Percebo que estou numa espécie de corredor de largura pequena, sem nenhum adereço sequer ao redor, só um papel de parede meio rústico. Existe uma porta à minha frente, uma à minha direita e outra na minha esquerda, perto de onde o corredor faz uma curva para o lado direito. Me sinto perdido e confuso, devaneando, curioso, sobre aonde vai dar as outras portas, mas inseguro e ansioso. Meneio a cabeça e entro na porta à minha dianteira, conforme Fogo me pediu.
Estou novamente na sala xadrez dos quadros, o que me deixa um tanto quanto desnorteado. A sala continua da mesma forma, intacta, o que é um alívio, apesar de tudo. Mas tenho a ligeira impressão de que os quadros mudaram de posição. As luzes agora estão azuladas, iluminando fracamente. O silêncio que paira é atordoador.
Eu tento me lembrar onde estaria se não tivesse parado aqui, mas não consigo. Meus pensamentos desordenados não conseguem raciocinar direito, então eu me deixo levar.
Dou uns passos à frente antes de sentir algo estranho à volta. Um tremor suave começa a invadir meu corpo e em seguida, silenciosamente, tenho a mesma impressão de antes, a de algo se mexendo além de mim, só que com muito mais clareza. Sinto um impulso que me leva para trás subitamente, como um carro saindo de um estado de repouso. Me seguro na poltrona e começo a tontear, meus órgãos reagindo de maneira inusitada. Há um silêncio mortal, mas com certeza a sala não está na sua normalidade, é como se o cômodo estivesse... se movendo. Será possível? E então, mais uma vez de chofre, tal como o impulso para trás, dou um solavanco para frente de leve. E então mais nada, como se o cômodo tivesse freado dessa vez...
Ainda em estado de evidente estupefação, tento achar alguma explicação para o ocorrido. A sala pode estar de fato movendo, mas que tipo de engenharia seria capaz de construir uma sala que se move para as laterais, e com que finalidade? Me recordo da sala que se trocara de lugar. Até que faz sentido, mas porque não senti essa comichão quando a sala se moveu para dar lugar ao novo cômodo?
Eu não estava de pé e era um movimento suave demais para que eu pudesse sentir sentado, creio eu.
Cara, se for verdade, é mais uma construção genial. Quem será o célebre inventor dessas coisas?
Decido não tentar explicar o que houve na sala e calmo, viro à esquerda e me encaminho, mancando, para um quadro de frente à poltrona, com o tamanho suficiente para passar um corpo. Só pode ser isso, mas ainda preciso passar pela suposta "porta". Coço a cabeça, confuso. E então, decido tentar fazer o que vi Fogo fazer no seu quarto. Levanto meu dedo para o retrato e toco-o de manso. E então, o quadro balança para trás, do mesmo jeito que o portal para entrar no Clã Máscara Negra. É uma porta escondida. Logo a empurro para abrir passagem.
Tomara que ao menos o mapa da sede seja um pouco unilateral.
Cruzo o quadro sorrateiramente, vendo que estou num pequeno corredor azul que só dá em uma porta de ferro estranha e sem maçaneta. Tem um botão ao lado dela, como o de um elevador, e eu o aperto.
Ambas as partes direita e esquerda da porta se movem para os lados e eu dou de cara com um cubículo meio escuro com tamanho o suficiente para caber umas dez pessoas. Ali me deparo com um espelho transparente colado à parede sem razão notória. Uma lâmpada verde neon acende quando entro, mas ela dá pouca vivacidade ao lugar. Eu encaro meu reflexo pouco nítido pelo espelho e noto certos pontos em destaque ali. Botões. Todos têm um símbolo diferente e para completar, o tal painel não possui uma sequência direta, de forma que não consigo decifrar o que pode ser. Há oito botões ali e os símbolos são informações tão básicas que fico em dúvida. O que fazer? Ele não gosta de pessoas que se atrasam, involuntariamente o aviso de Fogo me vem à cabeça, e isso não me acalma, só me deixa mais agitado. Hesito em apertar o único botão que parece ter um símbolo relevante. Uma seta pra cima. Se é o último andar, deve ser uma pista.
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Máscara Negra - Impacto
Science FictionEm um 2028 catastrófico em que aconteceu uma guerra nuclear, a humanidade se dividiu entre aqueles que conseguiram se salvar isolados nas Células de Refúgio, protegidas pelas Muralhas, e os habitantes das zonas mortas, regiões afetadas pela batalha...