Ventinove

6.5K 457 192
                                    

— Que brincadeira é essa, Bárbara? — Se dirige com raiva a filha, mas o olhar fica preso em mim — Para que me afrontar desse modo? — Encara Babi com um misto de raiva e tristeza.

— Que saco, Marina. — Ela levanta um tanto irritada — Você é a única que ainda insiste em ficar me chamando assim. Qual é a merda da dificuldade de falar Babi?

— Filha... — Ricardo a repreende e no mesmo instante ela deixa o semblante mais calmo. — Já conversamos sobre isso.

— Desculpa. — Se dirige ao pai e depois se volta a Marina a fim de respondê-la — Há semanas eu disse que estava apaixonada pela Ana Clara. Eu disse que não desistiria dela independente do que você pensa. Eu a amo, Marina. Eu a amo e nada do que você disser vai mudar isso.

— É muita petulância...

— Chega, Marina. — Ricardo diz firmemente ao mesmo tempo em que também se levanta — As meninas se gostam e estão juntas há dois meses. Mais um dos seus chiliques por conta disso enlouquecerá a Babi e a mim. Então, chega.

Ele reclama mais alguma coisa e diz para que todos nos dirijamos à sala, já que o prato principal foi de encontro ao chão quando Marina deixou a bandeja cair. Ele se prontifica a limpar o local enquanto vamos à sala.

Seguindo as ordens do Ricardo de deixar o local, uma vez desviado o olhar de Marina, não consigo nem mesmo mirá-la por um instante. Embora ainda haja dúvidas quanto ao que está acontecendo, para mim é claro que, se Marina terminou comigo, é em função desse "namoro" que Babi inventou.

É somente na sala onde olho para Marina novamente. Ela se senta num sofá e Babi e eu num outro paralelo. A ruiva cruza os braços com cara de poucos amigos e vira o olhar para uma parede lateral.

Após alguns minutos que mais parecem horas, Ricardo entra na sala sorrindo e se senta ao lado da esposa. Praticamente ignorando que acabou de acontecer na sala de jantar, ele começa animado, dizendo estar feliz por a filha amar alguém; e mais, por esse alguém ser filha de uma amiga querida. Quase posso sentir o nojo que Marina sente ao ouvir as palavras dele.

Num certo momento, Babi segura minha mão que está sobre minha perna e começa a fazer carinho. Olho para Marina engolindo a seco. Quando ela nota onde a mão da filha está, levanta-se irritada.

— Eu não sou obrigada a compactuar com isso! Não aprovo isso. Não quero que namore a Ana Clara. Acabou!

Ricardo chia alguma coisa, mas Marina apenas deixa a sala. Ele, por sua vez, pede desculpa às suas "filhas" e diz que conversará com a esposa. Não demora para que ele siga pelo mesmo caminho que Marina.

— Não diz nada, Ana Clara. Vamos ao meu quarto e conversamos.

Controlando a vontade de arrancar-lhe os cabelos, a sigo sem nada dizer. Assim que chegamos em seu quarto, dou de cara com um belíssimo e enorme gato preto sentado sobre sua cama. Irritada, Babi segura o bichano violentamente, berra impropérios e o joga para fora do cômodo.

— Só Marina para gostar dessa maldita bola de pelos.

Faço do estômago coração para desprezar o fato dela ter maltratado o gato e foco apenas na grande mentira em que ela me envolveu.

— Abre a boca! Por que fez isso comigo? — Digo rispidamente — E eu espero que a sua desculpa seja muito, mas muito convincente.

— Foi você porque percebi que você gostava dela. Qual é? Ninguém defende professor. Eu percebi também que Marina se importava com você, caso contrário não teria aceitado te dar as aulas de italiano e também não teria se dado ao trabalho de te levar até sua casa quando a Gabriela fez aquele auê. — Respira fundo como se organizasse como prosseguirá — Você gosta da Marina e ela, inacreditavelmente, estava se dando bem com uma aluna. Eu estava feliz por saber que essa aluna era você, Ana Clara, porque você é lésbica. Se a Marina gostava tanto de você, apesar de ser homossexual, pensei que ela não surtaria quando eu contasse que também sou.

Amar é Preciso | ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora