Dieci

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Francisca vai desabotoando a minha camisa, quando está nos últimos botões, jogo minha cabeça para o lado e vejo Marina com aquele seu típico olhar de desaprovação. É nesse momento que impeço a loira de continuar.

— Qual o problema? — Me pergunta pesarosa.

O problema é que Marina começou a rondar meus pensamentos, minha mente brinca comigo.

— Isso não podia ter acontecido. — Digo sem graça, já em pé e abotoando a roupa. — Eu não tinha pensado na senhora desse jeito e agora estamos aqui...desse jeito.

— Quero estar "desse jeito" desde que te vi toda sem jeito querendo falar com Mari...

— Olha, a senhora é muito linda, mas isso não poderia ter acontecido. Oh, meu Deus. — Começo a andar de um lado para o outro; uma mão na cintura e outra na testa. — Isso foi muito errado.

— Ana, está tudo bem. — Diz se aproximando.

— Não, não, não. Fica aí, se você chegar perto isso vai acontecer de novo e nós não podemos.

— Será que você pode me falar qual é o problema?

— A gente só não pode. De jeito nenhum... Eu... Eu namoro. — Minto o porquê de meu nervosismo e ela olha-me incrédula — É verdade. Eu não posso fazer isso com ele.

— Ele? — Faço um gesto afirmativo com a cabeça — Você o beija desse jeito? — Pergunta insinuante, aproximando-se mais.

— Acho melhor eu ir. — Digo já pegando a minha bolsa que se encontrava no chão.

— E isso responde a minha pergunta. — Diz com um sorriso malicioso nos lábios.

— Francisca, o que eu acabei de fazer com meu namorado foi errado... E essa também foi uma aproximação muito rápida. Eu realmente preciso colocar a cabeça no lugar. Me desculpa.

— Está tudo bem, Ana... Bom, eu te levo até a sua casa.

Digo para Francisca que não é necessário que ela me leve em casa, mas ela é bem mais insistente. Com isso, temos um caminho resumido em silêncio e quando finalmente chegamos em frente ao meu prédio, Francisca estaciona o carro.

— Eu não queria ter te forçado. Me desculpe. — Diz olhando para frente

— Não precisa se desculpar, você não me forçou a nada. Eu fiz porque quis, mas eu percebi o quão errado isso é... — Após alguns segundos em silêncio, volto a falar — Francisca, posso te fazer uma pergunta pessoal? — Olha-me nos olhos e assente com a cabeça — Com quantas alunas você ...?

— Nossa, por essa eu não esperava. — Um pouco menos assustada com minha pergunta, Francisca pensa um pouco e diz finalmente — Bem, foram duas, mas já faz muito tempo. Uma quando eu tinha por volta dos trinta anos e outra aos quarenta.

— Você gostava delas?

— Eu as amava, mas foram embora. Foram construir uma vida na qual, segundo elas, eu não poderia fazer parte. E hoje em dia, não tenho mais notícias.

— Eu lamento muito. — Digo pegando sua mão que agora encontra-se apoiada no banco do automóvel.

— Não lamente. — Diz tirando sua mão do apoio para segurar a minha com mais firmeza. — Bom, mesmo que eu não queira, acho que isso — faz um gesto com as mãos no espaço existente entre nós duas — acaba aqui, não é? — Faço que sim com a cabeça — Então, até mais. E não se preocupe, você não sofrerá represálias na escola por causa disso.

Com os dedos, vou percorrendo seu braço até chegar aos seus ombros, para em seguida parar em seus lábios. Seus olhos que ora são verdes, ora são azuis, fecham-se, enquanto seus lábios ficam levemente afastados. Como que por impulso, eu beijo-os carinhosamente. Minhas mãos seguram firmemente sua cintura, enquanto as dela brincam com meus cabelos. No entanto, afasto-me de sobressalto.

Amar é Preciso | ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora