Ventuno

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Durante a noite mal consegui pregar os olhos. No início da tarde eu estava tão feliz porque Marina me daria aulas e depois tudo pareceu desmoronar. Quando quer, dona Antônia é fogo e não abre mão daquilo que deseja. Mesmo que meu pai tenha afirmado que eu teria minhas aulas, a verdade é que se minha mãe disser que não, a vontade dela é que se concretizará.

Eles — Marina e meus pais — se conhecem, seja lá como isso se deu e há anos, segundo meu pai disse. O que me martela a cabeça é a mesma duvida fixa: O que aconteceu entre Marina e dona Antônia?

Na noite passada, antes de deixar o meu quarto, papai me pediu que, logo na manhã do dia seguinte, eu avisasse Marina sobre a conversa e que esta deveria ser ainda no mesmo dia. Além do mais, é melhor que eu fale com Marina logo mesmo, pois assim a tal estagiária, Marcela, não estará por perto para atrapalhar.

Chego ao colégio no mesmo horário — antes da maioria dos alunos — e bato na porta da sala dos professores tendo como intuito falar com Marina e deixá-la ciente do que dona Antônia cobra.

Oi, meu anjo — Francisca abre a porta e a fecha em seguida. — Tudo bem? — Me dá um abraço bem apertado. — Já tem um tempinho que a gente não conversa, hein?

Oi, Fran. Tudo bem sim. Já tem um tempo mesmo, tenho estado meio ocupada.

— Eh, eu imagino a sua ocupação — Fico vermelha com o que ela me diz e a situação fica ainda pior quando ela me sorri maliciosamente — E agora vai ficar mais ocupada ainda, né? Aulas particulares! Arqueia uma das sobrancelhas, mas mantém o mesmo sorriso.

Ela te contou? — Pergunto envergonhada.

Claro. Aliás, vocês estão juntando o útil ao agradável, não é? — Diz baixo para que os poucos docentes dentro da sala não a escutem. — E agora, provavelmente você quer falar com a Mari, né?

Engraçadinha. Chama a Marina, vai. — Antes de entrar na sala solta um "Eu sabia" e fecha a porta logo em seguida. Instantes depois, Marina surge e me sorrindo.

— Vamos à biblioteca, pois será melhor para conversarmos.

— Ela não está fechada nesse horário? — Sorri e levanta um molho. — Ok, entendi.

Em silêncio, subimos as escadas que dão acesso ao segundo andar e percorremos até o final de um dos corredores. Marina seleciona uma chave do molho e rapidamente a porta da biblioteca é aberta. Com passos ligeiros, entramos na grande sala, a ruiva tranca a porta e encosta-se nela.

— Bom dia, Marina. — Digo estando posicionada um pouco mais afastada.

— Bom dia, Clarinha. — Após realizar a saudação, Marina usa o dedo indicador para que eu me aproxime dela e assim o faço. Usa os braços para enlaçar meu pescoço, enquanto meus braços se fixam em sua cintura, aproximando, assim, nossos corpos — Sentiu a minha falta? — Sorriu e respondo afirmativamente. — Não é o que está parecendo, meu bem. — Franzo o cenho e ela me sorri maliciosamente — Não se esqueceu de me dar nada? — Entendo do que se trata e sorrio por ter sido tão lerda para me dar conta do que ela falava. Marina me dá um selinho demorado e depois me conduz até um dos corredores, a sessão de filosofia. Ela me prensa entre seu corpo e uma grande estante. Suas mãos seguram as minhas com cerca força — Eu senti a sua falta — Diz antes de avançar em meus lábios. Suas mãos se afastam das minhas, mas não do meu corpo, pois passam a explorar a região do meu abdômen.

Por mais que eu esteja amando cada sensação que seus toques que causam, não posso, não consigo esquecer que ainda estamos na escola, que alguém pode estranhar o fato de termos vindo à biblioteca e a mesma encontrar-se fechada.

Amar é Preciso | ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora