10 - reviravolta

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Então, eu tenho uma surpresa, uma outra surpresa. O salão branco agora é uma sala de mesmo formato e tamanho, só que com paredes de ferro e quatro robustos pilares com murais como o que eu tenho em casa, aquele mesmo em que fiz aquele panorama, e que depois arranquei e lancei fora. No meio da sala, uma mesa triangular de vidro faz alarde.

Não perco tempo imaginando sobre como a sala trocou de lugar aparentemente sem explicação, essa daqui é até melhor que a anterior, pois nessa pelo menos tenho algum senso de espaço e direção.

A situação é bem séria, e requer o máximo de compostura que eu puder ter, portanto, ajusto meu comportamento. Avisto a Morte, na ponta da mesa - na ponta do triângulo -, com seu aspecto agourento habitual. Fogo, a única sem máscara, e mais sete mascarados se encontram ali, distribuídos uniformemente pelo resto da mesa, incluindo Navalha e o cara do raio, que já se juntou a eles. Todos estão de pé, exceto a Morte, que está apoiando os cotovelos na mesa e com os dedos cruzados.

Descubro estar ávido pelo que está por vir.

Meus olhos correm rapidamente por todos os mascarados e param em cima de Fogo. Me animo ao vê-la com um aspecto muitíssimo melhor que antes, como se ela tivesse sofrido uma cura fenomenal, como se tivesse recuperado a saúde física instantaneamente. Ela está com outra blusa agora e seu rosto já possui mais cor, embora ainda permaneça meio pálido. Ela aparenta estar recuperada, embora não completamente. Como isso aconteceu é mais um mistério do Clã Máscara Negra desde o tempo que cheguei aqui.

Fogo está com os olhos fixos em mim, assim como todos, mas seu rosto não revela humor ou emoção alguma, o que é esquisito. Prossigo olhando para ela, mas tudo que consigo efetuar nela é um leve tremor no canto de seus lábios, como se ela estivesse retendo um sentimento.

Há uma cadeira a dois metros da base do triângulo, afastada de todos, como o assento de um réu em um tribunal. Bem, aquela sala não parece bem um tribunal, mas é a melhor comparação que surge em minha mente, um local onde irão me julgar e me sentenciar com argumentos válidos e imparciais, segundo a lei do local.

Ninguém precisa me dizer que aquela cadeira é aonde devo ir me sentar.

Assustado não só com a radical mudança de sala, mas com o que pode vir a seguir principalmente, eu disparo caminhando vagarosamente até a cadeira perto da base do triangulo e me sento, ereto e neutro. Quando eu faço isso, os mascarados automaticamente mudam seus olhares de mim para a Morte. Tão logo isso ocorre, ele pigarreia para começar a declaração, dando início à sessão.

Eu estremeço.

- Erich. - ele cita meu nome em alto e bom som e eu o fito, estupefato. - Com a maioria dos integrantes do Clã Máscara Negra reunidos com a finalidade de decidir o seu destino a partir dos feitos relatados por Fogo, acompanharemos desde o início a sua trajetória envolvido direta e indiretamente com o nosso grupo. - A Morte recita, num tom esporádico, porém resoluto. - Esta é a nossa afirmação: você presenciou uma atividade realizada por Fogo no dia de ontem, quinze de maio de dois mil e vinte e oito, e, por um viés no momento da missão, pode descobrir a identidade dela, mas sem ser descoberto por ela, passando impune dessa.

Assinto com a cabeça, apesar de não ser uma pergunta. Ele contou todo o episódio e eu não tive que dizer nada. Sei que preciso considerar que é o relatório de Fogo que está argumentando a meu favor, logo minha opinião a respeito de tudo que ocorreu ontem e hoje não serve de nada, porque esta é a lei deles aqui, suponho. Assim, essa foi a visão de Fogo do ocorrido de ontem. Eu não me lembro de ter contado com detalhes para ela, mas pelo visto, a descrição foi até boa e imparcial.

- Até aqui, já temos a nosso dispor um motivo concreto para assassiná-lo, por comprometer o grupo tendo pleno conhecimento da identidade de um dos integrantes desse. - ele continua, mas a frase não tem tom de conclusão, até porque esse não é o final da história. Se fosse, eu nunca estaria aqui e eles nunca saberiam que presenciei o acontecido, ou seja, nunca me matariam. Só aguardo que não haja nenhuma injustiça ou fraude nesse julgamento, e que, com base nesses argumentos, eu saia pelo menos vivo dessa. Não espero mais do que isso. Eu poderia morrer, não fosse o fato que deve vir a seguir. - Todavia hoje pela manhã, Fogo relatou que, enquanto andava pela cidade, pressentiu que estava sendo seguida por sua pessoa. Ela o conduziu astutamente a um local ideal para o interrogá-lo e o abordou, em seguida o fazendo confessar sua omissa aparição recente em uma missão cabida a ela, o que a fez sentenciá-lo à morte no mesmo momento. Ela então o conduziu para um lugar propício a eliminá-lo.

Máscara Negra - ImpactoOnde histórias criam vida. Descubra agora