Sedici

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Não a via há pouco mais de uma semana. Durante os dias que correram, não sabia o que aconteceria no momento do reencontro, porém sabia que ele aconteceria uma hora ou outra. Não sabia o que esperar. Minha mente foi criando possíveis situações no momento em que a veria; em algumas delas pensava que Marina me tomaria em seus braços e em outras, na maioria delas inclusive, pensava que seria rejeitada, que ela me diria que caiu em si que tudo isso é um erro.

Agora, vendo-a em minha frente é impossível decifrá-la. O fato é que me ver deixou-a desconsertada. Percorro o corredor, indo em sua direção e ela continua da mesma forma, parada. O estranho é que suas típicas roupas sociais, hoje foram substituídas por uma calça Jean preta apertada e uma camisa de manga longa na cor nude, além, é claro, do seu salto alto. Quando finalmente estamos perto uma da outra, olho para trás rapidamente para ter certeza que ninguém está nos vendo ou que possa escutar nossa conversa e, após confirmar que não, volto meu olhar para ela.

– Bom dia, Ana Clara. – Ela me diz após alguns segundos.

– Bom dia, Marina.

– Professora. – franzo o cenho e ela prossegue – Aqui dentro é professora Marina. Por favor, vamos manter, pelo menos, o mínimo de formalidade exigida.

– Me desculpa, eu – falo meio desconsertada com a sua repreensão. – eu... Você está linda.

– Ana Clara, por favor.

– Tudo bem. Será que a gente pode conversar? – faço menção de tocar em seu braço, mas logo ela desvia.

– Não é um bom momento e nem lugar. Com licença, tenho aula daqui a pouco. – Passa por mim, mas quando ainda está pouco afastada volto a falar-lhe.

– Você vai me deixar falando sozinha? É isso? A professora Marina vai fingir que nada aconteceu?

Rapidamente ela volta até mim, faz um som para que eu fique quieta e me empurra para dentro da sala mais próxima. Sou jogada dentro da sala, enquanto ela fica próxima a porta e olha a todo tempo se há alguém vindo.

– Pirou? Quer que a escola inteira escute?

– Ainda é cedo, ninguém vem para as salas cedo.

– Quer arriscar? Do mesmo jeito que arriscou enquanto estava com Francisca?

– Não, é sobre isso que eu quero falar.

– Ana Clara, façamos o seguinte: não falaremos sobre essa sua história com a Francisca, assim como não falaremos sobre o que quase fizemos naquele dia.

– Mas a questão é essa. Não tem história nenhuma. O que o George contou está, digamos assim, fora de contexto. Se você me deixar explicar...

– O que você não está entendendo é que, mesmo que você me dê mil explicações, nada acontecerá entre nós duas. Entende? – leva uma mão à testa e a outra à cintura – Nada. Agora, com licença. – Sai da sala deixando-me desolada.

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Fato: Em momentos melancólicos as horas passam devagar. Fui realizando minhas atividades de uma maneira tão automática que eu nem mesmo sabia que era possível.

– O que está acontecendo, hein, Ana Clara?

– Nada. – respondo com rosto virado para a parede.

– E desde quando é normal você ficar ai, debruçada sob a mesa com essa carinha, toda jururu.

– Não é nada. Só estou com um pouco dor de cabeça.

Amar é Preciso | ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora