Trentasei

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O vento frio entra pela janela aberta. Da rádio, um som calmo paira pelo quarto. No chão, nossas roupas que outrora, uma por uma, foram deixadas. Um lençol fino e alvo cobre nossos corpos nus.

Ao chegar em sua casa horas antes, meu primeiro ato foi tomar os lábios de Marina e entregar-me a paixão que sentimos. E assim ficamos, horas e horas a fio, nos amando.

Em dado momento, pergunto como foi avisar ao Ricardo e Babi sobre o divórcio e Marina, suspirando tristemente diz que resolverá as coisas com Ricardo o mais rápido possível e que ele aceitou a ideia do divórcio muito mais tranquilamente o que pensara. Já a filha, bem, essa é outra questão complicada. Ao saber que Marina queria pedir o divórcio, Babi mostrou-se extremamente hostil. Acusou a mãe de ser hipócrita e ingrata pois o seu pai – coitadinho – havia feito o possível para manter Marina com ele, deu-lhe amor, respeito e carinho, mas ela não reconhecia isso.

— Sabe o que imagino? — Nego e ela suspira tristemente — Quando a Bárbara descobrir que nós duas estamos juntas, vai nos odiar. Posso dar adeus a qualquer tentativa de reaproximação com ela.

— Sei que não vai ser fácil pra ela, mas, Mari, vocês precisam começar a conversar mais. Vocês são como cão e gato.

— Você fala como se eu nunca tivesse tentando.

— Hey, não é isso. Olha, a Babi está com rancor porque acha que você a adotou apenas porque não conseguia engravidar do Ricardo. Você me disse isso e ela me confirmou outro dia. Conversa sobre isso com ela. Explica pra ela o que aconteceu, assim como você me explicou, omitindo, claro, que o Ricardo é seu pai biológico. Ela merece saber que é amada e você merece ter uma boa relação com a sua filha.

— Não foi fácil dizer isso pra você, Clarinha, imagina para ela...

— Eu sei que não, mas se você conseguiu me contar, também consegue contar a ela. Tenta fazer isso pelo nosso futuro e pelo futuro de vocês.

— Preciso pensar um pouco sobre isso.

— Claro, Mari. Essa não é uma atitude que se toma da noite pro dia. Pensa direitinho e faça o que seu coraçãozinho mandar.

Ela aperta os olhos dizendo que quer chorar. Sento em cima dela e distribuo beijinhos em seu rosto.

— Nada de choro. Apesar de tudo, hoje é um dia especial pra gente, né? — Me lembrando do presente que havia comprado no sábado anterior digo — Sei como te animar. Comprei algo pra você! — Me levanto e alcanço a mochila que está próxima a porta do quarto. Retiro a mediana caixa cor-de-rosa e retorno à cama, sentando de frente para ela.

— Hum, presentinho? Começamos bem essa nossa nova fase. — Recebo um selinho e, já mais animada, Marina abre a caixa.

— Não é lá grande coisa... Eu queria ter te dado antes, mas não tivemos um momento em que estivéssemos sozinhas...

Sorrindo, Marina alisa a capa do livro e passa suas páginas delicadamente.

— Elena Ferrante?

— Você tinha me falado que queria, mas nunca tinha lido nada dela.

— Você é perfeita, sabia?

— Sei. Você não estaria comigo se eu não fosse.

Com o olhar escuro, Marina deixa o livro e a caixa sobre o criado-mudo e me puxa para si, nos fazendo rolar pela cama. Para apenas quando, por cima de mim, me toma em um beijo sedento de paixão.

— Obrigada, minha menina. — Após me encarar silenciosamente por alguns segundos, Marina se pronuncia — Sabe o que quero fazer agora?

— Ficar na cama o resto do dia?

Amar é Preciso | ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora