu esposo faz-me pensar no papel ridículo a que estou me prestando. Quem eu penso que sou? Ou melhor, o que eu sou? Apenas uma garota estúpida que estava prestes a ter uma atitude mais estúpida ainda. Sim, estava, porque agora, na hora de realmente fazer o que prometi a mim mesma, sinto que é uma atitude equivocada fruto de um sentimento que é e sempre será unilateral. Minha mente foi pregando peças em mim, fazendo-me acreditar que havia afeição por parte de Marina, quando, na verdade, ela estava sendo apenas minha educadora e não pensava as mesmas coisas sórdidas que eu.

- Ana, vamos voltar. – Diz Melissa entrando no banheiro da escola e me puxando pelas mãos.

- Não, Melissa, eu quero ficar aqui um tempo. – Digo já me esquivando de sua mão.

- Não, você não vai ficar aqui. Ana, eu te falei que ela era casada e o marido dela sempre participa das coisas que acontecem aqui na escola. Sem contar que não vai adiantar nada ficar trancada aqui dentro.

- Não estou aqui por causa disso.

- Não? Sério? Então me diz por que você ficou paralisada quando os viu juntos? Por que veio correndo para cá? E por que não quer sair?

- Às vezes você é incrivelmente chata. – digo massageando as têmporas com a mão esquerda.

- Sou chata mesmo, "incrivelmente chata", como você mesma acaba de dizer, mas só sou porque você está merecendo. Vamos voltar ao pátio, daqui a pouco todo mundo vai ser encaminhado ao teatro e tudo isso acaba. Sem contar que você disse que tinha feito ao especial, né? Eu quero ver o que você vai apresentar.

- Não quero mais apresentar. – A única reação de Melissa é franzir cenho e cruzar os braços – É isso mesmo, Melissa. Perdi a vontade. Vou para casa.

- Tudo isso por que você os viu juntos?

- É porque a coisa especial que eu preparei é para Marina. Ok? – acabo por soltar tudo de uma única vez – E agora eu não estou mais no clima. Quero ir para casa.

- Não acredito. Outro dia você me disse que estava tentando controlar o que sentia, mas parece que não está tentando porcaria nenhuma.

- Desculpa, tá bom? Mas essa coisa que estou sentindo não é tão simples de controlar. Eu realmente tentei, mas não deu. E agora eu quero ir para casa. – digo isso e algumas lágrimas começam a rolas pelo meu rosto e sinto Melissa me abraçando.

- Ai, não chora. Desculpa, eu não queria fazer você chorar. Eu sou muito estúpida. Agora para de chorar, senão você vai ficar com rosto todo inchado e vai ficar horrível nas fotografias do evento.

- Já disse que não vou mais participar. – digo desfazendo o abraço.

- Vai sim. E eu estarei sempre com você. Inclusive te apoiando enquanto você recitar o que preparou para Marina.

Amar é Preciso | ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora