Ventisette

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"Seja lá o que foi isso que tivemos, está acabado" — A frase de Marina fica martelando em minha cabeça. Embora fosse óbvio que nosso "relacionamento" não fosse durar para sempre, não cheguei a imaginar um término.

Mesmo que queira chorar, controlo a emoção para que ao menos eu tenha uma explicação acerca dessa situação. Me levanto do sofá e cruzo os braços, em seguida Marina também se levanta, põe as mãos na cintura e me encara.

— Por isso não recebi mais ligações ou mensagens suas? Porque queria acabar com tudo?

— Achei que seria mais apropriado acabarmos com isso pessoalmente. — Sua voz soa tão seca que imagino tê-la magoado de alguma forma. Mas nada me vem à cabeça a não ser ter dormido com Helena, só que ter essa informação seria algo impossível a Marina.

— Eu fiz alguma coisa que você não gostou?

— Não, só acho que essa nossa brincadeira precisa acabar. — Diz firmemente e enxugando as lágrimas que outrora caíram.

— Brincadeira? — Pergunto sem acreditar no que acabara de ouvir — Então tudo isso não passou de uma brincadeira para você? Marina, eu me entreguei a você e agora você resume tudo a uma mera brincadeira?

— Não seja hipócrita! — Grita praticamente cuspindo as palavras.

— Hipócrita? Do que você está falando? — Num instante, a decepção e tristeza por causa desse fim dá lugar a raiva — Desde o início, o que você me dizia, hein? Me dizia que não tinha idade para aventuras, que qualquer coisa que tivéssemos não poderia ser uma brincadeira, que eu era apenas uma adolescente com os nervos à flor da pele... E agora, Marina? Você diminuiu tudo o que a gente tem... tinha a uma brincadeira. Sempre soube que essa história teria um fim, mas não pensei que você me resumiria a nada.

— Acabou? Agora é melhor que você vá embora.

— Como você pode ser tão fria? Cadê a Marina que eu vi há um mês? A Marina que conversei há algumas semanas? Todo esse teatrinho só para pegar a aluninha?

— Cala a boca, Ana Clara, ou não respondo por mim.

— Cansou da adolescente com os nervos à flor da pele? — A pergunta vem ignorando o que ela dizia — Ou melhor, redescobriu o amor que sentia pelo seu marido? Parabéns, professora Marina. Parabéns e felicidades.

Não demora para que eu sinta meu rosto arder em função do forte tapa lançado por Marina. Levo a mão ao local e finalmente as lágrimas descem. Marina olha assustada para as mãos como se não pudesse crer não acabou de fazer.

— Me desculpa, eu...

— Não... Se é que um dia você sentiu alguma coisa por mim, agora eu sei que acabou. Eu que peço desculpas por todo o transtorno causado. — Ando em direção a porta, mas antes de sair falo-lhe uma última vez — E não se preocupe porque não vou abrir a boca sobre o que aconteceu. A senhora ainda será a professora perfeita do colégio.

Saio da residência às pressas e, já na rua, encosto-me no muro da mesma. Meu pranto não é cessado. As lágrimas descem e a intensidade delas parecem aumentar ainda mais. Depois de inutilmente limpar meu rosto, vou andando pelas ruas a fim de tomar o metrô. Voltar para casa não é uma opção. Não quero dar explicações a ninguém a respeito do meu estado deplorável, sobretudo a dona Antônia e Bianca.

Depois de quase ser atropelada algumas vezes e esbarrar constantemente em diversas pessoas, chego na estação e embarco sem saber aonde ir. Depois de inúmeras estações terem ficado para trás, pego o celular e ligo para uma das poucas pessoas que pode me consolar agora.

Amar é Preciso | ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora