Trentatré

6.5K 434 195
                                    


A semana seguiu e, por mais absurdo que possa parecer, anseio cada vez mais participar dessa reunião familiar na casa de Marina. Talvez esse anseio seja porque apenas nos vemos esporadicamente no colégio, damos um sorriso, um bom dia e só.

Quanto ao voto de castidade, ela falava sério. Seríssimo. Fui em sua casa na sexta-feira e o máximo que me permitiu foi lhe beijar. Beijos maravilhosos, que me excitavam, mas quando eu tentava avançar, ela me barrava.

Não há culpo por querer me punir, afinal eu fui uma cretina. Uma maldita bêbada cretina. Mas, o que ela espera com isso? Que eu fique subindo pelas paredes? Fiquei mais de dezessete anos sem sexo, posso perfeitamente ficar por mais dezessete. Oras, só porque ela tem aquele cheiro inebriante, aquela pele macia, aqueles cabelos sedosos, aquele sabor... Ah, só porque ela é toda linda, não significa que eu não consiga manter minha libido sob controle.

Melissa chamou-me para dar umas voltas por Sampa e sabendo que isso me fará pensar menos sobre o bendito voto de castidade e me entreterá, concordei. Melissa dormiu em minha casa na noite anterior para que saíssemos e aproveitássemos o sábado por inteiro e juntas.

Dez da manhã e já estávamos em frente ao Conjunto Nacional, rumando a Livraria Cultura. Ali ficamos por cerca de três horas e gastamos bem mais que o devido – o que costuma acontecer quando vou a esse local. Quando passei pelos livros de literatura italiana, foi impossível não pensar em Marina e acabei comprando-lhe um livro que, certa vez, ela disse ter interesse em ler.

Almoçamos no Restaurante Magnólia e minha amiga fez questão de cobrir todos os gastos porque era uma "cavalheira". Depois disso fomos ao Parque Trianon, que fica próximo ai restaurante; ouvimos um grupo que cantava músicas da Jovem Guarda e caminhamos lentamente por toda aquela extensão verde.

Quando o fim do dia se aproximou, Melissa sugeriu que viéssemos ao Parque do Pôr do Sol. Sugeri outros visto que, dado o horário, o parque estaria bastante movimentado porque as pessoas normalmente vêm aqui para, bem, ver o pôr do sol. Mas ela foi irredutível (porque, segundo ela, esse parque é o mais romântico da cidade) e cá estamos.

— Estou com fome — Deixo no ar quando um vendedor ambulante de algodão doce passa próximo ao local onde nós duas estamos deitadas.

— Doce não é comida. — Ela bate em minha coxa desnuda e a pele fica vermelha. Dou-lhe um empurrão e ela se afasta rindo.

— Sua bruta! Vai me deixar marcada agora? Virei o que agora, saco de pancadas?

— Te deixo toda marcada sim, mas só se a professora Marina não ficar sabendo.

— Vai comprar meu algodão doce, vai. Senão nem olha mais na minha cara.

Entorta os lábios, me olha pensativa, chega bem perto do meu rosto e, para minha surpresa, aperta minhas bochechas com violência e sai correndo aos risos.

As bochechas estão ardendo? Claro! Bendito dia em que dei liberdade para essa garota. Se bem que...ganhando meu algodão doce está tudo bem.

Meu celular toca quando me deito novamente na grama. Sorrio quando vejo que recebo uma ligação de "M <3". Me sento e atendo a chamada do modo mais provocativo possível.

— Já está sentindo minha falta, professora? — A última vez em que nos falamos foi na noite anterior quando trocamos algumas mensagens.

— Alô, Ana Clara. Aqui é a professora Marina. — Estranho seu tom polidamente formal.

— Tem alguém por perto, né?

— Exatamente. — Como imaginei — Peguei seu número com a Bárbara. — Babi nem sonha que Marina tem meu número bem antes dela.

Amar é Preciso | ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora