Undici

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Passadas seis semanas, os sentimentos que por Marina sinto afloram-se cada vez mais em meu coração. Mesmo que não seja algo mútuo, embora às vezes pense o contrário. Digo isso porque durante as aulas de Língua Portuguesa ou em nossas reuniões, noto que seus olhares direcionados a mim são diferentes, não sei explicar, mas de alguma forma são diferentes. Muitas vezes são olhares ternos. Aliás, tenho em mente que Marina sente ciúmes de mim com Melissa e sempre torce o nariz quando garotos se aproximam de mim. Pode ser que isso seja apenas coisa da minha cabeça, mas só a ideia de que Marina possa sentir algo por mim, deixa-me em êxtase.

Temos nos encontrado todas as segundas-feiras para as reuniões referentes ao sarau e de certa forma, tornamo-nos mais próximas. Não houveram saídas pós-reuniões, mas temos conversado muito sobre o ensino e estudo do italiano, além da cultura italiana em si. Ah, a Itália, a única coisa que temos em comum, a única coisa que, de algum modo, nos une. E não vou negar, cada vez que a vejo ou penso nela, meu coração dispara. Sinto como se houvessem borboletas não apenas em meu estômago, mas em cada órgão de meu corpo. Querida Marina, sua existência é fundamental à minha.

Quanto ao sarau, mais duas semanas e o evento se concretizará. O estranho nisso tudo é que, o que pensei que fosse ser algo simples, Marina conseguiu transformar em uma espécie de acontecimento do ano. Em minha cabeça, haveriam as turmas para as quais Marina dá aula, um palco, notas, fossem elas vermelhas ou azuis, e só; mas não, acredita que os pais dos alunos e as outras turmas também foram chamados para assistir? Pois é. Bem que Melissa disse que "tudo o que Marina faz tem que ser grande. Se duvidar, da próxima vez ela convida o próprio ministro da Educação para fazer um discurso".

Bem, hoje é segunda-feira novamente, graças a Deus, porque me encontrarei com Marina em breve. No entanto, horas antes, Francisca havia me chamado para almoçar e eu aceitei o seu convite, afinal, Marina marcou comigo às 14h30, daria tempo de realizar a refeição e retornar à escola sem me atrasar.

Saímos em seu carro e paramos em frente a um restaurante que para mim já é conhecido. Cumprimento os funcionários conhecidos e, assim que nos sentamos, ouço Francisca resmungar:

— Ótimo — Diz sendo o mais irônica possível — Te trouxe num lugar onde você conhece os funcionários pelo nome. Uhum! Ponto para mim.

— Eu adorei que tenha me trazido aqui, Fran, não se preocupe.

Após aquele dia em que Francisca e eu nos beijamos, tornamo-nos muito próximas, ouso dizer que nos tornamos boas amigas. Confesso que houve mais uma recaída depois, mas não passou de um beijo. De alguma forma, Francisca me cativa, não sei por que, mas não é a ela que meu coração pertence. No fim, concordamos em sermos apenas amigas. Constantemente frequento a sua casa, ora sozinha, ora com outros alunos — Francisca não mentiu quando disse que seus alunos sempre iam a sua casa. Tem sido algo, digamos, saudável, embora algumas vezes ela faça comentários de cunho amoroso; e eu não fico tão incomodada, afinal, ser desejada por uma mulher como Francisca faz com que eu me sinta mais mulher. Talvez isso seja uma vaidade minha até pouco tempo desconhecida.

O almoço segue tranquilamente, até que no meio de nossa conversa, Francisca se fixa em algo atrás de mim, olho para saber o que chama a sua atenção. Assim que me viro, espanto-me com quem se aproxima de nossa mesa.

— Oi, Aninha. — Diz George se aproximando de mim e beijando minha bochecha. Eu fico muda, não consigo produzir nenhum som — Não vai me apresentar a sua amiga?

— Francisca Campos. — Estica a mão para se apresentar — Muito prazer.

— George Müller. E o prazer é todo meu. — Diz antes de beijar-lhe a mão.

— Não gostaria de se sentar, George?

— Não. — Digo rapidamente antes que ele possa respondê-la — Ele não quer e nós já estamos de saída, não é?

Amar é Preciso | ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora