Quindici

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O domingo chega e com ele o clima pesado que paira no ar do apartamento. Acordo cedo e ainda sinto dores na cabeça, assim como meu rosto ainda está inchado em função da melancolia da noite anterior. Percorrendo a casa, percebo que meus irmãos haviam saído, meu pai está metido no escritório e minha mãe na cozinha, junto à empregada, fazendo o café da manhã. Sento-me no balcão próximo a pia e dou-lhes bom dia. Uma responde. Minha mãe, no entanto, mantém-se em silêncio. A empregada entrega-me um copo com uma bebida quente e pede licença a minha mãe. Embora ela não tenha presenciado a cena da noite passada, com certeza percebeu que os ânimos no ambiente não são dos melhores. Dois minutos depois e minha mãe continua em silêncio, decido que, por enquanto, é melhor deixá-la sozinha. Posiciono o copo no balcão e já me direciono a porta do cômodo quando ela diz:

– Se você está aqui para que eu te diga alguma coisa – giro meu corpo em sua direção – saiba que você continuará nesse colégio. Contra o meu gosto, mas ficará nele.

– Obrigada, mãe. A senhora...

– Não me agradeça. - disse tentando parecer calma - Só aceitei isso para que nossas vidas não se transformassem num inferno. Além do mais, pelo que depender de mim, você continuará nele somente nesse ano... Não se esqueça de falar com a diretora. Resolva isso.

De lá para cá, não nos direcionamos ao menos uma palavra. A vi, inclusive, pouquíssimas vezes no dia. Ela estava ainda muito atordoada com o "show" de George e eu precisava e ainda preciso dar espaço para que ela respire e digira tudo.

Me desperto com Bianca batendo na porta do meu quarto e dizendo que ela me levaria ao colégio. Até imagino o porquê disso. Levanto-me da cama e me arrumo; e enquanto o faço, lembro-me que hoje é o dia em que terei de encarar o colégio. Teria que conversar com a diretora, pedir desculpas a Francisca pelo transtorno e falar com Marina. Ou melhor, tentar falar com Marina, já que talvez ela não queira nem olhar na minha cara. Machuca tanto pensa nessa possibilidade. Nas segundas-feiras, não tenho aula com ela, mas sempre a vejo pelo colégio e espero que hoje não seja diferente.

Como de costume, todos já haviam saído, exceto Bianca que me espera na sala. Preciso tentar explicar toda essa confusão a ela. Sim, lhe explicarei tudo... ou quase tudo. Direciono-me ao cômodo, encontro minha irmã e saímos do apartamento. Assim que ela dá partida no carro e sai do estacionamento em direção a rua começa a falar:

– Sem pressão, Ana banana, mas uma coisa ainda não faz sentido para mim. - "Sem pressão", ela disse - E aquelas roupas que você chegou no sábado?

– Eu sabia que era por isso que você está me levando à escola.

– Se você sabe, creio que receberei uma resposta. – diz sorrindo. Como negar algo quando ela dá esse sorriso? – Você me garantiu que não estava com a tal Francisca e eu acredito. Mas onde você estava? De onde surgiram aquelas roupa?

Respiro fundo e peço que ela estacione, pois não seria que, ao ouvir o que diria, ela cometesse um acidente por não estar prestando atenção na direção. Assim que possível, o motor do carro é desligado e ela vira o corpo para mim. É agora. Começo dizendo que George não estava de todo errado, que ele realmente me viu beijando Francisca, mas minto dizendo que e somente esse beijo ocorreu. Digo também que acabei saindo do sarau, tomei um baita banho de chuva e encontrei-me com a garota ruiva – cuja eu já havia dito a Bianca que estava apaixonada. E que essa garota me levou até sua casa e emprestou-me roupas secas.

– Oh, meu Deus, vocês já transaram? - disse fazendo cara de assustada e impedindo que eu conclua. - Você demorou para chegar em casa, só pode ser isso.

Amar é Preciso | ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora