Trentaquattro

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O bichano negro parece não querer desgrudar de mim. Sigo para a cozinha com ele em meus braços e um sorriso no rosto, mas este se desfaz quando pego Marina e Ricardo juntos – ambos de costas para mim. Ele aperta sua cintura possessivamente e beija sua nuca com volúpia.

Ver tal cena embrulha meu estômago, no entanto, antes que ânsia de vômito se torne mais forte, Marina tem uma reação, não física, mas verbal, que chega a me assustar, pois nunca a vi gritar dessa maneira.

— Ricardo, eu já falei inúmeras vezes: Não me toque. Não force algo que nunca existiu e nunca vai existir.

— Qual é o seu problema, Marina? — Posiciona em sua frente e diz alto.

Mas ela não se deixa abalar pelo tom de voz do esposo. Furiosa, bate as mãos na pia e lhe diz diretamente nos olhos:

— O problema é que estou viva e cansada dessa situação ridícula em que nos encontramos.

O bichano salta dos meus braços e eriça os pelos em direção àqueles que discutem. O seu forte chiado chama a atenção dos dois que olham na direção em que ele é emitido.

Tamanha é a surpresa de ambos quando não veem apenas o gato raivoso, mas também a adolescente que presenciara toda a cena.

— Ana Clara! — Ricardo mantêm-se ao lado de Marina e me sorri, age como se nada demais houvesse ocorrido — Fico feliz em te ver, filha. Parece que a Bárbara gosta mesmo de você porque ela não costuma convidar os amigos para vir aqui.

Apesar de tudo, Ricardo parece me estimar, porém ouvi-lo me chamar de filha não é algo muito agradável se parar para pensar um pouco e, para piorar, essa não é a primeira vez que faz isso.

Apenas assinto e antes que possa dizer algo, Marina sai do seu posição imóvel, pega o gato que ainda está enraivecido e sai pela porta de serviço. Nem ao menos dirige a palavra a mim e isso me deixa um tanto desconsertada.

— TPM — Ricardo fala se referindo a Marina. Olha ao no pulso e se dirige a mim — Vou buscar a minha cunhada no aeroporto, a Bárbara também vai, quer vir junto?

— Não, obrigada. Vou fazer companhia para a professora Marina.

— Tudo bem. Fique à vontade, daqui a pouco nós voltamos.

Assim que Ricardo deixa o cômodo, respiro fundo e vou na direção em que outrora Marina foi.

A encontro encostada contra uma parede da área de serviço. Com os olhos fechados e as mãos a acariciar o bichano que agora está mais calmo. Fico ao seu lado e tento puxar uma conversa:

— O Ricardo e a Bárbara foram buscar a sua irmã no aeroporto.

— Desculpe. — Diz após um suspiro.

— Por quê?

— Por ter feito você presenciar aquela cena... Me sinto envergonhada por você ter me visto naquela situação.

— Mari, não há motivos para me pedir desculpas. A Babi me falou para te procurar na cozinha... Eu que peço desculpas, não tinha ideia de que seu marido estaria lá.

— Você está chateada comigo?

— Chateada por quê? No início eu fiquei com ciúmes, mas depois vi que você não estava gostando da situação. Só fiquei preocupada com uma coisa... O Ricardo já te forçou a alguma coisa? Ele já te machucou?

— Não, jamais. Ele tem esses momentos de raiva, mas nunca levantou um dedo contra mim.

O bichano ronrona quando Marina faz um carinho mais profundo em seu pelo.

Amar é Preciso | ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora