41 - tensões

22 0 0
                                    

Ainda não me acostumei com minha nova rotina no CMM, mesmo depois de tudo que se passou. Minha vida hoje meio que transita entre a liberdade e a responsabilidade de manter minha identidade secreta. Isso para não citar a minha situação volúvel diante do simples fato de que a caçada pela minha cabeça persiste. Claro que não é só isso que me esgota. Tudo ainda é insosso demais, como se eu ainda estivesse longe de descobrir a mágica de ser um integrante do Clã Máscara Negra.

Tenho que parar de pensar nisso.

Claro, estou procurando ser otimista diante de tudo, mesmo considerando que o Erich normal está confinado à sede, e o Erich com máscara - ainda não escolhi meu codinome - pode circular pelo Refúgio, mas não de forma tão liberal assim. Tudo tem seus porquês, e já aceitei a consequência das minhas escolhas. Tenho que seguir em frente.

Também há o fato de que uma vida dupla não é o ideal, embora possa ser benéfico de certo ponto. Além de Rebeca, Paola, Paul e Ray também têm as mesmas rotinas.

Tenho treinado meu físico com mais afinco e vigor do que nunca. Pelo menos essa parte é um pouco mais segura do que arriscar com as habilidades da máscara. O aviso de Ceifeiro surtiu mais efeito do que Rebeca repreendendo Filipe. Tento condicionar ao máximo minha mente e meu corpo para obstáculos possíveis em meu futuro.

Não é que eu também não esteja investindo nos poderes. Ceifeiro tem me treinado bem nessa parte, como se fosse um tutor e psicólogo ao mesmo tempo.

Suportar. Evoluir. De fato eu controlo meu teleporte melhor do que antes, mas eu ainda soo esquivo demais para ir além dos meus limites. É uma linha tênue demais. Meu avanço é lento como de uma tartaruga, embora progressivo.

Ceifeiro e eu descobrirmos que meu teleporte não era bem um teleporte e mais uma viagem no espaço. Eu fiz esse achado da pior forma possível: quando tentei ir para outro lugar estando num local fechado, eu simplesmente me esborrachei na parede. Isso não explicava bem como tinha feito a viagem para o banheiro da escola, mas eu tirei a conclusão que eu poderia ter feito apenas uma curva para alcançar meu ponto. Isso era um baita de um limite dado pela máscara, mas fazia até sentido. De toda forma, era melhor ter descoberto isso agora do que depois.

Me lembro de Rebeca ter dito uma vez disse que gostaria de saber como era a sensação de teleportar. Eu demorei um pouco para entender, mas após explicar que nunca tinha tentado me teleportar carregando outra pessoa e que não queria tentar isso agora por receio de algo dar muito errado, a garota desistiu da ideia. Talvez ela quisesse me ajudar também, vai saber.

Até agora, o máximo que consegui fazer em uma semana foi me transportar por pouco menos de meio quilômetro em campo aberto. Acho que foi a única vez que realmente assumi algum risco, mas foi para uma boa causa.

Na ocasião, percebi com mais clareza que teleportar é como adentrar em minhas partículas. É quase como se eu tivesse consciência de minha matéria, de todos os átomos que me constituem como humano. É a mesma coisa toda vez. Depois disso, eu me sinto como uma lata de refrigerante sendo agitada. Me encolho e me desfragmento até ser apenas partículas se movendo no espaço, semi-inconsciente, e em seguida me expando e quando me dou por conta já estou em outro local distinto.

O mundo ao meu redor também reage, sabendo que eu sou meio que contra às leis da gravidade, pressionando-me a voltar. E logo após, meus músculos sentem o efeito através de uma comichão. Antigamente eu me sentia mais cansado, mas agora tudo que sinto é uma oscilação meio elétrica. Além disso, o teletransporte agora é tão rápido que nem sinto a mudança de temperatura.

Para todos os efeitos, o único sinal interpretado de que estou indo além demais e me prejudicando é um sangramento nasal e uma enxaqueca na têmpora. Os efeitos colaterais mais graves até então, sentidos quando me teleporto demais ou quando me teleporto para muito longe. Nesse sentido, também há o dado de que, quanto maior a distância, maior o tempo do lapso em que minha mente parece ficar suspensa. Eu comecei a achar que o lapso era a fase mais perigosa, já que separar e juntar moléculas pode dar muito errado. Filipe provou isso para mim quando pôs uma corrente elétrica no meio de um caminho de teleporte. Eu não morri, fiquei esquartejado ou deformado, como esperado, mas retornei ao meu corpo original na mesma hora, sendo eletrocutado como qualquer matéria comum. Bem, isso só comprova que também não tenho controle sobre o caminho que percorro durante o lapso.

Máscara Negra - ImpactoOnde histórias criam vida. Descubra agora