Filipe aperta um botão em algum lugar da parede, e essa se move tal como se fosse um portão de duas portas. O ruído das paredes arrastando no chão soma-se ao som de uma canção baixa, que aos poucos tem seu volume aumentado. É rock.
Um homem de terno branco surge, com uma bandeja repleta de aperitivos no palito. Franzo o cenho para ele, imaginando quem seja, mas antes que eu possa me concentrar na tarefa, Fogo me arranca de onde estou e me conduz até outro lugar. Enquanto isso, Filipe aperta outro botão e uma luz negra é acesa, deixando tudo mais escuro a ponto de não ser possível distinguir os objetos da sala claramente. Fogo e eu atravessamos uma sala e damos em um sanitário.
Antes que ela me explique porque me trouxe aqui, Bruce adentra no banheiro. Ele me olha com surpresa.
- Você está péssimo. - ele afirma não com desdém, mas com certo interesse, como se quisesse se voluntariar para me limpar e cuidar de mim. - Devia comer algo, sua cara não está boa.
Fogo me solta e vai em direção ao outro lado do lavabo. Me viro para o garoto.
- A sua está ótima. - comento.
- Notou? - ele diz, amaciando a pele do rosto. - É um hidratante e esfoliante muito bom.
- Hum... Legal. - respondo, na verdade sem saber o que dizer.
Olho para mim mesmo e percebo que estou horrível, até pior do que quando estava na neblina antes do último teste. Talvez um dia inteiro na câmara de cura consiga me fazer voltar a um estado físico considerável.
Fogo aparece de novo, sobre suas mãos uma muda de roupas novas. Bruce vai até a pia e começa a examinar o rosto.
- Tem chuveiros ali, se você quiser tomar um banho, e não se apresse, a festa vai até altas horas.
- Obrigado..., Rebeca.
Ela se arrepia ao ouvir o nome de verdade dela e fica vermelha como uma pimenta, saindo apressada em seguida. Digo a mim mesmo que tenho que me acostumar a chamá-la desse jeito - nas devidas horas, é lógico -, assim como todos os outros que chamava pelo codinome.
Bruce olha de esguelha para mim, me deixando constrangido. Talvez ele se sinta muito curioso em me ver tomando banho. Bem, para minha sorte, o compartimento do chuveiro tem portas. Apesar do aviso de Fogo sobre não me apressar, eu não demoro muito. Quando saio, Bruce ainda está ali, parecendo muito desapontado por me ver vestido, e não só de toalha. Quando ele sai, eu mesmo examino meu rosto no espelho, provando dos machucados resultantes do teste de infiltração. A sujeira foi lavada e algumas feridas melhoraram. Por outro lado, meus lábios estão cortados e sinto um leve gosto de sangue quando engulo a saliva. Eu pareço melhor e mais vivo, capaz de fazer outro teste de novo sem pestanejar. Eu acho. Apesar de não gostar nada de todas aquelas cicatrizes - que vão sumir quando eu usar novamente a câmara de cura -, noto o quão pareço selvagem, o que, por ora, não será tão ruim.
Pelo menos eu não tenho uma bala alojada no corpo.
Meu equilíbrio mental e físico quase se quebra quando entro na festa de novo. Um jogo de luz pesado faz alarde na sala, composto por globos de luz reluzentes, holofotes intensos e luzes estroboscóspicas e vibrantes, me permitindo ver os vultos de algumas pessoas a cada milésimo de segundo. Para meu alívio, a sala é enorme e alguns pontos não estão sendo tão afetados pela luz. O som está bem regulado e aos ouvidos é agradável, mas da mesma forma, me encaminho até o final da sala, onde Rebeca, Paola e Caleu estão.
Vejo as mesas de comida e me encanto.
- Comida. - murmuro, pasmo com o banquete, e começo a devorar as coisas.
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Máscara Negra - Impacto
Science FictionEm um 2028 catastrófico em que aconteceu uma guerra nuclear, a humanidade se dividiu entre aqueles que conseguiram se salvar isolados nas Células de Refúgio, protegidas pelas Muralhas, e os habitantes das zonas mortas, regiões afetadas pela batalha...