16 - saída

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É o segundo dia da semana até o teste, consoante Ceifeiro e o terceiro dia na sede do Clã Máscara Negra, segundo eu próprio. Desta vez, meu modo de acordar é bem diferente de ontem. Com o meu novo relógio de pulso, estou programado a despertar às sete e meia, e no momento em que isso acontece, levanto de um salto, disposto a iniciar o dia com vivacidade.

Hoje é sexta, e o teste acontecerá na quarta-feira da semana que vem, segundo minha contagem. Já digeri que não vou me encontrar dentro de meu quarto durante um bom tempo e sim dentro de uma sede de assassinos. Ainda não me acostumei com ar do complexo, ele é quase pior que o de uma prisão, pois pelo menos numa cadeia, eu poderia ver o sol quadrado. Aqui, por outro lado, o sol nem existe. Na verdade, nem me lembro da última vez que vi o sol, a lua ou o céu em si.

Deve ser comum eu não digerir que é o segundo dia, mas ainda assim é embaraçoso.

Fogo dessa vez acorda comigo. Depois de me ver animoso, ela também se contagia. Ansiosa pelo cardápio, a garota me faz companhia até o refeitório, onde ela e eu nos juntamos à mesa para tomar café com Relâmpago e a punk, quase como uma família. Uma família de órfãos problemáticos. Relâmpago continua tagarelando feliz, e falando comigo naturalmente, como se eu nunca tivesse dito nada de inconveniente a ele antes. A garota gótica vai de totalmente silenciosa a taciturna, o que eu considero um avanço, apesar de ela só parar para dizer coisas ofensivas. Nenhum dos meus treinadores está presente, e, não sei por que, me preocupo com isso.

Alguém fez uma torta deliciosa e aquilo muda o clima. Fogo me impele a dizer a ela o que acontecera no treino com Ceifeiro ontem, e os outros (até mesmo a punk) ficam curiosos e me pressionam. Nem hesito. Conto-lhes tudo então, porque não acho que deva ser um assunto sigiloso. Conto sobre como o líder do Máscara Negra descobriu que eu já tinha lutado antes, a forma que ele desferiu os golpes que quase me nocautearam, sobre a cratera que ele fez em sua própria sala e a revelação do poder da máscara.

Para minha surpresa, todos não encaram aquilo como algo que acontece toda vez.

- Cara... - Relâmpago diz, boquiaberto.

- Na minha vez, desmaiei com o primeiro... - Fogo conta.

- Ele abriu mesmo uma cratera na sala? - Relâmpago interrompe, admirado. - Velho, isso deve ser inédito.

A punk concorda com a cabeça, neutra, sem tomar partido, no entanto dá para ver que ela se sentiu intrigada da mesma maneira.

- Como inédito? - indago. - Isso nunca aconteceu com vocês? Nada parecido?

Os três meneiam a cabeça.

- Ceifeiro deve achar você especial. - a punk diz, quase parecendo gente. - E Ceifeiro quase sempre tem razão.

Semicerro os olhos para ela. O "quase" mantém o sarcasmo habitual. Ainda assim, me parece que ela está voltando atrás com seus preconceitos sobre mim, mas não totalmente. Isso se sua colocação for uma indireta. Talvez ela só esteja chocada.

Como eu. E como os demais. Não pode ser que Ceifeiro tenha dado aquele show sem explicação nenhuma. Sim, ele é misterioso, com capacidade de dedução inacreditável, poder e habilidade insondáveis, força intensa, mas encará-lo como um sábio é uma nova para mim. Sei que ele é inteligente e formal sim, mas uma pessoa que tem razão em tudo é uma afirmação arriscada. Ele é tudo isso mesmo?

Ele descobriu a máscara, então é claro que sim, uma voz soa dentro de mim. Ele deve ser um cientista renomado, ou um psicólogo renomado, professor, filósofo, são tantas hipóteses.

O que ele viu em mim?

- Mas e sobre a máscara? - pergunto tentando mudar o curso do papo. - Ele não deve ter dito tudo, não é? Como ela funciona, afinal? Que ciência é essa? O que acontece? - declaro as dúvidas que existem dentro de mim. E de repente me lembro de algo. - Fogo, se o poder vem da máscara, como expeliu fogo sem ela ontem?

Máscara Negra - ImpactoOnde histórias criam vida. Descubra agora