33 - inconsciente

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Quando abro os olhos, ninguém está mais ali, o que parece até me aliviar de verdade. Acho que eu não gostaria que ninguém visse isso.

Como isso é possível? Como posso estar sendo uma figura corpórea em um lugar dentro de mim? Me pego pensando novamente no teste de resistência e ainda não consigo entender se aquilo era um sonho ou apenas uma projeção da minha realidade psíquica. Ao mesmo tempo não sei dizer se é o mesmo caso agora. De certa forma, eu estava no sono REM, como Navalha disse, então parece que é algo onírico, talvez um delírio ou alucinação factível.

O quarto está escuro, tão escuro que possivelmente eu devo estar cego. Me pego receoso e por um momento fugaz, me pego desejando que os outros estivessem aqui de verdade, que estivessem vindo comigo, se fosse possível, mas lanço fora o desejo no mesmo instante. Sinto como se fosse minha missão e de mais ninguém, uma batalha real contra mim mesmo. Não tenho só medo, mas pavor pelo que poderia acontecer com meus amigos caso viessem. Sei que depois eu poderei esclarecer tudo, mas antes não era hora. Isso aqui parece uma situação grave.

Eu não imaginava que isso fosse ocorrer tão cedo. Na verdade, nem imaginava que iria ocorrer, só tinha uma leve sensação ruim.

Respiro fundo, procurando me preparar.

A obscuridade não me permite ter consciência de meu corpo, mas eu me movo, dissipando as trevas. Quando ouso fazer isso, meu corpo toma forma, cor e luz na escuridão. As coisas do inconsciente são mesmo complicadas de se entender. Avanço pelo limbo.

Venha.

Ele está aqui, eu sei. Preciso achá-lo. A atitude tem que ser minha. Em todo o caso, lembro-me de que este é o mesmo campo de batalha do teste de resistência, minha mente, logo eu posso manipular a situação como bem quero.

- Vamos lá. - digo a mim mesmo. Me concentro, faço um gesto como se fosse armar um chicote e sinto uma lâmina descer sobre a manga de minha camisa. Uma espada de novo.

Em seguida, instantaneamente as luzes se acendem. Para minha surpresa, estou em minha casa, na vigésima Célula. Contudo está muito diferente da última vez que a vi - o que, reparo, não faz muito tempo. Parece mais pálida e sombria, quase como num filme de terror. Os móveis estão em seus respectivos locais, o papel de parede ainda é o mesmo, porém tudo ao redor é sem cor e sem graça, transparecendo tristeza e agonia simultaneamente. Está preenchido, mas está vazio. As telas das janelas estão cobertas pelas persianas, mas pode se ver o breu preto lá fora. Há algo estranho nesse breu, incomum; denso demais, perfeito demais. Isso me incomoda e quero ir lá checar, por isso corro depressa até a porta e a abro com um severo puxão.

Respiro fundo, assustado.

É uma parede, uma parede preta, no lugar do exterior, onde deveria estar o lado de fora... Consigo me controlar a tempo do desespero tomar conta do meu ser. Empurro a parede, tento raspá-la com as mãos e com a espada, mas ela é extremamente sólida e dura.

- Droga! - resmungo, rouco. Olho ao redor e noto que a casa inteira está coberta pela camada negra, como se eu estivesse dentro de um cubo sem brechas.

O ar. Começo a respirar forte, tentando não me desesperar. Vamos. Pense. O que fazer?

E de repente, o chão abaixo de mim cede inimaginavelmente.

Não tenho tempo de gritar, encontro o chão muito antes do pensamento ocorrer. Não é uma sensação boa; eu sou puxado contra o solo e quase ponho para fora meus pulmões com o impacto. Tarda, mas me recomponho assim que posso. Uma poeira asfixiante sobe e se expande ao redor, o que faz piorar a sensação de sufoco anterior. Cubro os olhos e me levanto do chão gemendo, procurando saber o que aconteceu. Olho para cima e vejo o buraco de onde vim, um círculo perfeito.

Máscara Negra - ImpactoOnde histórias criam vida. Descubra agora