Máscara Negra - Impacto

30 - delegacia

Eu sabia que aquele dia não iria ser apenas de boas e novas, eu sabia. Mas, por outro lado, não esperava que no fim de tudo, eu estaria em um estado tão grave. No final de tudo eu não consegui fazer nada por receio da minha identidade ser comprometida.

Mas talvez eles saibam que "invadi" a escola, de alguma maneira, ou me identificaram quando ataquei aquele bandido, sei lá, porém algo é evidente: eles estão sendo muito cautelosos comigo. Tive sorte de ter jogado a pistola, mas com a questão da máscara, eu estou ferrado da mesma maneira ou pior. Não tive permissão de pegar minha mochila recolhida, então eu tive que ficar a mercê do meu raciocínio, sentado no banco traseiro da viatura, atrás das grades que me separam dos policiais.

Não só policiais, eles são mais que isso. São investigadores, o que só pode indicar que sou um caso peculiar. Pode ser que pensem que sou um psicopata ou simplesmente saibam que sou um membro do Clã Máscara Negra, não importa. O que importa é que a situação é drástica, e eu estou em um beco sem saída.

Não, é melhor ser realista. Pode ser que seja um engano, afinal, eles só pediram para os acompanhar. Nem me algemaram. Talvez eu só precise dar um depoimento. Não preciso crescer tanto a situação. Talvez nem saibam nada sobre a máscara e encarem ela apenas como uma máscara comum.

Porém por mais que eu tente, não consigo relaxar nem um pouco.

Eu não sei como funciona o procedimento de um inquérito, mas de uma coisa eu sei: para eles aparecerem em minha casa e me pedirem para lhes acompanhar, tem que ser algo bem mais complexo. Geralmente eles só enviam um mandado e pronto.

Bem, eles podem ter enviado para mim, mas devido à minha situação essa semana, eu não poderia ir... Cara, que enrascada! Olha no que fui me meter. Eu nem sabia que eles poderiam ser competentes dessa maneira.

Mas isso significaria que eles têm uma queixa mais antiga sobre mim, o que seria bastante duvidoso.

Olha, eu nunca fui apreendido, e em meu histórico já passei por coisa pior, mas tal verdade não alivia em nada. De qualquer ângulo, uma coisa ruim é iminente. Não tenho certeza do que pode me suceder caso eu não seja salvo hoje, mas não pode ser bom. Na pior das hipóteses, descobrirão que pertenço ao CMN e serei encaminhado a uma morte por fuzilamento ou prisão de segurança máxima. Não se sabe; isso nunca aconteceu nos anos de atividade do CMN. Bem, há uma hipótese ainda pior: que eu comprometa todo o Máscara Negra depois disso.

Fico em silêncio até alcançarmos a delegacia, nauseado por aproveitar o tempo decorando o percurso até o lugar. Nunca havia visitado a delegacia nesses oito anos que vivi no Abrigo, e sem dúvida, ela não é bem como eu esperava que fosse. Considerando que o que eu sei sobre delegacias está limitado aos filmes e livros que restaram da guerra, soa bem idiota a minha primeira impressão do local.

É um prédio de dois andares, de fachada simples, branco, azul e verde, cercado pelo estacionamento e por grama cortada. Uma escadaria curvada dá para o pátio, o qual, a essa hora da noite, está totalmente deserto e quieto. No meio dele, há uma estátua da insígnia da Polícia Militar no meio. As árvores farfalham suavemente à luz da lua, e os postes refletem uma nesga de luz meio sinistra na escuridão. Aparenta que um monstro enfadonho pode surgir a qualquer momento do negrume. Mais adiante, as portas de vidro cerradas estão, mas é possível ver que o interior está funcionando regularmente. A maioria dos escritórios acima estão desativados, contudo o átrio está apinhado de funcionários. Observo um policial de plantão fumar um cigarro na entrada do complexo, sentindo uma pontada de desespero antes de finalmente adentrar no edifício.

Ninguém, absolutamente ninguém, reage à minha presença. A princípio, imagino que talvez seja pelo afinco deles com o trabalho acumulado, no entanto, vendo melhor, noto ser por causa do tédio. Um tédio em escalas absurdas. Os mesmos homens que me capturaram parecem se sentir aliviados - talvez até eufóricos - por finalmente terem uma tarefa.