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Há um turbilhão de imagens em minha cabeça, e cada uma passa tão rápido quanto os vagões de um metrô, de modo que não consigo distinguir os vultos com clareza. Inalo o cheiro estranho de pano queimado e não compreendo nada. Cerro os olhos, temendo aquela irrealidade, e quando os abro, viso uma luz amorfa em minha frente.

Meu pescoço e costas doem. A letargia é fatal e, em todos os aspectos, me atinge, um veneno em minhas veias. Mexo os olhos e demora muito para que minha visão desembace. As imagens estão embaraçadas e tudo parece um furacão de confusão. Sinto uma comichão passando por meu corpo e logo depois, sinto minhas mãos se inflamando. Meu corpo está mais fraco e indisposto que o esperado, mas mesmo assim começo a ofegar quando percebo não conseguir separar minhas duas mãos e meus dois pés. Observo a luz sem forma acima de mim se transfigurar em uma lâmpada e concluo que estou estirado no chão frio.

De repente é possível ouvir vozes embargadas e um barulho aprazível de água não muito distante daqui.

Começo a tremer à medida que a situação finalmente se torna mais exata na minha cabeça.

Desde que me entendo por gente, eu nunca aprendi a nadar, e é só ver um rio, lago ou mar que minha mente começa a pirar, fazendo as coisas girarem vertiginosamente. Um dia, acidentalmente, eu fui parar dentro de uma piscina, e me recordo como se fosse ontem qual e como foi minha reação. No maior delíquio do mundo, me desesperei, sentindo o mundo virar um arco-íris problemático e agitado. Minha tensão nunca tinha sido maior e quando eu já tinha certeza que ia morrer, eu consegui chegar à superfície finalmente, após debater-me loucamente por vários minutos. Todavia a sensação foi pior do que estar dentro d'água. O mundo real me cegou e eu respirei tão forte que engasguei. Experimentei meu corpo todo entrando em choque por causa da água dentro dele e minha cabeça parecia um coco de tão oca que estava. Meus olhos me pregaram uma peça e, quando me dei por conta, já havia desmaiado de tanto enjoo.

Minha sensação agora não é tão diferente. Sinto-me zonzo e começo a respirar tão forte e rápido que meus pulmões quase entram em síncope. A boca e o nariz não fazem seus trabalhos direito e eu impulsivamente me jogo para o lado com toda aquela pressão, o que só piora a situação.

Vejo uma menina ruiva sendo arrastada para uma parede por um homem, ambos borrados. Ela está inconsciente e com a pele pálida e maltratada por trás de uma camisa ensaguentada. Mais outros homens estão por ali, dispersos, vigiando. Um deles está vestindo um jaleco manchado de vermelho e parece estar higienizando as mãos. Parecem estar comentando algo nojento sobre decidir ou não estuprar uma menina que parece menstruada.

Desconcertado, olho para mim mesmo para ter mais entendimento da situação. Tudo que tinha insistido em ficar embaçado, se torna conspícuo. Apavorado, reparo que meus pés e mãos estão amarrados com algo que suponho ser fios de cobre, que arranham a pele de meus pulsos e tornozelos de maneira incômoda quando tento mexer os membros. Não estou amordaçado, mas quando eu vistorio com os olhos o local em que estou, compreendo que qualquer grito que eu der será inaudível para as pessoas que estiverem fora daqui.

Enquanto isso, o barulho de água fica mais forte, se nivelando ao sonido de uma leve correnteza. Reviro meus olhos loucamente, sentindo a adrenalina me fazendo patear à histeria. Tudo é real.

A menina é Fogo, a assassina do Clã Máscara Negra, a qual salvei há pouco. Já os homens não reconheço. Só me lembro de estar no metrô com Fogo, procurando a entrada da sede do CMN, mas depois disso, não sei de mais nada. O que houve? Onde estamos?

Uma hipótese perpassa por minha cabeça. Estávamos no metrô. Aí o cheiro, o cheiro de pano queimado. Alguém deve ter coberto nossos rostos com panos, mas Fogo conseguiu reduzi-los a cinzas com seu poder. Ela deve ter lutado enquanto um dos homens me golpeou e me nocauteou, mas não conseguiu fazer muita coisa devido a seus ferimentos.

Máscara Negra - ImpactoOnde histórias criam vida. Descubra agora