Sei

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Chego na escola alguns minutos mais cedo que o normal e dou de cara com Melissa sentada em um dos bancos do pátio. Antes que ela pudesse me ver, noto que parece um pouco estranha, apreensiva; estrala os dedos e bate com a ponta do sapato no chão. Quando se dá conta de que estou me aproximando, fica branca, se levanta rapidamente e vem ao meu encontro.

— A gente precisa conversar! — Diz apenas isso e me puxa pela mão, não me permitindo falar nada. Assim que chegamos na quadra de esportes, ela solta minha mão, se senta na arquibancada e volta a realizar os mesmos gestos de poucos instantes atrás; estralar os dedos e bater com a ponta do sapato no chão.

— Melissa, está tudo bem?

— Comigo sim, mas com você, eu já não sei. — "Oi? Como assim?", penso.

Faço uma cara de quem não está entendo patavinas, e ela abre sua bolsa e tira meu caderno de dentro. Sim, aquele mesmo caderno que eu havia a emprestado no dia anterior.

— Ok. Agora que não estou entendendo nada mesmo.

— Ana — Faz uma pausa enquanto abre o caderno e o entrega a mim — Isso é sério?

Não acredito. Como eu sou burra. Como eu esqueci isso aqui. Eu deveria ter jogado fora no mesmo dia. O que há no caderno? Nada mais, nada menos do que aquele "poeminha" que eu havia escrito no caderno no segundo dia em que vi a Marina.

Fico em silêncio olhando para o caderno. Não sei o que responder. Depois de alguns longos segundos Melissa fala:

— Então? — Sua voz parecia preocupada. Sinceramente, eu não estou entendendo a Melissa, porque eu já tive amigos e amigas que se apaixonaram por seus professores e a reação de seus colegas sempre foi de gozação e deboche, não de seriedade e preocupação.

— Bom, não é como se eu estivesse cometendo um crime, é? E o que você quer que eu fale? Que eu confirme? Se é isso o que você quer, beleza: Eu gosto da professora Marina. Qual é o problema? Por que todo esse alarde?

— Tem uma coisa sobre mim que você ainda não notou. — Faço uma expressão de interrogação e ela continua séria — Eu conheço a Marina há mais tempo que você e sinto que isso vai dar merda. Ana, gosto de você, não quero que você sofra por causa dela. Porra, você é linda, sabe disso, né? Poderia estar com um cara ou até mesmo uma mina super legal e...

— Melissa, para de me enrolar. Fala logo. E por que eu vou sofrer? É só uma paixonite boba — Minto.

— Mesmo que seja uma paixonite, como você diz, eu não quero que você sofra — Ela pausa, segura minhas duas mãos, olha para o chão, respira fundo e torna a olhar nos meus olhos — A Marina é casada. Ela é casada há pelo menos uns vinte anos e tem até uma filha.

Não, isso não é verdade. Não. Ela não pode ser casada. Se fosse, eu teria notado a aliança no dedo e ela também teria mencionado o marido. Teria, não é mesmo?

— Para de brincadeira besta — Falo sorrindo, embora meus olhos já estejam marejados.

— Não é uma paixonite, né? — Faço que não com a cabeça. As lágrimas começam a escorrer pelo meu rosto em grandes quantidades e Melissa me abraça forte — Era esse o meu medo. Me desculpa, mas eu precisava te falar antes que você... bem, fizesse alguma besteira, como falar para ela que você gosta dela.

Depois de um longo tempo abraçadas, desgrudamos nossos corpos, mas ficamos de mãos dadas.

— Não tem como não se apaixonar por ela, né? — Ainda chorando, confirmo com a cabeça — Ela é realmente linda. Oh, mas você se apaixonou muito rápido. — Diz sorrindo — Mas vamos combinar que é meio masoquista da sua parte... Se você tivesse a conhecido quando não era tão chata, teria se apaixonado no primeiro dia.

Mal sabe a minha amiga que foi exatamente isso que aconteceu.

De repente, com os rostos já próximos devido as nossas testas que estavam encostadas, Melissa me dá um selinho e fala que vai ficar tudo bem e nos abraçamos novamente. Alguns segundos depois ouço alguém se aproximando. É Marina. Será que ela viu o selinho que Melissa me deu?

Nós recebemos uma bronca por estar em um local sem permissão. Ela está furiosa. É óbvio que o que estávamos fazendo era errado, mas eu não entendo o motivo dessa raiva toda, ainda mais sabendo que ela havia sido super legal comigo no dia anterior. Bom, talvez ela esteja decepcionada por ver que eu, que pareço certinha, e Melissa, que era a melhor aluna da classe, estávamos quebrando as regras. Mas ainda assim isso tudo é estranho.

Quando estou saindo da quadra, olho para Marina e penso em como eu estou sendo estúpida. Ela é casada e isso basta para que eu deixe de pensar nela.

Amar é Preciso | ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora