32 - descarga

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Filipe começa a me cutucar com força, me irritando sobremaneira, e reparo que já não estou mais sonhando. Sinto que estou vestido com uma camiseta branca de algodão e uma calça moletom bem confortável. Por outro lado, me perturbo quando abro de leve os olhos e assinalo que as imagens demoram a ficar nítidas; mesmo que eu tente, não consigo afastar os pontinhos pretos e riscos imaginários que a minha retina reproduz. As coisas vibram e dobram, de modo que vejo dois ou mais de cada objeto. O efeito ameaça me fazer mal e por isso acabo fechando os olhos de novo, preferindo ver o vermelho das minhas pálpebras àquela visão conturbada.

- Acorda.

- Não enche, Filipe. - murmuro, aborrecido.

- Cara, você não presta mesmo...

A voz dele está embargada. E ele parece preocupado.

Ignoro seu comentário, imaginando o que vai ocorrer comigo depois de continuar adiando o que vem a seguir. Mas dessa vez, nem consigo mais dormir, pois o mundo desaba em mim com tudo; um peso incrível cai sobre meu crânio e faz a minha tentativa de ingerir as informações ser um desafio. Graças a Deus estou na sede e longe do sufoco anterior, mas o caos ainda é evidente, como se na realidade nada houvesse terminado. Ainda assisto involuntariamente as cenas da delegacia e por mais que eu insista em afastá-las e pensar em outra coisa, isso só piora tudo. Fico dividido e em conflito entre ficar aqui e continuar tentando fugir da vida real e encarar os fatos e o saldo da histeria.

Estou seguro, mas ainda tenho medo, como se eu fosse demasiado frágil.

Alguma coisa está errada, eu sei. A mente parece obsoleta. Eu estou acordado e consciente, tecnicamente são, mas tem algo esquisito. Aos poucos, vou retornando, mesmo inconscientemente não querendo.

Não tenho muita certeza do que acontecera. Depois de sufocar o agente Fatel, alguma fantasia intensa me consumira inteiramente. É como se alguém tivesse apagado o período e o substituído por um furacão obscuro. Melhor: o que parece é que meu cérebro fora trocado por uma pedra oca; resguardado naquele estado deplorável, senti como se meus membros não pudessem mais reagir ao meu sistema nervoso, como se por fim meus sistemas e por conseguinte meu organismo todo tivessem sincopados.

Por um tênue instante, concluir isso me desespera.

Tento me dominar, mas uma reação em cadeia se inicia. Cada célula do meu corpo me maltrata e, então, assisto a mim mesmo entrar em convulsão, meus membros se agitando, meus sentidos pregando peças.

- Ei...! Erich?! ERICH! ERICH! DROGA! SOCORRO! AJUDEM AQUI...!

Uma massa se eletrizando por conta própria. O desespero toma conta de mim.

Insanidade.

Minutos depois, finalmente consigo me acalmar, ofegando forte. Avisto os rostos borrados e atônitos de Filipe, Rebeca, Paul e Safira com os olhos esbugalhados sobre mim. Arquejo com força, tentando explicar como tinha sofrido aquele pane. Minha memória retorna impetuosamente e pelo visto, a carga mental foi totalmente expulsa de mim, como uma energia nociva que me contaminara. Meio difícil explicar, mas finalmente aquele peso saíra, quase como se eu o tivesse expelido. Mas eu estou mal ainda, enjoado.

- O... O q-que houve? - pergunto com a voz rouca, aturdido. Não consigo me ouvir direito.

- Descarga. - Navalha responde, assustada, não para mim, mas para os outros. Ela foi vaga demais.

- C-como?

- Sua mente se desequilibrou por uma quantidade exagerada de poder descarregado. - ela explana melhor.

Meu poder... Nossa...

Tento me erguer na cama para enxergar melhor, mas eu estou paralisado. É difícil respirar, meu esterno parece não suportar o peso.

Máscara Negra - ImpactoOnde histórias criam vida. Descubra agora