Ventiquattro

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O restante do final de semana passou rapidamente e tudo foi maravilhoso. Na ensolarada manhã de domingo, Marina e eu passeamos pela praia, tomamos uma água de coco, curtimos cada instante. Ela não me falou sobre suas inseguranças e eu tampouco e isso permitiu, de certa forma, que nosso entrosamento melhorasse ainda mais. A cada minuto em sua companhia, Marina me falava de um gosto, um hobby e eu me encantava ainda mais, coisa que eu já julgava ser impossível.

Na viagem de volta, pedi o número de seu telefone, para que conversássemos quando a saudade batesse, mas fui surpreendida ao saber que ela não possuía um aparelho celular e que não pretendia comprar um tão cedo, afinal era uma coisa que ela acreditava ser desnecessária para si. Porém, após muita insistência de minha parte, ela disse que pensaria com carinho no assunto e que eu seria a primeira pessoa a saber caso ela comprasse.

Chegamos em São Paulo por volta das duas da tarde. Minha mãe me recebeu no saguão do prédio e me bombardeou de perguntar. Queria saber se eu estava bem, se havia me alimentado, se, excluindo do temporal de sábado, algum imprevisto havia ocorrido. Sua preocupação excessiva até mesmo acalentou meu peito.

Além de acalentar-me o peito, minha mãe, na hora em que eu já me preparava para dormir, me surpreendeu ao dizer que não era mais necessário que acompanhasse Bianca em seu estúdio. Já estava fazendo as aulas de italiano e isso era o suficiente, pois meu tempo livre deveria ser dedicado aos meus estudos e bem-estar. Me espantei com sua atitude que para mim era extremamente repentina, mas não discuti, apenas agradeci.

Passadas pouco mais de três semanas desde o nosso final de semana no litoral, a minha relação com Marina parece ter se fortalecido. Nos segundo e terceiro sábado de estudos, fui a sua casa. Aquela casa que estava passando por uma pequena reforma e que eu já conhecia. Naqueles sábados, realmente estudamos, mas, além disso, também nos amamos. No quarto sábado, o foco foi o estudo, já que o fizemos numa biblioteca pública da cidade, a Biblioteca Mário de Andrade, porém, carícias, sempre que possível, eram trocadas. Já no colégio, apenas duas vezes nos encontramos e foi também na biblioteca. Queríamos nos encontrar mais vezes, mas o universo parecia conspirar contra, pois, além de Marina dar aulas durante a maioria das tardes, alguns funcionários da Secretaria de Educação estavam fazendo algumas inspeções, o que dificultava qualquer tentativa de encontros escondidos. Nem tudo são flores.

Aliás, como nem tudo são flores, certa vez, Marina e eu discutimos e o motivo tem um nome: Melissa. A professora Francisca propôs um trabalho que consistia em representar alguma cena romântica presente na sétima arte, mas havia um porém: A cena romântica deveria ser feita com uma pessoa do mesmo sexo. Sua proposta geral muitos protestos, tanto dos alunos, quanto da direção, mas Francisca estava decidida e não abriu mão da atividade. Eu, obviamente, não vi problema algum com o trabalho e quando Melissa sugeriu que o fizéssemos juntas, concordei. O problema surgiu quando, depois do horário de aula, Melissa e eu estávamos ensaiando no pátio e Marina apareceu justamente numa parte muito sugestiva em que Melissa e eu estávamos muito próximas. Ela passou por mim como um furação. Me ignorou durante todo o dia e somente consegui falar com ela na manhã seguinte, onde expliquei-lhe o que sucedera. Bufando, aceitou o que lhe dizia e me pediu apenas para não ficar tão próxima de Melissa, mas isso foi algo que não concordei e jamais concordaria. Melissa é uma grande amiga e não vou me afastar por causa de um ciúme bobo e sem fundamento.

Nossa amizade, aliás, era algo que também parecia se fortalecer. Melissa é uma menina encantadora e com o convício descobrimos muitos gostos em comum. Durante à tarde, pegamos o costume de sairmos juntas e andar pela cidade, ora com um destino certo, ora apenas para bater perna e conversarmos.

Babi era outra. Qualquer dúvida que eu possuía a respeito de sua amizade foi aos poucos sendo extinguida. Ela é louca, isso não posso negar, mas sua loucura é na verdade uma alegria contagiante e eu já não consigo me ver sem tê-la ao meu lado. Tal como Bianca, Babi é para mim como uma irmã.

Amar é Preciso | ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora