17 - objetivo

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Eu penso que sou capaz de me testar agora, mas tenho a impressão de que isso é a pior besteira que posso pensar.

Continuo observando a sacada do prédio vizinho até que alguma coisa corta o vento do meu lado violentamente, me assustando. Com perplexidade, sigo com os olhos um Ceifeiro saltando sobre o vão do prédio em direção ao local que eu estava olhando, se segurando com firmeza na barra do outro edifício e subindo agilmente, parecendo não o líder do Clã Máscara Negra, mas sim um adolescente rebelde e habilidoso fugindo da polícia.

Acho que era melhor não ter observado a distância até o chão. Agora estou aterrorizado.

Não sei o que me deixa mais perplexo: o fato de ter visto Ceifeiro pular de um prédio como se não fosse nenhum contratempo, ou o fato de que eu próprio tenho que pular para testar minha agilidade.

Droga, ser um assassino implica saber fazer parkour?

Aquele momento de inquietude que sentimos quando temos que fazer uma coisa arriscada ou constrangedora vem à tona. Sinto um frio na barriga a ponto de doer, e minhas vísceras parecem estar se entrelaçando. Começo a me sentir tonto, mas ainda assim mantenho a firmeza de meus pés. Com os braços junto ao corpo, amedrontado, olho para a distância que Ceifeiro pulou e me desespero ao não conseguir mensurá-la. Tremo. Eu preciso ir, mas eu posso morrer... Droga! Preciso me arriscar e não posso deixar as circunstâncias enervarem minha trajetória, minha disposição. Ser parte do Máscara Negra é mais que um risco, e saltar de um prédio a outro é só mais um... teste.

Eu não vou morrer aqui; seria ridículo.

A probabilidade iminente de morte nunca ocorrera comigo durante os treinamentos com Navalha e Balístico, ou mesmo com Ceifeiro, mas agora isso está explícito nesse contexto atual. Apesar de eu já ter tipo a experiência de quase-morte mais de uma vez, não é possível não sentir o terror do momento. Mesmo que eu tivesse provado isso incontáveis vezes, nunca me acostumaria.

- Vamos. - murmuro a mim mesmo, nervoso. E então avanço um pouco. Hesito várias vezes, pouco convicto, mas uma última coisa me impulsiona: o outro prédio é até mais baixo que o primeiro. Antes que outro fator possa fazer o favor de me desmotivar, eu tomo ousadia, fôlego, recuo uma distância, corro e, por conseguinte, salto.

Se eu fosse uma pessoa normal...

Salto mais alto que o esperado, cortando o vento furiosamente, e sentindo a pressão debaixo dos pés quando eles se chocam no piso do outro prédio, desabando e rolando até bater em algo.

Meu corpo está dormente e meus pés estão queimando, mas pelo visto não desloquei o tornozelo na descida. Enfim me ergo. A adrenalina sobe à cabeça. Talvez a antiga prática de artes marciais tenha me adaptado a certas pressões, mas ainda assim é difícil não se sentir aflito aqui em cima. Minhas pernas tremulam como se estivessem dando curto.

O prédio a seguir é bem mais extenso e há algumas peculiaridades - caixas de ar condicionado, antenas etc. - atrapalhando o caminho, a maior parte pequena, mas dificultando a passagem com certeza. Vejo Ceifeiro muito distante saltando os empecilhos ligeiramente. Eu já tomei o primeiro passo, agora é só continuar no compasso. Talvez por conta do treino com Navalha ou até por causa da câmara de cura e seus efeitos, sinto que posso fazer isso, sinto que posso ultrapassar esses contratempos. É provável que seja apenas a adrenalina movendo meu corpo e meus músculos, portanto deixo-me ser conduzido pela emoção. Corro e observo Ceifeiro disparar, ainda mais rápido que eu. Tropeço em algumas coisas por tentar acompanhar Ceifeiro com o olhar, mas prossigo com desejo. Concluo que o edifício à nossa frente é o nosso ponto de chegada, pois ele é mais alto do que esse que estamos agora. Diminuo a velocidade.

Máscara Negra - ImpactoOnde histórias criam vida. Descubra agora