Sette

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Depois daquele episódio na quadra, Melissa e eu tomamos uma advertência por chegarmos atrasadas e somente fomos liberadas para entrar em sala no segundo tempo. Assim que nos acomodamos em nossos lugares e os demais alunos encontram-se distraídos, disfarçadamente pergunto à Melissa:

— Qual é a do selinho?

— Não é como se eu estivesse apaixonada por você, Machado, se é isso o que você pensa. — Fala brincalhona — Sei lá, eu tenho essa mania de dar selinho nos meus amigos quando eles estão desabando.

— Eu não estava desabando.

— É verdade, né? — Irônica — Você ainda está. — E vem fingindo que me dará outro selinho.

— Sai para lá, Melissa. Não é você quem eu quero beijar. — Falo rindo.

— Ana, você... — Séria, tenta falar, mas a interrompo.

— Para. Sério. Olha, já te falei, eu gosto de "você sabe quem" — Não falo o nome de Marina com medo de que algum dos alunos nos escute — e eu não posso mudar isso, mas eu não tentaria nada com essa pessoa por causa da nossa... situação, mesmo se ela não estivesse em um relacionamento. Eu não sou idiota. Eu só queria aproveitar esse sentimento, mas você cortou a minha brisa... Agora eu realmente espero que esse sentimento passe. Só isso e mais nada.

— Eu não cortei a sua brisa, só não queria que se machucasse. Ah, vamos chamá-la de Voldemort. É mais fácil de falar do que "você sabe quem".

— Você é cruel sabia? — Falo num tom de brincadeira — Você tem essa carinha de inocente e amável, mas é cruel.

— Às vezes a vida nos obriga a ser cruel — Diz sendo dramática.

— Oh, será que ela viu o selinho? — Apenas pergunto isso para que minha consciência entenda que Marina não viu esse bendito selinho.

— Sei lá. Acho que não. Se tivesse visto ela teria nos mandado à diretoria.

— Por causa de um selinho? — Pergunto por não acreditar que um professor possa levar um aluno à diretoria por causa de algo tão simples.

— Ela já mandou gente à diretoria por menos que isso. Acredite em mim, ela é uma ótima professora, mas, também é osso duro de roer. Oh, mudando de assunto, a nossa professora de Artes já está na escola e tudo indica que teremos aula com ela nessa semana.

— Ahh, sei, ouvi uns meninos babando enquanto falavam como ela era gostosa. — Digo rindo.

— E eles não estão exagerando. Sério. — Rindo, ela se arruma na carteira e volta a olhar para o seu caderno.

Poucos minutos depois, o professor entra em sala. Sinceramente, a minha mente vaga por entre a revelação feita por Melissa e meus sentimentos por Marina que somente crescem. E conforme esse crescimento gradativo, aumenta também a minha angústia e tristeza. Tudo seria mais simples se nunca tivesse mudado de escola. Porque assim eu não conheceria Marina, não sofreria como sofro nesse instante. Eh, se antes eu ansiava por sentimentos avassaladores, agora apenas quero esquecer tudo, tudo isso.

As aulas vão passando devagar, consumindo aos poucos os resquícios da vontade que estou de ficar nessa escola, principalmente hoje, principalmente sabendo que terei aula com Marina. Essa, que por mais que eu queira, não sai dos meus pensamentos.

Quando dou por mim o sinal toca anunciando o término da quinta aula e o início da aula de Marina. Ela chega na sala séria, como sempre. Deposita seu material em sua mesa e inicia a aula sem ao menos cumprimentar os alunos. Essa aula, assim como as próximas que terei com ela ao longo do ano, será torturante.

Amar é Preciso | ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora