Deve ser umas seis horas da manhã, pois o céu está acinzentado, com poucos traços azuis e laranjas estampados como numa pintura. Minha mente não consegue processar bem onde estou, como vim parar aqui e onde estive antes.
Eu me concentro. Sou Erich, estou na etapa de infiltração de um teste, fui drogado, preciso sobreviver, isto é, eu posso morrer.
Acho que é suficiente.
Estou sentado em um beco escuro e sujo, como se tivesse sido jogado ali. Algumas partes das paredes tijoladas estão infestadas de lodo e a umidade permeia o local. Não estou mais com a dor causada pela faca — na verdade nem há ferimento —, mas ainda me sinto um pouco zonzo devido ao dopamento.
Alerta. Melhor esquecer a questão de onde estou.
A primeira coisa que faço é revistar os bolsos, mas encontro apenas um canivete. Ao redor parece só haver lixo mas, mesmo assim, eu continuo a espreitar a fim de encontrar algum item útil. Ainda não sei por onde devo começar. Estou meio tonto. Finalmente me ergo do chão e no mesmo instante, um zumbido de interferência alcança meus ouvidos, me dando um ligeiro susto.
— Shh... — o zumbido continua, mas então percebo o minúsculo comunicador chiando em minha orelha, o que me faz ter um susto ainda maior. — Erich, tá aí?
— Balístico? — digo, quase incrédulo. — É você?
— Positivo. Erich, vou te dar algumas instruções básicas por enquanto. O ponto de infiltração é o último prédio da rua. Por enquanto você só vai contar com esse canivete, mas tem uma arma aí perto de você e outros itens fundamentais. — ele diz, enquanto tento discernir suas palavras. — Mas tenha cuidado, haverá obstáculos. Seja discreto. Isso é tudo.
— Espera! — interrompo, mas ele já se foi com um último ruído de estática.
Se fosse uma missão real, essa seria uma missão bem difícil, mas nenhum dos meus instrutores tentaria facilitar pra mim. As informações que eu preciso por ora são essas que me foram dadas. Meu único dever é maneja-las. Ainda há muitas dúvidas na minha cabeça, como por exemplo que lugar é esse ou o que vou enfrentar, mas sei que é um teste e que tenho que decifrá-lo sozinho. Se tenho que usar uma arma, significa que haverá adversários, pessoas a serem feridas, contudo não tenho certeza. É melhor ter foco em proteger-me por ora.
O princípio da infiltração é justamente a discrição. Há cinco partes básicas: reconhecimento, planejamento, infiltração, coleta e extração. Provavelmente a custo de alguma coisa essencial, eu terei que cumprir apenas as três primeiras partes, já que Balístico só me deu essa informação, e ele não a daria incompleta. Isso se deve ao fato de que eu devo alcançar um local específico e depois disso estarei na última fase do teste.
Tendo isso em mente, concluo que o primeiro passo é reunir os mantimentos.
Onde está a arma?
O medo toma conta de mim novamente, como uma sombra maligna e frienta. Respiro aquele ar gélido incomum, me apertando em um casaco de couro o qual me foi concedido generosamente para essa etapa, matutando onde eu poderia estar.
Tenho que continuar. Sobreviva, uma vozinha rouca e familiar sussurra em meu inconsciente, a mesma que me convenceu a prosseguir em frente durante o tempo em que passei aqui. Me lembro que posso morrer a qualquer momento, sob muitas circunstâncias.
O lodo começa a cheirar mal. A escada que deveria levar até os outros andares do prédio à minha frente está quebrada. Em todo o beco, só consigo enxergar duas saídas: continuar e avançar pela rua, que deve ser perigoso, e uma porta lateral na metade do beco, ao lado de um latão de lixo. Ambas as formas me dão medo, porque não sei com o que vou me deparar nelas. Continuo buscando o indício de algum brilho metálico, com esperanças, mas sei que isso não significa nada, afinal, uma arma não poderia estar jogada por aí, a esmo. Avanço sorrateiramente pelo beco, com o olhar fixo no movimento da rua, pálida e sem vida. O clima frio parece deixar a situação ainda mais aterrorizante e fantasmagórica.
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Máscara Negra - Impacto
Science FictionEm um 2028 catastrófico em que aconteceu uma guerra nuclear, a humanidade se dividiu entre aqueles que conseguiram se salvar isolados nas Células de Refúgio, protegidas pelas Muralhas, e os habitantes das zonas mortas, regiões afetadas pela batalha...