Ventidue

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Como que por pirraça, a semana passou lentamente, mas o tão aguardado sábado chegou. Ao longo da semana Marina e eu ainda nos encontramos outras duas vezes na biblioteca, mas parecia que a vontade de estarmos juntas nunca era saciada, mesmo que fossem apenas beijos. Os beijos e a companhia da outra já parecia o suficiente, muito embora o meu íntimo, há muito tempo deseja sentir essa mulher por completo.

— Já são 6h30 e Marina está te esperando no saguão — Meu olhar se volta para dona Antônia parada a porta. Eu estou sentada numa cadeira, em frente à penteadeira de meu quarto, minha mãe caminha calmamente e posiciona-se atrás de mim; pega a escova, que até então estava em minhas mãos, e começa a alisar meus cabelos.

— Ela não quis subir? — Pergunto olhando-a através do espelho da penteadeira.

— Não. Eu disse que você desceria em dez minutos.

— É melhor eu pegar minhas coisas e descer. — Retiro as escova de suas mãos e coloco na penteadeira. Me levanto e fico em sua frente. Ela me trata de modo carinhoso, segura meu rosto entre as mãos e me faz um afago. — Mãe...

— Te amo. Independente de tudo — Me interrompe — saiba que te amo, Ana. Meu amor por você é enorme e qualquer coisa que eu faça é sempre pensando no seu bem e no de nossa família.

— Eu também te amo, mãe.

Depois de mais algum tempo conversando, pego minha mochila e minha mãe me acompanha até o saguão do prédio. Quando a porta do elevador se abre, vejo Marina admirando um quadro pendurado numa parede. — Usando um longo vestido azul claro e mantendo as longas madeixas ruivas caindo em seus ombros, além de óculos escuros em cima da cabeça.

Pressentindo a aproximação de alguém, Marina se vira e dá de cara com mamãe e eu.

— Bom dia, Antônia. Ana Clara.— Respondemos "bom dia" em uníssono. — Vamos? — Pergunta me olhando.

— Filha, você pode esperar por Marina lá fora? Precisamos trocar algumas palavras.

— Aqui — Marina entrega-me as chaves de seu automóvel — Meu carro está estacionado em frente ao prédio, você sabe qual é.

Dou um abraço em minha mãe e vou em direção à saída.

— Não acredito que demoramos mais de duas horas para chegar aqui. Deveria ser no máximo 1 hora e meia.

— Se você não parasse o carro a cada meia hora para me agarrar, — Sua pele fica avermelhada — a gente teria chegado aqui em menos de uma hora, já que não tinha trânsito algum.

— Fala como se eu tivesse feito tudo sozinha, né?

— Eu não disse isso. — Rio — Está vendo aquela rua? — Aponto para a próxima entrada à direita — É ali. É a última casa da rua.

Enquanto ela vai dirigindo o carro, ligo para o caseiro e peço que ele abra o portão da casa. Instantes depois, Marina conduz o automóvel para o interior do terreno. Salto do carro e vou ao encontro dos senhores que cuidam da casa quando não há ninguém de minha família por aqui e que, infelizmente, moravam numa casa muito pequena — em relação à casa principal — que fica bem ao fundo da nossa.

— Seu Tarcísio, Dona Glória. — Cumprimento-os apertando-lhes as mãos.

— Menina Ana Clara. — Dona Glória, uma senhora com seus pra lá se 50 anos, que sempre fora muito afetuosa comigo, puxa-me pela mão e me abraça. — Faz tempo que vocês não vêm aqui. — Desfaz o abraço, mas mantém nossas mãos unidas — Até estranhei quando seu pai ligou e pediu para ajeitar as coisas.

Amar é Preciso | ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora