Por mais que diga que não gosto de visitar Portugal, cada vez que ponho os pés em solo lusitano sinto-me acolhida pelo local. É como se fosse impossível não se apaixonar por esse país. Não creio, entretanto, que hajam laços fortíssimos, como alguns dizem, que unam Portugal ao Brasil. Há laços sim, mas não os considero tão bons assim, e não é necessário explicitar o porquê.
Porém é inegável a riqueza histórica e cultural desse pequeno país europeu. Alentejo me ganha pelo estômago. Os azulejos e vielas das colinas de Lisboa me encantam. Os romanos parecem viver em Évora. Os mistérios do catolicismo pairam por Fátima. Sintra e seus Patrimônios da Humanidade fazem-me sorrir de orelha a orelha.
Sem contar que ainda não citei os escritores portugueses que tanto gosto: Pessanha, Castelo Branco, Eça, Saramago, Pessoa, Florbela, Camões, Herculano, Ortigão, Fernão e tantos outros que passaram suas vidas, amores e desilusões nesse lugar.
Assim que Bianca e eu chegamos no Aeroporto Municipal de Bragança, pensamos que de lá, iriamos sozinhas à casa de minha avó, afinal, conhecíamos cidade muito bem, mas, para nossa surpresa, a dita cuja, Amélia, nossos tios, Elvira e Manoel, e prima, Helena, nos aguardavam. Fomos recebidas com muito carinho por todos. Dona Amélia, como boa avó que é, nos recebeu em sua casa com todos os mimos possíveis. Uma mesa posta com todas as comidas que Bianca e eu amamos, presentes e mais presentes. Em meu quarto, o azul foi a cor predominante. Já no de Bianca foi o branco, a sua cor favorita.
Tio Manoel tentou puxar assunto, mas, como sempre, ficou um tanto desconcertado ao fazer. Minha tia Elvira, ao contrário, foi a pessoa que mais falou. Contou como anda a situação política de Portugal, deu palpites sobre o Brasil. Perguntou o porquê da irmã mais nova não lhe ligar com uma frequência maior e eu me limitei a dizer que dona Antônia é muito ocupada. Enfim, apesar de ser boa gente, tia Elvira fala pelos cotovelos e nunca se cansa.
Helena, ao perceber que Bianca divaga muito quando está com a câmera fotográfica em mãos, passou a ficar muito mais tempo comigo. Não paramos em casa. Saímos todos os dias a tarde e apenas retornávamos à casa da minha vó quando era noite.
— No que estás a pensar? — Helena pergunta apoiando-se também na ponte. — Já sentes saudades do Brasil?
Sai da casa de minha avó há pouco mais de meia hora e, apoiada a pequena ponte que, por causa do lago, conecta os dois lados da cidade, esperava inutilmente uma ligação ou mensagem de Marina. Ela me disse que os professores apenas ficariam de férias uma semana depois dos alunos para fechar notas e afins e que, justamente por esse motivo, a princípio seria complicado para conversamos. A última vez que conversamos foi no dia da partida, em que ela me desejou uma boa viagem. Embora queira muito ligar-lhe, não serei leviana a esse ponto porque ela pode, por exemplo, estar em família e não quero causar nenhum constrangimento.
— Na verdade estou com fome. — Digo passando a mão na barriga.
— Então quando creio que estás a pensar sobre os mistérios da vida e do universo, estás na realidade a pensar em comida?
— Normalmente sim. — Helena enlaça meu braço ao seu e começamos a andar lentamente em direção a uma das saídas da ponte. Apreciando o calor da noite e o céu estrelado. — Já decidiu se vai às festas?
Me refiro as Festas em Honra de NªSª do Carmo — uma das tantas festas católicas que os portugueses comemoram — que terão seu ápice amanhã e domingo no Distrito de Beja e que Helena deseja ir, mas não vai pois corre o risco de encontrar um recente ex-namorado.
— Para ser sincera contigo, ainda estou a pensar. — Usa a mão livre para colocar os longos cabelos castanho sobre o ombro esquerdo. — Sabes que não estou muito animada em ir.
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Amar é Preciso | ⚢
RomanceO que acontece quando uma adolescente se apaixona por sua professora? E se não for um sentimento mútuo? Mas... e se for? Juntos, conheceremos a Ana Clara Machado e Marina Amaral, aluna e professora, respectivamente, e o que resultará da aproximação...