37 - origem

17 0 0
                                    

Os olhares dos três pairam sobre mim.

- Isso é um filme? - Filipe diz, tentando soar cômico apesar dos apesares. - Geralmente só se diz isso em fil...

- Você...? - Rebeca interrompe.

Quase fico confuso também quando tento me por lugar dos outros, alheios a tudo que houve, completamente indiferentes aos fatos que em breve contarei. Obviamente há uma grande explicação vindo a seguir. Sei que devo contar a eles, porque é algo profundamente relevante para o grupo, sobre o meu poder, no entanto nem sei por onde começar.

- Sim, está tudo bem. Minha mente, meu cérebro... está ok. - ponho para fora sem pensar. Obviamente eles se espantam com a declaração. - Depois explico a vocês.

É estranho pensar como se tivesse sido um fenômeno apenas neurológico. Da mesma forma, também é mais estranho eu concluir a parte irreal disso. Dá para entender porque não se tem acesso ao que presenciei, ao inconsciente por assim dizer, no tocante ao mais factível possível. E quanto mais tempo passo aqui, tudo parece ficar cada vez mais turvo, tal como um sonho. Aquilo de fato foi uma experiência, mesmo que superficial, dentro do meu inconsciente?

Existe aquela certeza que sim, a mesma de um sonho, incrivelmente sutil, quase insuficiente.

- Nós deixamos Paola aqui porque era a vez dela de olhar você. - Safira fala. - Só para olhar. Desde que você apagou definitivamente, ela não conseguiu entrar na sua mente.

- Ela não pode. - digo, mais para mim do que para os demais. Ainda estou procurando compreender.

- Como é? - Filipe indaga.

- Paola tentou entrar em minha mente, mas eu a expulsei. Ela não conseguiu me manipular... Então o armário... Foi um acidente, mas ela está bem, vocês viram.

Todos ficam sobressaltados com a confissão, provavelmente matutando as possibilidades e tentando juntar as partes. Eu sei que é verdade, mas não sei bem como se sucedeu.

Demora um pouco, mas todos se aquietam, o que é bom para mim. Navalha parecia um tanto hostil.

- Talvez seja uma defesa psíquica. - Safira afirma. - Você pode ter a habilidade se proteger contra poderes psíquicos.

Ficamos em silêncio e aproveitamos o efeito que a frase traz.

- Genial! - Filipe completa.

- É. - digo, não com surpresa ou alegria, mas com receio, receio das dimensões dessa habilidade. - Eu ainda estou confuso... Ela meio que desmaiou ao tentar fazer isso quando eu já estava acordado. Eu... não entendo.

As imagens da Paola alterada persistem em minha mente enquanto falo. Eu realmente não sei o que poderia ocorrer se eu tentasse explicar essa parte da história agora.

- Por que ela tentaria entrar na sua mente enquanto você estava consciente? - Safira indaga. E com isso, reparo no furo da minha fala, o que me deixa cada vez mais ansioso.

- Ah... - e alguma coisa me poupa de dar uma explicação, uma tontura repentina que quase me faz cair de volta no chão, não fosse Rebeca, que me acode antes. - Droga.

Fecho os olhos e começo a me sentir catatônico. Quando os abro de novo, Safira está checando meu pulso e minha temperatura. Estou suando frio e não consigo pensar em muita coisa.

- Sua pressão baixou. - ela comunica. E rapidamente pega um pouco de sal no armário e me pede para colocar embaixo da língua enquanto me senta em uma cadeira. - Alguém pegue água.

Eu tenho que ficar quieto pelo menos durante um minuto até estar um pouco melhor, mas a ansiedade não sai de mim. Suspiro mais uma vez, meu interior tentando pôr em ordem e não deixar nada escapar à linha tênue de estabilidade. Uma coisa de cada vez, cada coisa em seu lugar. Pareço ter deixado um pandemônio atrás de mim, uma casa bem desarrumada à minha espera. Por um instante, usar essa analogia até melhora a ocasião. Pelo menos cada parte se completa. Deve... se completar.

Máscara Negra - ImpactoOnde histórias criam vida. Descubra agora