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- Argh! - grito de espanto e de dor, pois ela é real, como no teste de resistência. E o sangue também.

Recuo rapidamente, amedrontado, meus pés desordenados. Me lembro das vezes que meu pai me batia quando era criança. Mesmo sendo policial, ele nunca fora tão cruel. Talvez seja sua verdadeira natureza.

Tiro a faca com um puxão e a jogo no meu lado, minha mão agora tingida de vermelho. O chão é branco, e o sangue seco na lâmina da faca faz um efeito perturbador. Continuo andando para trás, e meu pai continua indo atrás de mim.

- Você é um assassino agora, Erich. - ele diz, com aquela familiar voz impotente que usava no trabalho. Não sou seu filho, sou seu inimigo. - Agora sua punição será mais severa.

Me lembro do tiro que me dera no teste de resistência, e meu estômago embrulha. Ele faria algo assim de verdade? Meu pai sabia ser severo quando devia.

- Não, pai. - digo, choramingando. - Me desculpe.

- Você merece, Erich. - ele diz, com a voz amplificada, ecoando.

Tropeço nos meus pés e caio. Ele se aproxima e me pega pelo colarinho da camisa, me empurrando contra uma parede que nunca imaginei estar ali. Impotente, desarmado, culpado, tento puxar sua mão segurando seu antebraço com minhas duas mãos, mas é inútil. Ele me eleva do chão e depois me dá um soco.

- Pai, não...

Mais um soco. Forte, violento, atordoador, sem pudor. Mais um.

- Você... sabe.... que... merece.

Ele me joga no chão. Quando meu dorso encontra o solo, de forma inesperada, ele quebra como se fosse de vidro, me fazendo cair uns cinco metros abaixo num pavimento duro, também branco. Bato com um baque no chão cheio de cacos do antigo chão, agora teto. Perco o ar e quando o recupero, ponho para fora pela boca uma quantidade absurda de sangue. Agonizo no chão, tudo doendo, principalmente as costas. Tento me mover, mas meu pai desce a altura até mim pulando, me imobiliza e logo mais uma onda de murros na face. Não consigo pensar, nem tento fazer nada, somente recebo e os golpes e tento aguentá-los. Penso que ele irá me espancar até a morte, mas sou solto antes disso.

Ele se levanta e sacode as mãos, vermelhas e com pingos de sangue. Sangue meu. Parece admirar o feito. Meu rosto arde e sinto-me todo doído até os ossos. Os olhos não conseguem se abrir totalmente, e quando me debruço no chão, vejo do meu nariz e boca o sangue saindo e encharcando o chão. Rastejo. Rastejo para longe dele. Como era seu nome?

Um pai não faria isso. Ou faria?

No momento em que ele se aproxima de mim e me ergue abruptamente do chão pelo braço, me arrastando daqui para outro lugar, noto algo peculiar no rosto dele. Tento me inclinar mais, e aos poucos tudo se torna mais nítido.

Não é ele. Não é meu pai.

Sou eu.

- I...

Ele não responde. Há algo curioso nele. Por que ele... Não há muita discrepância entre o rosto dele e o do meu pai. Por que eu pareço tanto com ele? Descubro odiar a genética. Será que tenho o mesmo destino? Lutar uma por uma causa, e depois morrer, deixando apenas um legado idiota para quem sobreviver?

Não quero isso.

Há um abismo no chão, um grande buraco proeminente tendo fim em um piso sólido.

- Quando você morrer aqui, sua parte pura ficará, ou seja, eu ficarei. O que sobra sou eu, a parte intrínseca do ser humano, afinal, vocês todos são maus por natureza.

Eu penso no que Ceifeiro falou para mim nos primeiros dias do meu treinamento e isso me dá força.

- Mas nós... estamos tentando ser... melhores. A maioria de nós... não aceita... essa maldade.

Máscara Negra - ImpactoOnde histórias criam vida. Descubra agora