29 - retorno

28 1 0
                                    

— Desculpa interromper, professor, mas temos motivos para achar que um jovem delinquente entrou nas dependências da escola com uma arma.

Meu professor levanta uma sobrancelha, mas depois faz um gesto de displicência para os seguranças, os quais adentram na sala dirigindo aos alunos olhares investigativos. A sala toda, por sua vez, inicia uma discussão baixa, se perguntando quem seria esse "delinquente". Para meu pavor, algumas pessoas olham diretamente para mim.

— Não entrem em pânico. — o guarda insinua, embora não ajude. — Vamos passar esse scanner para detectar metais em vocês. Quem tiver objetos de metal, por favor, ponha em cima da mesa à mostra para nós.

Um barulho de moedas, chaves e outras coisas metálicas surge dentro da sala. Fico ereto em minha cadeira e olho para a frente. Não presto atenção na reação dos outros, porque eu próprio estou ansioso. Sigo o guarda com o olhar enquanto ele caminha pela sala passando o scanner sobre os alunos, um led piscando em vermelho. Sei que não deveria estar pressuroso, mas é quase impossível evitar.

Engulo em seco na hora que o homem passa diante de mim. Nada acontece, como esperado, porém ainda me mantenho tenso. Tomara que minha postura não tenha gerado suspeitas sobre mim. Enxugo o suor quando o segurança dá meia-volta e se dirige ao professor:

— Desculpe o incômodo. Continue, professor.

Os guardas saem um por vez, mas um permanece imóvel em seu lugar. Meu coração vai parar na boca quando percebo seu olhar pairando em cima de mim, fixado. Ele me estuda minuciosamente, semicerrando os olhos, intrigado.

Não pode... Como ele poderia ter me reconhecido...? Impossível...

Ele desfila em minha direção, com a mão sobre a pistola, escondida no coldre. O professor e a turma ficam em silêncio, também achando esquisito, sobretudo porque, considerando meu regresso hoje, seria extremamente condizente - e portanto perigoso - se eu fosse o tal delinquente. Seguro meu celular com tanta força que os nós de meus dedos doem. Mexo os olhos procurando uma saída, mas o estresse me prejudica. Isso não vai ser bom. Mesmo que ele não tenha certeza de que fui eu e tampouco tenha como descobrir a máscara, vai ser muito suspeito saber que não entrei na escola pelos portões, afinal, há várias câmeras.

E também tem o meu tablet e celular com informações do CMN...

Eu sou suspeito.

Demasiado tenso, clamo mentalmente para que ele pare e vá embora. Pare e vá embora logo...

E então, para minha grande surpresa, algo acontece em seguida. A duas carteiras de distância de mim, uma caneta repentinamente cai da mesa de uma aluna.

— Ai, desculpa, moço... E-eu sou uma desastrada... — ela diz, fazendo o homem desviar sua atenção para ela. Estranho aquilo tudo e tento distinguir quem é a garota.  — O senhor pode pegar pra mim?

— Ah, ok.

Quando ele o faz, vejo a garota inclinar sua cabeça o suficiente para que ela toque na careca do policial. Então, quase imediatamente, ele parece ficar assustado, entregando a caneta para a menina e virando-se para ir embora.

— Não é nada, eu só confundi. — ele explica para os colegas e para o professor. Isso faz com que em apenas três segundos a sala volte à agitação rotineira. Os homens simplesmente vão embora.

O quê?

Quando a garota vira o rosto em minha direção, eu fico em choque. É... Paola! A garota emo, a com poderes psíquicos...

As coisas vão se encaixando rapidamente em um nexo, mas eu não sei como reagir. Assisto ela voltar a se sentar de frente e quase na mesma hora levantar a mão, pedindo ao professor para ir ao banheiro. Em poucos segundos, ela também sai, tão rápido quanto os guardas. Olho para sua cadeira e não avisto nenhuma mochila.

Máscara Negra - ImpactoOnde histórias criam vida. Descubra agora