46 - captura

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As questões permeiam-me inteiramente, me alucinando, bem como a dor da bala em minha pele e as emoções conflitantes e selvagens. Entretanto tudo acaba rapidamente quando recebo uma coronhada na nuca.

Escuro. Um novo percurso.

O saldo é um sonho bem rápido envolvendo Rebeca, Ceifeiro, Strike e o cadáver do guarda. Desperto em mais um pesadelo.

Tudo é branco, mas ao contrário do que presenciei em minha própria mente, distingo a forma do local. É um ovo. As paredes são curvas, o teto também, com um círculo desenhado na superfície. A entrada. O chão onde estou esparramado é a única parte plana do espaço. Exatamente no momento em que me movo, eu me lembro dos acontecimentos. Por conseguinte, levanto-me do piso instantaneamente. Minha cabeça dói devido à mudança de pressão. Então me encaminho para o canto da sala e apoio-me na parede ondulada.

Tem alguma coisa de errada em minha respiração. É quase como se eu estivesse nos ares, só que o contrário. Meu organismo se adaptou, mas meus pulmões parecem com defeito.
Pulmões não. Pulmão. O direito. O baleado.

Estou enfaixado na área, e não tem nada de vermelho ali. Só tenho certeza de que levei um tiro ali por causa das sequelas. A dor é mais amena, porém existe. Coágulo interno. Estou convalescendo. Tanto que meu braço parece meio inerte, enervado. O sangue que perdi é irrecuperável, por isso estou enfraquecido. Mensuro que talvez tenha sido quase um litro, o que pode ser um exagero. Bem, considerando que provavelmente ainda tenho cerca de quatros litros, eu até que estou bem. Ainda consigo andar e me equilibrar. Meu organismo está funcionando. E o melhor de tudo: ainda posso pensar.

Que lugar é esse?

Base 4.

Ainda estou vestido com a mesma roupa que usava no Atlas, e nela encontro alguns traços minúsculos de sangue seco, outra prova de que tudo de fato ocorreu, de que o agora é real.

A máscara não está comigo.

- Corvo... - sussurro. Ele a tomou. Onde ele está agora?

Antes que eu tome uma decisão póstuma, percebo uma parte do chão se movendo. Me afasto instintivamente, erguendo a guarda. Não sei o que espero ver, mas tudo que surge é um disco de prata no lugar do pavimento, e nele Strike se materializa.

- Olá, Erich. - ele diz, bem-humorado.
Será que ganhou uma promoção por minha captura? Não ligo. Mesmo que eu esteja ciente de que ele é um holograma, eu o golpeio no rosto, para sua surpresa.

- Seu saco de merda!

O rosto dele se desconfigura e depois volta ao normal quando minha mão retorna. Ele continua surpreso, embora mais com uma expressão que parece dizer: "Nossa! Que idiota!"

- Belo jeito de aceitar as boas-vindas de seu anfitrião. - ele diz, como se lhe importasse de fato.

- Vai se fuder! - xingo. Strike revira os olhos. - Que lugar é esse?

- Base 4 dos Advogados. - ele responde com um humor chato, como se estivesse me apresentando um produto que não posso comprar e que não quer vender. Em seguida ele usa um tom monótono. - Fica abaixo da superfície de um grande lago isolado, no setor leste do distrito e tal...

Levo um tempo para copiar as palavras devido à displicência no seu tom de voz.

- Por que está me contando isso?

- Ora, não é óbvio? - ri Strike. - Porque você não vai escapar daqui.

Engulo em seco, mas não perco a determinação. Meu lábio inferior treme loucamente. A ira se eleva. Se pelo menos eu me controlar, acho que posso extrair dele as minhas dúvidas mais mortais sobre o trabalho dos Advogados.

Máscara Negra - ImpactoOnde histórias criam vida. Descubra agora