Diciassette

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Sexta-feira chegou e com ela a minha vontade de ver a dona dos cabelos avermelhados. Na noite passada, demorei a dormir pensando nela e assim que acordei meu pensamento foi automaticamente direcionado a ela. É uma sensação estranha, porém muito agradável. De vez em quando me sinto uma tola, pois um sorriso, aparentemente sem motivo, sempre surge em meu rosto. Só hoje me perguntei umas três vezes, se eu causo as mesmas coisas em Marina.

– Sabe quem eu acabei de ver? – Melissa me pergunta ao retornar do banheiro durante a troca de aula.

– Acho que não, né? – respondo rindo.

– Francisca. Sabe, já estava com saudade daquela mulher. Ainda bem que ela voltou, a professora substituta era meio sonsa. Sem contar que seria muito injusto se ela saísse da escola por causa do idiota do seu ex.

– Eu sei de tudo isso, viu? Não precisa ficar me lembrando. – Começo a escrever algo no caderno, mas Melissa volta a falar.

– Ué, pensei que você iria falar com ela agora.

– Se eu for atrás dela para conversar, com certeza vão ficar falando coisas. Depois eu faço isso.

Tento parecer tranquila, porém, a verdade é que quero muito pedir desculpas a Francisca. Imagino o inferno que essas duas semanas devem ter sido para ela. Ela não beijou sozinha, não errou sozinha e não cabia ao George decidir contar o que houve entre nós aos outros. George. Aparentemente ele me deixou em paz. Não o vejo desde o dia do sarau e espero que continue assim. Não tem feito falta, ao contrário, sua ausência é a certeza de que posso andar tranquila.

Tranquilidade é só isso que preciso para agora. E essa tranquilidade só será completa quando tiver a certeza de que Marina está comigo. Não estará por inteira, claro, devido a sua e a minha situação, mas ainda assim, se ela estiver comigo, estarei tranquila e feliz como nunca fui. Penso nas pessoas que com certeza serão machucadas, mas apenas vislumbrar a felicidade ao lado dela faz-me esquecer de todas as consequências que nosso possível envolvimento acarretará.

– E esse sorrisinho ai?

– O que? Ninguém está sorrindo aqui? Coisa da sua cabeça.

– Sei. Coisa da minha cabeça, claro. Esses dias você estava tristezinha, agora aparece rindo feito idiota.

– Já te disseram que às vezes você é incrivelmente chata?

– Já e foi você. – responde rindo.

Assim que ela conclui, a professora de Língua Portuguesa mais bela entra na sala, mas não sozinha, uma mulher, com aparência de vinte e cinco anos, a acompanha. Todos os alunos vão para seus lugares e ficam se calam. Entram na sala rindo de algo, mas logo param para depositar seus pertences em cima da mesa da professora. Antes de se direcionar ao centro da lousa, Marina dá um sorriso de canto de boca em minha direção. Sinto uma sensação muito boa, mas não só isso, eu sinto também Melissa me cutucando.

– O que é que está acontecendo aqui? – ela me pergunta com o tom de voz baixo, quase cochichando.

– Do que você está falando?

– Gente – fala com seu tom autoritário na minha direção e na de Melissa – silêncio. Um pouco de respeito, por favor. Essa é Marcela – indica com a mão a moça que a acompanha e ela sai de perto da mesa e vai de encontro a Marina – Marcela é estagiária, não a assustem, pelo amor de Deus. – alguns alunos riem com o comentário – Bom, ela começou hoje e vai ficar comigo toda quarta, quinta e sexta-feira. Caso vocês tenham dúvidas na disciplina, podem consultá-la.

Marcela parece ser bastante tímida, pois ficou com a pele ruborizada ao ser apresentada à turma. Seus cabelos curtos e cacheados parecem harmonizar com sua estatura baixa e corpo esguio

Amar é Preciso | ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora