Assim que chegaram na distribuidora, foram logo assumindo seus postos e vendo quais ações deveriam tomar. De acordo com o seu plano daquele dia, Ana Clara precisaria fazer uma pequena entrega. Odiava essa atividade. Preferia mil vezes estar junto da terra, mexendo diretamente com as plantas.
— Pode levar a namorada junto. — Simone disse naturalmente referindo-se a filha.
Elas se entreolharam. Desde o começo da relação ficou entendido que eram amigas com benefícios e apenas isso. Ana tinha medo de envolver-se com alguém e acabar machucando ou sendo machucada.
Cecilia saiu do local empurrando Ana pelo ombro e pedindo que o pai não a fizesse passar vergonha. Mesmo que nutrisse sentimentos sinceros pela brasileira, Cecilia sabia que o relacionamento não sairia do campo do benefício, para tristeza de Simone que fazia muito gosto no envolvimento das duas.
— Brasil não, mas e para Portugal? — Cecilia perguntou quando já estavam na estrada na velha caminhonete. Ana não disse nada, apenas sorriu. Aquilo era um sim e Cecilia beijou sua bochecha em contentamento.
Conheceu Simone em Portugal alguns meses depois de mudar-se para a casa da avó. Ele estava de férias no local e ao saber do interesse da brasileira pela Itália, fez uma proposta quase irrecusável.
— Você está muito abatida, criança. Precisa de novos ares, ares do campo. Vem comigo pra Itália! Nada como um período na Toscana para que o tempo te devolva a alegria. E você não ficaria sozinha, não se preocupe! porque tenho uma filha da sua idade que ficará contente em ter mais companhia.
Ele explicou que "trabalhava com as flores" e que se ela quisesse poderia ir à Itália tendo a garantia de um emprego e um local para morar.
Foi inevitável não pensar em Marina. Um dia prometeram ir juntas ao país da bota, mas dadas as circunstâncias da vida, sabia que isso jamais aconteceria.
Durante o jantar, ao notar o olhar ainda mais perdido da neta, dona Amélia confessou:
— Preferiria que ficasses aqui, mas deves ir, menina. Já és responsável por ti e ficar aqui não te ajudarás a esquecer o que se passou contigo e tua família. Tenho certeza de que Elvira, Helena e Manoel concordarão com o que digo.
— Não tenho nada a perder, não é?
Dona Amélia concordou tristemente.
Estacionaram em frente a uma propriedade pequena. Enquanto desciam os cinco caixotes com mudas de flores da caminhonete, o dono da encomenda apareceu para ajudar. Quando o olhou, Ana Clara teve uma sensação estranha de que o conhecia. Ele entrou no terreno carregando três dos cinco caixotes; elas vinham atrás com os restantes.
— Ele trabalha com o quê? — Não costumava perguntar esse tipo de coisa, mas a curiosidade, naquela situação, falou mais alto.
— Parece que faz perfumes.
Guardados os caixotes numa estufa, o homem agradeceu e disse que as acompanharia até a saída, mas Ana hesitou e pediu um copo d'água. Entraram assim no interior da residência. Enquanto tomava a água, nada tirava da cabeça de Ana que já havia visto aquele homem.
— Você me lembra alguém... — Desconfiada, comentou atrapalhando a linha de raciocínio do homem que falava sobre suas fragrâncias. — Já nos conhecemos?
— Tenho um rosto bem comum...
Parou de escutá-lo quando viu, atrás dele, um pequeno porta-retrato que jazia numa estante. Ignorando quaisquer modos, foi até a estante e segurou com ternura o objeto. Lágrimas que Ana evitou durante anos vieram à tona. Contornou a superfície do objeto e o colocou de volta no local.
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Amar é Preciso | ⚢
RomanceO que acontece quando uma adolescente se apaixona por sua professora? E se não for um sentimento mútuo? Mas... e se for? Juntos, conheceremos a Ana Clara Machado e Marina Amaral, aluna e professora, respectivamente, e o que resultará da aproximação...