24 - resistência

21 1 0
                                    

A sensação de debilidade fatal me alcança antes que eu abra os meus olhos. Toda a região do meu septo arde como algo tóxico. Minha cabeça toda parece dolorida, por dentro aparentando derreter.

É a pior coisa que já senti. Só consigo pensar naquele sofrimento.

Meus olhos se fecham e sou violentamente puxado para baixo. Ou foi um desmaio? Ao acordar, não é mais na névoa que estou e sim deitado em uma grama verde e úmida e molhada. Não vejo muita coisa além disso por enquanto. A dor passou, mas ainda parece entorpecer meu corpo como se todo pedaço de pele dele tivesse sido espetado por injeções há cinco segundos atrás. É menos pior que antes, mas ainda é horrível. Meus sentidos vão voltando gradualmente ao normal e sinto que estou começando a entrar em pânico, mesmo que meu corpo não reaja apropriadamente. Como se através de camadas, surge o som de gritos ecoando dentro e fora da minha cabeça. Depois tiros. E então algo suga meu ar por completo e deixa ser possível escutar com mais clareza tudo. Abro a boca e engasgo com uma corrente ácida de ar. Com pavor, percebo que aquilo é o ar.

Que lugar é esse?

Quando me dou por consciente de fato, me sinto dentro do inferno. Um desespero explícito e completo, a forma mais horrorosa de terror e dor.

Tosquenejando, me descubro com um ensejo de ficar onde estou por uma eternidade devido a algum motivo desconhecido, até que uma voz de verdade surge dentro da minha cabeça e desponta a circular pelas vias do meu corpo de uma forma quase venenosa.

Em frente.

É uma voz cortante e potente, mas ainda assim fraca e instável, como um monstro buscando meios para se erguer.

Demoro mais tempo que o preciso para me erguer, e meus sentidos tornam definitivamente a ter contornos e forma, como se eu tivesse de fato acordado de um sono encantado. Pessoas correm, frenéticas, pela rua. Uma rua comum, bem parecida com um condomínio, com casas de vários tamanhos e formatos circuncidando a área. A calçada está irregular e em alguns pontos há apenas terra íngreme e nenhum pavimento. Também tem muito lixo. E as pessoas continuam correndo. Correndo e gritando.

Ouço um tiro e uma mulher com o rosto borrado cai na minha frente. Meu coração dá um solavanco. O terror finalmente toma conta de mim e expulsa aquela sensação de torpor. A adrenalina vem e eu assinalo o perigo ao meu redor.

Militares fuzilam a cada segundo as pessoas fugindo. Não muito longe dali, algumas minas começam a explodir, adicionando mais agressividade àquela carnificina visceral. O fogo vem e se alastra pela grama. Isso começou há pouco, mas já é fatal.

As pessoas sem rosto.

Quando olho para a grama novamente, ela foi pintada de vermelho. Ergo os olhos e observo fumaça começar a surgir em alguns lugares: casas foram incendiadas. A chacina continua, fantasiosa demais — a fantasia de um psicopata.

Isso... O teste... Mente. Isso está em minha mente? Nos porões, oculto?

E então, com surpresa e pavor, eu reconheço o lugar.

— Não pode ser.

Aqui é onde eu morei, há nove ou dez anos atrás, a cidade na hora do ataque, que depois se tornou uma zona morta. Aqui foi onde tudo começou...

Minha cabeça dói. Eu sempre procurei não fazer força para lembrar. E com o tempo, se tornou normal. Todavia agora eu estou aqui, não há como negar.

Preciso de fôlego.

O céu está rubro, jatos se mobilizam por ele com uma estupenda velocidade, e, em seguida, subitamente uma explosão me joga para longe.

Máscara Negra - ImpactoOnde histórias criam vida. Descubra agora