15 - poder

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Me dirijo à Sala da Ceifa com muita insegurança a respeito da metodologia que Ceifeiro usará comigo. Não sei dizer qual é o meu temperamento e como minhas qualidades e defeitos podem implicar na forma que me tornarei um assassino.

Que medo.

Talvez todos aqui tenham se tornado membros do CMN por uma característica em comum, por algum tipo de nobreza específica. E não sei se tenho algo parecido com algum outro mascarado que vi até agora. Não tenho a frieza do garoto de cabelo branco, a resolução de Balístico, a destreza de Navalha, o carisma de Relâmpago, a coragem de Fogo. Não sou alguém relativamente especial. Seja lá o que Ceifeiro viu em mim para me considerar digno, eu mesmo não tenho conhecimento sobre tal.

Muitas dúvidas.

Permaneço defronte à porta da sala e aguardo o chamado de Ceifeiro. Apesar de já ter ouvido sua voz antes, ela não deixou de possuir menos impetuosidade. Entro na sala em forma de cúpula e tenho um calafrio; o ar está mais úmido e poeirento que todo o resto do complexo, como se a temperatura tivesse diminuído uns três graus abruptamente. Encontro Ceifeiro no mesmo lugar que antes, o que me traz a inusitada impressão de que ele nunca saíra de sua posição desde que o vi até então. E a ideia é reforçada pelo fato dele usar a mesma indumentária.

- Saudações, Erich. - Ceifeiro recita de uma forma enigmática, como já é de praxe.

Não sei o que dizer, então eu só peço licença e me aproximo.

- Imagino que não tenha sido fácil se adaptar às dependências.

- Verdade. - murmuro.

Ceifeiro levanta a cabeça muito lentamente, igual a um autômato.

- É bem comum se ter dúvidas sobre o novo, Erich, mas não se preocupe, suas questões serão resolvidas no devido tempo, em breve, eu espero.

Olho na direção dele com os olhos semicerrados e a testa franzida. Parece que ele leu meus pensamentos, não como Relâmpago há um tempo atrás, mas de verdade mesmo.

- Ah, tudo bem...

- Vamos iniciar o nosso treino. - ele me corta, e de repente sua expressão corporal sombria e dissimulada muda para uma mortífera quando ele cerra os punhos e dá um passo à frente. Em seguida, ele leva a mão direita à face e a apoia sobre o queixo.

É só um treino, penso.

- Humph. - ele solta e então dá de ombros de repente. - Pode ser...

Mais uma para os grandes mistérios de Ceifeiro: ele parecia estar falando sozinho, e pior, sobre mim. Um formigamento cruza meus nervos, qual conclusão ele deve ter tirado de mim? Espero que não seja apenas por minha aparência, porque já experimentei esses estigmas antes.

- Não entendi. - refuto.

- Dezoito anos. - Ceifeiro diz repentinamente, me sobressaltando. Ele realiza uma caminhada vagarosa em meu sentido, fazendo uma ligeira curva à direita. Depois, se retendo a ficar a uns três metros de distância, ele começa a me olhar por cima dos ombros, estudando-me meticulosamente. - Você tem o porte de um homem normal para sua idade. Está dentro do peso, um metro e setenta e cinco aproximadamente, alguns músculos bem desenvolvidos, postura adequada. Se tem alguma doença ou deformidade, não é notória. Além disso, já deve ter estudado algum tipo de luta antes, mas tem vivido uma vida sedentária.

Não consigo evitar ficar mais sobressaltado. Ceifeiro disse parte de mim em tão poucos segundos que pareceu adivinhação. A saber eu já aprendi uma arte marcial alguma vez na vida, quando eu era criança, por causa de meu pai, porém eu nunca cheguei a concluir a graduação. Mais ou menos isso.

Máscara Negra - ImpactoOnde histórias criam vida. Descubra agora