Ventotto

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Não demoro a sair da sala dos professores. Embora ainda que a raiva de tudo o que está acontecendo me aflija, saio tranquilamente da sala. Vejo a diretora Edith perto de sua sala, sorrimos uma para a outra e sigo o meu caminho em direção a minha turma.

Depois de explicada a situação a Melissa durante o intervalo, ela parece não crer no que digo. Ou melhor, dizendo, crê e a sua indignação com as atitudes de Marina é visível.

— Eu não acredito que ela fez isso!

— Fala baixo! — Repreendo-a por estarmos na biblioteca e porque alguém poderia ouvi-la — Olha, só estou te contando porque não quero mais esconder nada de você, está bem? Mas fala baixo.

— Desculpa. E o que você pensa em fazer?

— Como assim fazer? Não vou fazer nada.

— Você deveria, sei lá, conversar com seus pais sobre o que está acontecendo. Lógico que você não vai dizer que estava pegando a Marina, né? Mas... ah, sei lá.

— Primeiro que não faz sentido eu falar com meus pais sobre isso. Segundo que por algum motivo minha mãe e Marina já se conheciam e se odeiam ou qualquer coisa do tipo. Se elas não se bicam, eu não vou aumentar ainda mais isso e...

— Espera, elas não se gostam? Por quê?

— Então, eu não sei. Eu perguntei algumas vezes para a Marina, mas ela se esquivava, então deixei pra lá.

— Você é lerda, hein, Ana Clara?

— Lerda? Do que você está falando?

— Não disse que é lerda? — Balança a cabeça negativamente — Não estou querendo passar a mão na cabeça da Marina. Longe de mim querer fazer isso, aliás. Mas pensa comigo, se elas não se dão bem, talvez isso tenha colaborado para esse término repentino, não?

— Não, isso não faz sentido, Mel.

— Pode ser que eu esteja errada, mas para mim faz muito sentido. Sabe como você pode descobrir se foi isso mesmo? — Levanto as sobrancelhas como um sinal para que ela prossiga — Perguntando e obtendo respostas. Coisa que você deveria ter feito assim que descobriu que elas se conheciam e mais, que não se gostavam.

— Eu pensei em fazer isso, mas fiquei com medo de dar muita bandeira.

— Tem esse risco mesmo. Mas tenta ser sutil quando perguntar.

— Mel, eu nem quero mais pensar na Marina. Também não quero ficar fuçando o passado dela e da minha mãe. Só quero esquecer isso. Ela me deu um pé na bunda e era questão de tempo para ela fazer isso. Eu apenas não queria aceitar.

Embora queira realmente apenas deixar isso para lá, a dúvida fica pairando sobre minha cabeça. Talvez uma pergunta aqui e ali não seja algo tão ruim assim... Não, preciso esquecer isso.

Ao longo do dia faço o possível para não me esbarrar com Marina, o que surte efeito. Quero ver conseguir fazer isso por um semestre. Já sinto falta do seu cheiro, do seu beijo... Da sua companhia. Não deveria, é certo, mas, para meu tormento, a raiva e a falta que sinto dela parecem se misturar.

Quando a turma é dispensada, vou com Melissa rumo à saída, mas, para minha surpresa, dou de cara com Francisca num dos corredores. Abraça a Melissa e eu e nos "prende" por alguns poucos minutos. Realmente foram poucos, mas como Melissa teria algum compromisso no período da tarde, se despediu de nós duas. Como que aliviada pela saída de Melissa, Francisca me chama para conversar mais reservadamente. Acabo concordando. Talvez conversar com ela me distraia um pouco. Instantes depois, o mais discreto possível, saímos do colégio em seu carro e paramos um barzinho não tão distante.

Amar é Preciso | ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora